O primeiro passo para a nova vida do Impresso
Mudança de formato do Estadão marca o início de uma fase de reconquista de audiências pelos jornais de papel
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O Brasil, influenciado pela imprensa dos Estados Unidos, resistiu até onde pode pela manutenção do formato enorme (standard) para seus principais jornais impressos. Precisou a circulação cair até níveis impensáveis de não mais de 75 mil exemplares/dia (IVC-Junho/2021) para O Estado de S. Paulo decidir que era hora de fazer alguma coisa. Ainda na frente de O Globo (72 mil) e de Folha de S. Paulo (58 mil), o Estadão deu o passo mais previsível de seus 146 anos de história: desde o domingo 17 de Outubro de 2021 circula com um formato “compacto”, considerado Berliner pelo próprio jornal, mas com medidas semelhantes aos tabloides mais conhecidos.
A mudança era pedra cantada. Na Inglaterra, modelo de impressos de todo o mundo, tabloides e berliners conquistaram as principais marcas, como The Times e The Guardian, por exemplo. Standard já não é um formato comum. Na Itália a mesma coisa. Espanha? Igual, assim como Portugal. Na Argentina também. Enfim, não existem mais argumentos que defendam a manutenção do standard, exceto o costume e a falsa percepção de que o formato maior traduz confiança e seriedade. Pura bobagem.
Os impressos já tiveram páginas enormes, o dobro do tamanho dos jornalões brasileiros. Foi na Era Vitoriana, quando a coroa inglesa taxava os jornais pelo número de páginas. Para escapar do apetite do fisco, se produziam impensáveis e incômodas páginas gigantes. Depois, quando as rotativas viraram máquinas que todos podiam comprar, estipulou-se um padrão “standard” de largura da bobina: 60 polegadas. Por isso as páginas do formato standard têm o mesmo tamanho pelo mundo: 76,2cm, metade da bobina. Assim, em uma única rodada, passam duas páginas ao mesmo tempo.
A mudança do formato do impresso era pedra cantada (Créditos: Brian A Jackson/shutterstock)
Só que o hábito de leitura não pode ser determinado por um capricho industrial. O leitor foi-se tornando mais exigente. Queria ler no trem, no ônibus, na mesa do café. E para isso nada mais desagradável do que páginas enormes. Impressos menores apareceram e ganharam o público. Agora, para os tradicionais, é preciso correr atrás enquanto é tempo.
Os jornais compactos têm outras vantagens: não é preciso dividir o produto em tantos cadernos. Não faz sentido publicar enxutos suplementos de 4 ou 6 páginas, é quase um insulto ao leitor. O compacto oferece um corpo único, robusto, que prevê um ritmo único de leitura. E, com isso, se sepulta mais um dogma que os conservadores tentam impor: o de que um mesmo impresso é lido por vários membros da mesma família simultaneamente, um caderno para cada. Chega a ser ridículo pensar assim.
Os ganhos de um jornal compacto começam na economia de papel e tinta, mas continuam pela facilidade de leitura, pelo controle que se tem sobre a distribuição de conteúdos. A paginação continuada permite que um “suplemento” tenha número ímpar de páginas, por exemplo. O número de páginas, aliás, varia de acordo com a ocupação publicitária – e não deve ter uma quantidade fixa todos os dias.
Só que a redução de tamanho de um impresso costuma trazer um problema, provocado pelo medo, pela má gestão e pelo vício de aceitar condições absurdas dos anunciantes: a redução do valor dos anúncios. O cliente diz: “você está me dando um espaço menor, por isso vou pagar menos”. Isso é tão absurdo que quem aceitar esse argumento deveria ser expulso para sempre do mundo dos meios de comunicação. É a antiga lógica da venda de centímetros x coluna, quando o mundo já demonstrou que o que se vende é impacto de visualização. Ou por acaso a Coca-Cola paga menos por um spot de TV que chega em uma tela de 14 polegadas do que na casa de quem tem a tela de 50 polegadas?
O movimento trazido pelo Estadão é só o primeiro. Rapidamente os concorrentes Folha de S. Paulo e O Globo vão copiar o modelo, sem dúvidas. A publicidade já virá das agências no novo formato. Não vai demorar. O passo seguinte será diminuir a circulação em um dia na semana, como já fazem Zero Hora, O Popular e Correio*, por exemplo. A edição de sábado vale pelo fim de semana. E domingo não há jornais nas bancas. Depois, possivelmente, o caminho será diminuir o número de páginas de segundas a sextas. Talvez suprimir essas edições, manter apenas uma vez por semana. Mas aí já vai depender, é claro, da vontade do leitor. Não vale fazer previsões.
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