O que vamos comer em 2050?
Snacks de insetos ou de chicharro já estão no cardápio, mas a tendência é ser “climatoriano”, de acordo com a Anuga, maior feira de alimentos do mundo; a identidade visual acompanha o minimalismo da dieta
Snacks de insetos ou de chicharro já estão no cardápio, mas a tendência é ser “climatoriano”, de acordo com a Anuga, maior feira de alimentos do mundo; a identidade visual acompanha o minimalismo da dieta
19 de novembro de 2019 - 16h30
A cidade alemã de Colônia recebeu, na primeira quinzena de outubro, mais de 7,5 mil empresas de alimentos e bebidas, vindas de todo o mundo, que se reuniram na Anuga, a maior feira do setor, para fechar negócios, encontrar potenciais parceiros e entender melhor o comportamento mais básico do ser humano: comer.
É um desafio para um visitante cheio de curiosidade conseguir sobreviver a quatro dias repletos das mais exóticas experiências culinárias e gastronômicas. Apesar disso, a Anuga continua a ser uma boa bússola que nos ajuda a compreender para onde está caminhando a indústria alimentar.
O perfil dos participantes é extremamente diverso. O destaque, este ano, centrou-se nas startups e na inovação. É o caso da inglesa Eat Grub – Disgustingly Good, de Jordan Addison, que vende snacks “deliciosos de verdade!”, produzidos à base de insetos temperados, oriundos da Tailândia. Ou da Delichi, dos portugueses Ana e António, dois arrojados jovens estudantes de agronomia que tiveram a ideia de criar uma linha de snacks saudáveis à base de chicharro, um tipo de feijão português extremamente rico em fibras, proteínas e que necessita de pouca água para o seu cultivo. Os também portugueses da Boca Cola foram premiados na área de inovação, com a proposta de unir Coca-Cola e vinho, em um “duo harmônico, um contraste entre o novo e o antigo, um match capaz de despertar as paixões e os sentidos”, nas palavras dos criadores.
Mas, mais do que saber o que estamos comendo hoje, a grande pergunta é: o que vamos comer em 2050? A palavra sintetiza uma preocupação: climatoriano. O termo surgiu em 2015 e descreve a dieta daqueles que tentam reduzir o impacto ambiental e reverter as alterações climáticas. O climatoriano privilegia o consumo da carne de porco e de frango, ao invés da carne de boi. Consome produtos locais e sazonais, evita produtos congelados e proíbe completamente o desperdício.
A Anuga abriu espaço também para os tradicionais modismos, como os inúmeros food trucks vegans, com atendentes ornamentados com barbas e tatuagens hipsters, com nomes evocativos como Peas of Heaven, The meatless farm, Unlimeat e Bio-tiful.
Um auditório chamado Anuga Horizon 2050 recebeu palestras de cientistas, nutricionistas, tech-empreendedores e pesquisadores, que destacaram “O Futuro das Proteínas Alternativas – o ‘Kitchen Hub’, um modelo único para startups” ou, sob um olhar mais amplo, “Uma comida melhor, para um mundo melhor”.
Identidade visual minimalista
Concretamente, em termos de produtos e das embalagens, essas tendências já estão bem visíveis: muita transparência, um minimalismo bold, que usa paletas cromáticas mais simples, com informações restritas ao essencial, salientando a honestidade e a autenticidade.
Viu-se também eco-produtos já recicláveis na essência, embalagens feitas a partir de PET 100% reciclado, plásticos mais leves, menos poluentes e mais resistentes, embalagens degradáveis etc.
A abordagem eco-consciente é, sem dúvida, o novo contexto de um consumo mais sustentável, que respeita a natureza e os animais. Acredito que um dos grandes desafios no futuro passará por criar branded products, sem embalagens.
Essa tendência já é crescente, como mostra a francesa Juste Bio, também presente em Portugal e na Espanha, que vende produtos orgânicos (nozes e frutos secos) a granel, em lojas próprias ou em supermercados e hipermercados. Essa realidade mostra que o consumidor está mais preparado e consciente do que a indústria mais conservadora acha.
Como é tradição, a feira terminou numa quarta-feira fria e chuvosa. O som do burburinho das conversas em vários idiomas, que se juntaram em um trem lotado rumo ao aeroporto de Dusseldorf ou à estação ferroviária de Colônia, tem algo de aconchegante e gostoso. Foram quatro dias muito intensos e, sem dúvida, muito instigadores.
*Crédito da foto no topo: Reprodução
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