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Opinião

O unicórnio Cameo e a aceleração da creator economy

A plataforma americana é um marketplace de vídeos personalizados feitos por famosos para fãs, mediante o pagamento de uma taxa nada simbólica


15 de abril de 2021 - 8h02

Os negócios da Cameo ficaram em evidência durante a pandemia e a empresa anunciou, no dia 31 de março, que recebeu um aporte de US$ 100 milhões (crédito: Reprodução/Cameo)

O meme da Gabi da FGV e sua lista de contatos recheada de celebridades morreu rápido, como manda a internet. Mas permitam-me utilizar este exemplo para explicar como funciona o site Cameo, mais novo unicórnio do mercado norte-americano.

A plataforma é nada mais, nada menos que um marketplace de vídeos personalizados feitos por famosos para fãs, mediante o pagamento de uma taxa nada simbólica. Ou seja, algo como Xuxa, Sérgio Moro, Michel Temer e companhia fizeram para os estudantes da GV, mas pago.

Nas prateleiras, há atletas, como o boxeador Floyd Mayweather (vídeo custa US$ 999); atores, como Lindsay Lohan (US$ 375); cantores, a exemplo de Akon (US$ 555); e outras personalidades. Até Steve Wozniak, cofundador da Apple, pode te mandar um abraço por meros US$ 500.

Os negócios da Cameo ficaram em evidência durante a pandemia e a empresa anunciou, no dia 31 de março, que recebeu um aporte de US$ 100 milhões — ultrapassando o valuation mítico de US$ 1 bilhão e se tornando um unicórnio.

“O Cameo está criando um novo nicho e mudando fundamentalmente a relação entre celebridades e fãs. Estamos em um estágio inicial, mas a oportunidade é enorme”, disse Jonathan Turner do fundo de VC e.ventures ao investir na empreitada.

Então, a notícia é ótima para a empresa, obviamente, e também mostra a força de um mercado que não para de crescer: a creator economy. Aqui, entra tudo que é produzido e consumido na internet (vídeos, lives, podcasts, fotos, produtos personalizados, etc.) e o dinheiro que este fluxo movimenta.

No caso específico do Cameo, deu visibilidade e uma nova fonte de renda para um setor que sofreu muito com o fechamento das economias. E, para aqueles que não sofreram tanto assim, deu mais uma plataforma para se conectar com fãs e apoiar instituições de caridade (o site dá essa possibilidade).

Se ampliarmos o escopo, o alcance do segmento fica ainda mais assustador. Há cada vez mais plataformas permitindo esse contato entre influenciadores (de todos os tamanhos) e público e, principalmente, gerando receitas. Vejamos alguns exemplos:

No Patreon, criadores de conteúdo de diversas áreas, como podcasters, músicos e gamers, podem criar uma base de colaboração ativa a partir de colaborações mensais dos fãs, no melhor estilo vaquinha online.

É uma lógica simples: aquelas pessoas que acompanham seus ídolos de perto e querem ter acesso a cada vez mais conteúdo exclusivo, podem doar uma quantia todo mês e ajudar a tornar isso possível.

Na mesma linha, o Only Fans alcançou um hype absurdo ao enveredar para o entretenimento adulto. Posteriormente, com a adesão de grandes celebridades que oferecem uma pequena janela ao seu mundo privado, a plataforma diz ter ultrapassado os 100 milhões de usuários.

A rapper americana Bhad Bhabie, de 18 anos, afirmou em suas redes sociais que ganhou US$ 1 milhão em apenas seis horas na plataforma. Ela cobra US$ 23,99 por mês para que acessem seus conteúdos e diz que o seu maior trunfo é responder a todas as mensagens dos inscritos.

Mudando completamente de segmento, há outras oportunidades. A Etsy, por exemplo, é uma grande loja online para vendedores independentes. Há obras de arte, artigos de vestuário, produtos de beleza e muito mais.

Ou seja, fica claro que essa personificação do conteúdo, que ganha espaço desde o início das redes sociais, está encontrando cada vez mais formas de rentabilizar o trabalho de quem se destaca na internet.

No entanto, ainda há distorções para corrigir. Segundo dados da Mediakix, agência californiana de marketing de influência, os mais de 50 milhões de criadores de conteúdo online devem receber US$ 15 bilhões em verba publicitária em 2022.

O que é ótimo, certo? Depende. Se você é um dos dois milhões de influenciadores profissionais que conseguem viver disso, perfeito. Para os pequenos, que não possuem tanto engajamento, a coisa fica mais difícil.

Nessa linha, o Harvard Business Review publicou uma análise sobre o tema. “No momento, a economia criativa em plataformas se parece muito com a economia dos Estados Unidos — há alguns grandes vencedores e muitas pessoas lutando para ganhar a vida e mal conseguem sobreviver”, escreveu a investidora profissional Li Jin.

Para aumentar o equilíbrio, ela diz acreditar muito na oferta de plataformas como as citadas acima, mas com um carinho para com os criadores menores. Entre os caminhos que enxerga para isso, Jin afirma que é preciso capacitar mais os criadores, preparar algoritmos que os exponham mais ao público e fortalecer nichos para que fãs se aproximem ainda mais (algo que já vemos crescendo no Brasil com os micro influenciadores).

Executivos de grandes empresas de tecnologia costumam dizer que, na corrida do ouro, suas companhias estão ali para vender as pás. Partindo do princípio de que as relações de consumo vão evoluir cada vez mais nessa direção, acho que assistiremos uma corrida de pás em breve.

*Crédito da imagem no topo: mrPliskin/istock

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