Opinião

AI driven, AI powered

Se todos usam os mesmos modelos de IA, quem se destaca?

Daniel Prianti

Fundador e coCEO da BPool 18 de novembro de 2025 - 21h15

Estive em Lisboa, no Web Summit 2025, e como era de se esperar, praticamente todas as empresas — de startups em estágio inicial a corporações gigantes — se apresentavam como AI-powered ou AI-driven. Stand, pitch, palco, conversa de corredor… tudo orbitando a mesma buzzword.

À medida que fui caminhando pelos pavilhões (é impressionante ver como o evento cresce em relevância, ano após ano), a primeira impressão do “hype” foi dando espaço para um entendimento do quanto as empresas realmente evoluíram na integração de modelos de LLM nas suas soluções, passando a enxergar IA generativa não como fim, mas como meio para resolver problema de saúde, logística, educação, produtividade e coordenação de processos complexos.

Outro ponto que me pegou: o nivelamento brutal em produto trazido pelos LLMs. Tirando as deeptechs (empresas que desenvolvem tecnologia de base, do zero), a maioria está usando os mesmos grandes modelos:GPT, Anthropic Claude, Google Gemini, Meta Llama etc. Resultado? Um mar de soluções parecidas, disputando o mesmo espaço. Isso deixa ainda mais evidente o peso de go-to-market, marca e layer de serviço como diferenciação. Difícil alcançar diferencial real só com tecnologia.

Mas o ponto mais forte pra mim foi perceber o salto que estamos dando em Physical AI, modelos treinados não só em texto e números, mas também em visão, movimento e interação física. É aqui que a IA deixa de ser só “cérebro” e começa a ganhar corpo.

A precisão dos robôs está chegando a um nível que, sinceramente, impressiona. Inclusive na evolução das mãos, que é um dos principais desafios atualmente. Por exemplo, um “estado da arte” hoje seria uma mão robótica capaz de apalpar dentro de um saco de lixo cheio e identificar o que é o quê.

Duas palestras me marcaram nesse espaço: The Intersection of AI and Robotics, do Tye Brady, Diretor de Tecnologia Robótica da Amazon, mostrando como a evolução de Physical AI deve, muito em breve, massificar o uso de robôs não só nas gigantes como a Amazon (que ultrapassou 1 milhão de robôs em seus centros de distribuição), mas também em pequenas empresas. E como isso abre uma demanda global para qualificação rápida e imediata de profissionais entry-level que, em vez de um trabalho mais braçal, já entrarão para supervisionar, discutir e tomar decisões junto aos robôs.

E The Rise of Embodied Intelligence, com Matthieu Masselin, CEO da Wandercraft, e a tenista paraolímpica Charlotte Fairbank, em uma demo que arrepiou o auditório: Charlotte se levantou e caminhou no palco utilizando o Eve, o primeiro exoesqueleto pessoal auto equilibrado do mundo.

Saí do Web Summit genuinamente otimista com a evolução que vi, especialmente nas startups que estão usando IA para resolver problemas reais, não só para gerar buzz. Mas, ao mesmo tempo, ficou a dúvida: será que o que vimos lá é uma amostra representativa de como vamos usar IA como sociedade?

A minha esperança é que a tecnologia seja usada para o bem coletivo e para potencializar o trabalho humano, não para substituí-lo. Mas isso depende menos da IA e mais das escolhas que nós, como pessoas, empresas e governos, vamos fazer daqui pra frente.