A responsabilidade das marcas no uso de dados
Transparência e participação junto com lideranças comunitárias é o caminho para criar impacto real
A revolução dos dados mudou tudo. Hoje, as marcas conseguem saber muito sobre o comportamento das pessoas, até mesmo de quem mora nas periferias e favelas. Mas informação é poder, e quem tem o poder precisa ter responsabilidade.
Usar informações de moradores da quebrada não pode ser só uma questão de fazer propaganda. É respeito, é cuidado, é pensar no outro do jeito que gostaríamos que pensassem na gente. Privacidade importa muito, e o consentimento em compartilhar dados tem que ser prioridade.
Quando uma marca olha para a periferia, precisa se perguntar: estou ajudando a fortalecer esse território ou só estou pegando carona para parecer moderna? Ética não é discurso bonito, é atitude e postura diária. Não pode existir manipulação, nem reforço dos mesmos estereótipos que já machucam há tanto tempo quem vive nessas regiões.
Transparência é outro pilar fundamental. Periferia está cansada de promessa vazia e de projetos feitos sem escuta. As marcas precisam mostrar claramente para que usam os dados, o que esperam alcançar e, principalmente, devolver para a comunidade os resultados e aprendizados de cada campanha. Isso constrói confiança e cria uma relação verdadeira.
Só que nada desse avanço digital significa democracia se a comunidade não participa de verdade. Projeto social de verdade nasce ouvindo o morador, trazendo as lideranças para decidir junto, dividir responsabilidades e celebrar junto cada passo, por menor que seja. Assim ninguém se sente figurante, porque a favela vira autora de sua própria história.
Evitar a chamada “maquiagem de favela”, quando as empresas usam a estética da comunidade só para lucrar, sem gerar nenhuma transformação positiva ou inclusão real, é fundamental. O caminho certo passa pela cocriação, onde morador vira parceiro e não apenas alvo de campanha.
Comunicação orientada por dados é só uma ferramenta. O que faz ela valer a pena é ter propósito, escutar, construir relações e entender que o protagonismo na periferia é coletivo. É responsabilidade de todos, das marcas, das comunidades e da sociedade, buscar caminhos mais justos e transparentes, onde cada informação ajuda a criar pontes, abrir portas e melhorar o dia a dia de quem mais precisa.
No fundo, marca que quer falar com favela precisa aprender, antes de tudo, a ouvir e a fazer junto. Ciência de dados sem ciência do respeito não tem futuro.