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Opinião

Priorizar é uma disciplina

Por que tantas empresas fracassam em processos de reestruturação?


2 de abril de 2018 - 12h07

Créditos: Maria Stiehler

Se você mora no planeta Terra e tem a sorte de estar empregado, deve estar trabalhando mais hoje do que trabalhava há alguns anos. O que era trabalho de três ou quatro pessoas, depois de algumas reorganizações, virou o seu trabalho. Não há como escapar: todas as empresas esperam e precisam que seus funcionários façam mais com menos. Se não está satisfeito, peça para sair.

Tão comuns quanto as reestruturações, são as promessas dos líderes de que “tudo será diferente a partir de agora”. A questão não é trabalhar mais, mas sim trabalhar de forma mais inteligente (“work smarter, not harder”), eles professam. Nestes processos, a palavra mais usada é priorização.

Eu nunca encontrei alguém que discordasse do conceito. Alguém que achasse que fazer tudo com igual dedicação e energia fosse possível e correto. Se os recursos são limitados, a única forma de priorizar aqui, é desprezar ali. Se todos concordam com a necessidade de priorizar, por que tantas empresas fracassam nos seus processos de reestruturação?

A resposta é simples: todos concordam em priorizar desde que seus projetos, departamentos, clientes, etc. façam parte das novas prioridades. Caso contrário, farão de tudo para sabotar, com elegância e discrição, o projeto da empresa.

“Não devemos investir em todas as marcas do nosso portfólio! Precisamos priorizar os investimentos”, dizem os líderes. Todos concordam sem questionar. Mas quando o diretor de marketing faz a alocação de seus recursos, em vez de cortar os investimentos nas marcas menos importantes, como planejado, mantém um orçamento mísero, só para sustentar o gerente de marca ocupado e sem reclamar.

“Não devemos atender todos os clientes com o mesmo nível de serviço. Precisamos priorizar os mais importantes”, dizem os líderes. Todos concordam sem questionar. Mas, contrariando a lógica, a estrutura de vendas continua dedicando recursos para atender clientes pequenos, com a mesma atenção dada aos key accounts, por acreditar que sem eles não há como chegar aos resultados.

“Passamos os dias em reuniões! Precisamos priorizar as que são realmente importantes”, dizem os líderes. Todos concordam sem questionar. Mas, quando não são convidados para alguma reunião, sentem-se alienados dos projetos e fazem de tudo para estar lá, mesmo que sua presença seja absolutamente dispensável.

A verdade é que todo mundo tem um projeto, uma marca, uma região ou algo mais que acha realmente importante. Algo imprescindível para o futuro da empresa, na opinião do sabotador. E por acreditar conhecer mais do trabalho que seus líderes, aposta contra a reestruturação e estabelece suas próprias prioridades.

Eu já tive projetos eliminados muitas vezes. Em outras, tive de eliminar projetos de pessoas da minha equipe. Nenhuma das duas situações foi fácil. Há alguns anos, o CEO da minha empresa decidiu que, a partir daquele momento, não faríamos mais o marketing para os consumidores (B2C), só para clientes (B2B). No dia seguinte, passou todo o meu orçamento e quase todas a pessoas da minha equipe para um outro grupo. Apesar de eu ter ficado sem um tostão, acabei assumindo projetos em outras áreas. No final, as mudanças foram uma oportunidade inesperada para me desenvolver.

Quando recentemente tive de descontinuar alguns projetos, uma pessoa da minha equipe, afetada e inconformada com a decisão, veio tirar satisfações. “Você quer dizer que eu não sou importante?” “Não. Isso quer apenas dizer que o projeto não é. As prioridades dizem respeito ao trabalho, não aos indivíduos”, respondi.

Nos processos de mudança, todos os dias temos a permissão dos nossos líderes para descontinuar alguns projetos, desinvestir em outros e não participar daquela reunião. Cabe a cada um de nós fazer a coisa certa mesmo que, no curto prazo, nossas funções não sejam diretamente beneficiadas. Priorização é uma disciplina que precisa ser praticada diariamente. Para o seu bem e para o bem de sua empresa, resista à tentação de remar contra a maré.

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