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Opinião

Questões prementes

Problemas complexos não têm soluções simples, mas o primeiro passo, ainda que banal, é reconhecer o óbvio


16 de julho de 2024 - 14h00

A Câmara dos Deputados aprovou, na quarta-feira, 10, o projeto que regulamenta a reforma tributária. Em linhas gerais, o texto estabelece regras para cobranças dos três impostos sobre o consumo que substituirão os cinco tributos cobrados atualmente. O novo modelo, somado, deve cobrar no máximo 26,5% de imposto sobre o preço. Alguns itens terão imposto maior, outros, menor, e, na média, a carga tributária atual deve se manter.

A transparência do imposto pago em cada compra, cashback e não cumulatividade são pontos positivos. A aplicação incoerente do Imposto Seletivo, apelidado de Imposto do Pecado, concebido para desestimular o consumo de itens nocivos à saúde e ao meio ambiente, é um negativo. Carros elétricos, por exemplo, entraram no rol, o que é uma contradição à essência do mecanismo. A alíquota zero para produtos mais caros, como carne, queijo e medicamentos, mais consumidos por pessoas com maior poder aquisitivo, também recebeu críticas. O sistema de cashback para famílias cadastradas pelo Governo Federal teria efeito maior para a faixa mais pobre da população.

Longe do ideal, mas viável. É assim que a reforma tributária tem sido considerada. O tema esteve em discussão no Congresso por 40 anos e, apesar das críticas sobre o atual regime tributário e a sombra do “custo Brasil” para o desenvolvimento da indústria e para a atração de investimentos estrangeiros, o debate nunca caminhava para um consenso. O óbvio sempre esteve presente, mas o senso crítico médio falhou diversas vezes em resolver uma questão premente.

Não é apenas no universo econômico que opiniões consensuais não encontram ressonância para mudanças estruturais. Equidade de gênero e raça é valor caro para a sociedade contemporânea — embora discursos contrários ainda resistam —, mas a realidade mostra um cenário diferente.

As mulheres recebem 19,4% a menos do que os homens no Brasil, segundo 1o Relatório de Transparência Salarial, apresentado pelos ministérios do Trabalho e Emprego (MTE) e das Mulheres, em março. A disparidade varia de acordo com o nível. Em cargos de dirigentes e gerentes, a diferença chega a 25,2%. No recorte racial, a desigualdade se amplia. As mulheres negras ganham 66,7% da remuneração das mulheres não negras. O levantamento inclui informações enviadas por 49.587 estabelecimentos com cem ou mais empregados, que somam quase 17,7 milhões de colaboradores.

Em termos de representatividade na alta liderança das empresas brasileiras, a proporção de mulheres em cargos de diretoria e C-Level foi de apenas 28%, em 2023 (contra 33%, no ano anterior), mesmo representando 43% do quadro de funcionários das empresas. Os dados são de uma pesquisa da FIA Business School, que analisou respostas de mais de 150 mil funcionários de 150 grandes empresas do País.

Ainda que respondam por 51,5% da população, as mulheres não são maioria no mercado de trabalho, são sub-representadas na alta liderança e têm remuneração menor na comparação com a dos homens. Isso não se deve à falta de capacidade ou de formação, mas às consequências de uma sociedade baseada no machismo há séculos. Embora a maioria das pessoas não seja machista — ou não verbalize —, o machismo está presente no cotidiano. Não encarar esse fato atrasa a solução da questão.

Desde 2013, a plataforma Women to Watch, do Meio & Mensagem, abraçou a missão de destacar as trajetórias de mulheres da indústria de comunicação, marketing e mídia que se sobressaem não apenas pela atuação corporativa como pela colaboração, direta ou indireta, para a aceleração da construção de um mercado mais inclusivo, servindo de inspiração para novas gerações. Neste ano, Briza Rocha Bueno, Cecilia Preto Alexandre, Fernanda Doria, Liliane Rocha, Nathalia Garcia e Rafaela Alves serão as homenageadas na cerimônia que acontece dia 20 de agosto, no Hotel Unique, em São Paulo.

Problemas complexos não têm soluções simples, mas o primeiro passo dessa jornada, por mais banal que possa parecer, é muito importante: reconhecer o óbvio. Façamos como o craque francês Kylian Mbappé, após a eliminação da sua seleção, na Eurocopa: “O futebol é simples: ou você é bom ou não. Eu não fui bom, então, vamos para casa”. Estimulemos o senso crítico.

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