Receita da Audiência não é escolha, é necessidade
Mas o quadro é claro: meios de comunicação que pretendem viver apenas de publicidade (e, pior, de programática) não conseguirão sobreviver
Receita da Audiência não é escolha, é necessidade
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BuscarMas o quadro é claro: meios de comunicação que pretendem viver apenas de publicidade (e, pior, de programática) não conseguirão sobreviver
Os meios de comunicação analógicos, que aos poucos fincaram pé no mundo digital, demoraram para entender o novo modelo de negócios necessário e sustentável. Por muito tempo marcas tradicionais decidiram seguir o mantra do escritor americano Stewart Brand, guru dos novos tempos: “a informação quer ser livre”. Ou seja, interpretaram a frase como se o conteúdo produzido pelas empresas devesse fluir sem amarras pela Internet.
Tremendo erro.
Só que foram precisos muitos anos de resultados ruins para que os veículos revisassem a lógica. Sem cobrar por conteúdos a conta não fecha, não existe mágica. Se tentou sustentar os veículos com publicidade programática – aquela em que o meio apenas prevê um espaço em branco e deixa grandes operadores como Google venderem a seus clientes. A técnica preguiçosa gerou uma situação catastrófica nos balanços. Pior, reverter esse quadro tentando emplacar, agora, venda direta a anunciantes é ainda mais difícil – quem se acostuma a pagar pouco via programática não aceita subir o valor na venda direta.
A solução é a participação da audiência nas receitas dos meios de comunicação. Assim como a grande maioria dos jornais impressos, que cobram por um exemplar. Ou os serviços de conteúdo como Spotify e Netflix, com seus milhões de assinantes. Só que não basta querer cobrar pelo acesso, é preciso oferecer algo que valha a pena ser pago.
Ou o projeto de venda de conteúdo será um fracasso.
As principais marcas brasileiras adotaram o Muro de Pagamento (PayWall) com a estratégia “porosa”, ou metered. O veículo oferece gratuitamente um número bastante limitado de acesso aos conteúdos. Mais de 3, 5 ou 10 páginas por mês já exige o pagamento. O muro fecha. Essa estratégia que fez o The New York Times ultrapassar os 8 milhões de assinantes (e agora 10 milhões com a compra de The Athlete) não funciona em qualquer lugar, ou para qualquer marca. Sem conteúdo diferencial, que mereça o pagamento, a experiência da busca por Receita de Audiência (Audience Revenue) será um retumbante fracasso – como tem sido para a maioria dos veículos. Isso sem falar na despesa pela contratação de empresas gestoras de PayWall.
O jogo é muito difícil de se vencer. Tanto que o poderoso El País acaba de mudar de técnica. Saiu o Muro Poroso, entrou o Muro “Freemium”. O que significa isso? Mais de 80% da produção jornalística do gigante espanhol será aberta para todos. Notícias de um modo geral, encontradas em qualquer meio da concorrência, públicas – quase um “commodity” – serão grátis, sem limites de acesso. Mas aqueles 20% fechados escondem o que há de melhor do El País: colunistas, reportagens especiais, vídeos, análises, podcasts.
O caminho trilhado pelo diário espanhol é hoje o mais indicado para 99% dos meios de comunicação relevantes. Um mix de receitas por Audiência, por venda de publicidade direta, por patrocínios em forma de “branded content” ou projetos, e ainda uma pitada de programática. Mas, outra vez, é preciso ter algo interessante por trás do Muro, ou a audiência não vai assinar.
E tem outra maneira de se buscar a Audience Revenue, através de “Membership”, ou “Associação”. Uma estratégia em crescimento, que vem dando certo em muitos veículos de comunicação – mas dependente de uma estratégia bem construída, coerente.
A assinatura digital ainda não está entre as prioridades dos brasileiros. Possivelmente pela falta de atrativos, de bons conteúdos por trás dos muros. O Globo e Folha de S. Paulo são os veículos que melhor estão tratando essa estratégia – e não por coincidência são os líderes no Brasil com 305 mil e 300 mil assinantes, segundo o IVC. Números bastante baixos pelo potencial do Brasil.
Mas o quadro é claro: meios de comunicação que pretendem viver apenas de publicidade (e, pior, de programática) não conseguirão sobreviver. A menos que o custo de produção seja extremamente ajustado, assumindo o risco de reduzir a qualidade do conteúdo. Aí a queda será mais lenta, mas fatal.
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