Uma questão de educação

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Opinião

Uma questão de educação

As empresas investem na capacitação de seus quadros, mas não podem e não pretendem substituir o Estado, a educação precisa ser universal e de qualidade


8 de fevereiro de 2024 - 14h00

O segmento de alimentação fora do lar é um dos maiores geradores de primeiro emprego no país, acolhendo especialmente jovens com formação educacional básica, mas infelizmente a maior parte deles chega nas empresas sem uma formação de qualidade. O seu acolhimento sempre demanda algum nível de treinamento profissional, muitas vezes em aspectos que deveriam ser dominados depois de alguns anos de escola.

Infelizmente, a deficiência em nossa formação básica agrava o problema estrutural de baixa produtividade na economia brasileira, tornando o recrutamento de mão de obra qualificada um desafio para as empresas. É doloroso admitir, mas alguns colaboradores têm dificuldade em compreender até mesmo as instruções mais simples de um manual, evidenciando um analfabetismo funcional generalizado, segundo os padrões da UNESCO.

Em função desta carência, o setor também responde pela qualificação profissional de dezenas de milhares de jovens, que passam a lidar com responsabilidades, procedimentos e valores que posteriormente irão funcionar como alavancas em suas carreiras, abrindo novas oportunidades no próprio segmento de alimentação ou fora dele.

Desde os primeiros anos da fundação de nossa empresa, há pouco mais de 40 anos, nos dedicamos à formação dos colaboradores. Inicialmente, esse processo era informal, por iniciativa de Dona Maria Elza, responsável pela cultura de treinamento da rede. Ela, dedicada educadora, nunca se cansou de ensinar, seja na nossa vida familiar, seja na empresa, treinando os colaboradores que começávamos a contratar.

Com a profissionalização da marca, o treinamento da rede evoluiu primeiro para a Escola Dona Maria Elza e posteriormente para o formato atual, do Universo do Saber. Oferecemos oportunidades de aperfeiçoamento para as necessidades da rede e também para o desenvolvimento pessoal, com cursos e treinamento em EAD e presenciais. Em 2023 emitimos cerca de 110 mil certificados de conclusão e, além dos treinamentos profissionais, disponibilizamos mais de 30 cursos em áreas como gestão de tempo, empoderamento feminino, inteligência emocional, libras, sustentabilidade, entre outros.

Programas de treinamento são realidade em muitas empresas – até por necessidade – mas este esforço é uma gota d’água no oceano do passivo educacional dos brasileiros e nem arranha a solução da maior prioridade nacional. De todas as agendas sensíveis para o País, a educação se mostra a mais importante, pensando no futuro e na construção dos próximos tão desejados ciclos de prosperidade. Sem o seu atendimento não fugiremos do atraso, da desigualdade e da miséria.

A taxa de desemprego no Brasil foi de 7,5% no trimestre móvel terminado em novembro, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número foi celebrado como o melhor desde 2015, mas ainda 8,2 milhões de pessoas estavam desempregadas, sem falar nos quase 4 milhões de brasileiros que haviam desistido de procurar emprego e não entram na conta. Não é para abrir a champagne e comemorar essa melhoria.

Quando somamos as deficiências na formação básica às informações de recente pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), reduzimos as perspectivas para os entrantes no mercado de trabalho. A pesquisa informa que 96% das novas vagas de emprego de 2023 foram direcionadas a trabalhadores com ensino médio completo ou em andamento. E menos de 50% dos brasileiros têm o diploma de segundo grau, dificultando assim o acesso dos demais ao mercado formal de trabalho.

As empresas investem na capacitação de seus quadros, mas não podem e não pretendem substituir o Estado, a educação precisa ser universal e de qualidade. Desde a universalização do ensino básico na década de 1990, o Brasil não mais experimentou um avanço efetivo na qualidade da educação no país, como tristemente o comprovam os resultados do PISA – estamos no grupo dos “rebaixados para a segunda divisão”, entre os quatro piores em um universo de 60 países.

Sem educação de qualidade não haverá ganhos de produtividade e empregos de qualidade, comprometendo o desenvolvimento do país e a redução da desigualdade. Sem uma abordagem abrangente e eficaz na política educacional, estaremos condenados ao atraso, à desigualdade e à miséria. A educação é a pedra fundamental para a construção de ciclos duradouros de prosperidade e para transformarmos o Brasil em protagonista no cenário internacional.

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