Workslop: Prejuízo invisível do mal uso de IA nas empresas
Todo mundo corre para usar, mas pouca gente percebe o prejuízo que vem junto. É o retrabalho automático, o atalho caro e o “feito com IA” que parece genial até alguém olhar de perto
Tem uma nova praga corporativa se espalhando pelas empresas. Não é o café ruim, nem a reunião que podia ser e-mail ou o workshop de mentirinha.
As empresas saíram colocando inteligência artificial em tudo, de qualquer jeito. E agora começam a descobrir que, em alguns casos, estão perdendo muito dinheiro e nem sabiam. O nome disso é workslop, o trabalho malfeito por IA. Aquele que parece genial no primeiro olhar, mas um desastre quando vemos de perto. Bonitinho, mas ordinário, sabe?
Slop, em inglês, é sujeira, resto, desleixo. Fruto da apressada corrida pelo ouro da IA com pequenos toques de ansiedade corporativa. Basta ver últimos meses: não tem um dia da nossa vida moderna que não ouvimos essas duas letrinhas juntas umas 50 vezes (I + A). Pelo menos!
Porém, a tempestade perfeita nasce quando temos esse combo: liderança apressada, angústia de automação com IA, desespero de escala-resultado, efeito manada com novidades tecnológicas e a terceirização do pensamento para a máquina.
Boooom. O teatro da produtividade está fazendo mais uma vítima: seu caixa. E agora estão descobrindo o preço disso: retrabalho e prejuízo financeiro. Sem contar que nivela o trabalho e deixa marcas concorrentes iguais e medianas.
E qual o tamanho do problema?
Um estudo recente do Stanford Social Media Lab e BetterUp Labs mostrou que 40% dos profissionais receberam trabalho malfeito por IA só no último mês. E mais: 15% de todo conteúdo gerado com IA gera retrabalho. Projeção que empresas com cerca de 10 mil funcionários podem perder até US$ 9 milhões por ano com perda de produtividade causada por workslop.
Num exemplo simples: alguém faz um trabalho raso em cinco minutos (uau, genial). Mas quando chega num colega responsável, ele vê os furos e precisa ou voltar para a pessoa e ficar refazendo o processo ou parar 30 minutos para arrumar. A IA que deveria economizar tempo, nesse caso duplica o trabalho.
Mais que perda de tempo, muita atenção ao impacto humano
Além do prejuízo financeiro e tempo perdido, há um custo que poucos calculam, o da quebra de confiança entre pessoas. Mais da metade dos profissionais (53%) dizem sentir irritação ao receber conteúdo ruim feito por IA e passam a ver o colega como menos confiável. Ou seja: a pressa por parecer produtivo está desgastando a colaboração e o respeito dentro das equipes.
E o que fazer com isso? Quais as mudanças e pontos de atenção
Estabelecer padrões mínimos de qualidade em entregas feitas com IA; treinar times para avaliar criticamente o que produzem; não querer tudo em cinco minutos; reforçar a responsabilidade: quem entrega conteúdo com IA é responsável por sua curadoria; transformar o uso da IA em parte do processo e não a solução final; e, acima de tudo, reagir de vez contra a preguiça de pensar e valorizar o pensamento crítico para navegar em dupla com a tecnologia. Lembram que já falei aqui da nossa inteligência ampliada (humana com IA)? É isso.
A culpa não é da IA, e sim de quem a usa como muleta, não como parceira
A tecnologia é potente, promissora e, sim, estratégica. Mas ela exige pensamento crítico, curadoria humana e critério. A IA não é um substituto da inteligência.
É uma extensão dela. E se a inteligência for rasa, preguiçosa ou impulsiva, o que a IA vai produzir não será uma revolução, será adiar o problema.
Na Inteligência Ampliada, as ferramentas de automação não podem ser o fim do pensamento, e sim o começo de uma nova forma de pensar usando toda beleza da nova era das inteligências artificiais.
O presente e futuro são das IAs e, óbvio, já tem exemplos que ajudam empresas a ganhar muito dinheiro e aumentar lucros. Porém, fiquem também atentos a isso, pois o workslop está acontecendo embaixo do seu nariz.
O trabalho malfeito por IA é o novo custo invisível das empresas: o preço do atalho, da pressa e do pensamento desligado. E até que se entenda isso, muita empresa vai continuar confundindo velocidade com inteligência e pagando caro por essa confusão. Um efeito colateral financeiro do uso apressado de IA nas empresas.
Fazer de qualquer jeito não é produtividade, é apenas automação da burrice.