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O que você realmente tem feito pela inclusão?

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O que você realmente tem feito pela inclusão?

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14 de junho de 2021 - 6h00

(Crédito: Wildpixel/ iStock)

O que mais temos visto ultimamente são campanhas, lives, matérias falando sobre diversidade e inclusão por empresas que querem se posicionar em relação aos debates raciais. Mas o que realmente as empresas têm feito para mudar essa realidade?

Existe, há muito tempo, pesquisas, levantamentos, estudos e toda uma luta muito grande por parte do povo preto em busca de equidade, respeito e a retomada do que é seu por direito. Mesmo assim, parece que após os protestos devido ao assassinato de George  Floyd, nascido em Houston, que se dedicou ao futebol e ao basquete e era conhecido na cena local de hip hop e, posteriormente, mudou-se para Minnenapolis – onde foi morto por um policial branco, o Brasil, inevitavelmente, começou a “olhar mais” para a inclusão social. Inclusão que falando de maneira ampla – e devida – significa equidade e engloba todos os grupos socialmente minoritários: LGBTQIA+, pessoas gordas, com algum tipo de atipicidade, profissionais mais maduros entre outros e outras.

A falta de inclusão e equidade às vezes parece sutil. Quando você vê uma campanha com um casting inteiro preto, como foi a campanha de Dia dos Pais de O Boticário, em 2018, pode até achar que o fato de haver negros basta. Porém, vale lembrar que esta mesma campanha também sofreu muitos ataques racistas.

Precisamos pensar no todo, principalmente, ao considerar o fato de que somos 54% da população e podemos afirmar que uma empresa é realmente inclusiva quando tem profissionais negros nos cargos de liderança para tomada de decisões, além do espaço para contar sua própria história que não se resume apenas a racismo. Atualmente, esta não é a realidade.

Só aqui em São Paulo, por exemplo, os cargos de liderança têm menos de 4% de profissionais negros. Tratando-se de mulheres negras, então, os números são ainda menores: menos de 2%, segundo matéria do site Mundo Negro.

O Nubank, por sua vez, contratou quase 500 funcionários após entrevista da cofundadora Cristina Junqueira, ao Roda Viva, da Tv Cultura. Após ser questionada pela repórter Angelica Mari, da Forbes Brasil, sobre quais eram as ações afirmativas do Nubank para inclusão de negros nos cargos de liderança ela, como porta-voz da fintech, afirmou que “o nível de exigência para se trabalhar no banco é alto e que não dá para nivelar por baixo”. A fala comentava uma política inclusiva para candidatos negros. Isso só confirma que ainda há muito o que mudar nas estruturas das empresas para que possam, de fato, falar de inclusão e ações afirmativas referentes à equidade. Ainda mais quando a própria cofundadora tem esse pensamento. A iniciativa de contratar quase 500 profissionais negros tentou superar a má repercussão da fala na internet. Criou-se uma pressão em cima das atitudes das empresas, o que era de se esperar. Porém, há sempre uma pergunta que não quer calar. Quais foram os cargos destinados a esses profissionais pretos contratados?

Essa falta de diversidade, além de afetar o Brasil economicamente, também torna situações de abuso, racismo, gordofobia e transfobia comuns dentro desses espaços, já que boa parte desses setores não convive com profissionais destes grupos sociais e desconhecem o que vivem seus integrantes no dia a dia. Tão problemático quanto crimes de discriminação e racismo é o desfecho que estes têm. Na maioria das vezes, tudo termina com um pedido de desculpas e uma nota de repúdio. Há vezes que nem isso.

Ao pensar em uma campanha editorial de moda ou qualquer peça publicitária, é preciso refletir também sobre as demandas desses profissionais, como abordagem, deslocamento, inclusive os prazos de pagamento – para que não sejam extensos. Se estamos falando de falta de representatividade, então também sabemos que esses profissionais acabam trabalhando pouco, o que restringe ainda mais o acesso à renda e desenvolvimento profissional.

É preciso incluir e pensar em todas as demandas, e isso só é possível se for feito justamente com quem vive a realidade posta e imposta. Vale ressaltar que não se trata de abordar apenas o racismo, mas ir além no intuito de obter mudanças reais, estruturais, fora e dentro das empresas que, inclusive, querem ser inclusivas.

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