Assinar

Para criadores de Dark, série não seria aprovada em 2023

Buscar
De 11 a 16 de Abril | Rio de Janeiro
Rio2C

Para criadores de Dark, série não seria aprovada em 2023

Casal de showrunners alemães de Jantje Frise e Baran bo Odar falou sobre as mudanças no consumo que, inclusive, levaram ao fracasso 1899 e comentaram sobre a importância de expandir o alcance de produções locais


13 de abril de 2023 - 14h58

Dark

Dark foi uma das séries mais assistidas da Netflix no mundo (Crédito: Divulgação)

Dark, definitivamente, não seria aprovada hoje”. A conclusão é de Jantje Frise, a própria roteirista e showrunner da série. Ao lado de Baran bo Odar, diretor e showrunner da série – e também seu marido – a criativa admitiu que as mudanças da lógica da indústria do entretenimento e nas plataformas de streaming não permitiriam o investimento em uma ideia que os próprios criadores admitiram que não sabiam onde iria chegar.

“As coisas mudaram muito. A forma como as pessoas consomem mudou muito, o que causou também mudanças no marketing e na lógica das plataformas. Definitivamente, Dark não seria realizada hoje”, concordou bo Odar.

A roteirista contou sobre a apresentação de Dark à Netflix e como o argumento acabou sendo fundamental para que o projeto fosse adiante. Segundo ela, se os criadores dissessem aos executivos que a série era sobre física quântica e viagem no tempo, a situação seria outra. Para defender a série foi preciso combinar os principais elementos da história e de seus personagens, enfatizado as relações familiares e os dramas que se desenhavam entre eles.

Embora estivesse falando sobre um sucesso – Dark é uma das produções, em língua não inglesa, de maior sucesso mundial na Netflix – os showrunners também não deixaram de falar sobre fracassos. A série 1899, também criada pela dupla alemã para a Netflix, foi cancelada após a primeira temporada.

Dark

Jantje Frise e Baran bo Odar falam sobre os desafios de combinar os desejos criadores de conteúdo com as demandas da indústria (Crédito: André Valentim)

Apesar de admitir que achava a série boa, bo Odar afirmou que as transformações da indústria e, claro, a resposta da audiência, não permitiram que sua continuidade fosse viável. Segundo os criadores, por usar muitos recursos tecnológicos, 1899 teve um custo de produção muito alto. “Eu gostei muito, mas acho que as pessoas não”, brincou.

Para a série, foi utilizada uma nova tecnologia de produção da Netflix, que simulava o navio e todo o ambiente do mar, onde se passaram boa parte das cenas da primeira temporada. O diretor explicou que a tecnologia, inclusive, foi bem útil já que a gravação aconteceu em meio às restrições da pandemia.

Casamento na vida e nas produções

Parceiros de trabalho há 21 anos, Jantje e bo Odar também são casados. A combinação de relações pessoal e profissional também foi abordada no painel.

Para Jantje, o segredo para manter as duas parceiras saudáveis está nq combinação dos gostos e interesses. “Obviamente, é o tipo de parceria que não é fácil, mas fomos aprendendo muito ao longo desse tempo. Mas temos ideias, opiniões, e pensamentos criativos bem parecidos. Gostamos das mesmas coisas. Eu havia tido um namorado antes dele, que também era diretor, mas não deu certo”, riu.

Conteúdo local

Os criadores de Dark e 1899 também comentaram sobre o fato de serem autores de uma exceção – um projeto criado em língua não-inglesa que foi amplamente consumido em diversos mercados internacionais.

Os dois se mostraram cientes de que existem lógicas de mercado que acabam fazendo com que produções em idiomas diversos não tenham tanto lugar como as obras em língua inglesa. Apesar disso, bo Odar deixou clara a insatisfação quanto a isso.

O diretor disse que é perigoso classificar uma obra como “local” e citou uma produção brasileira como exemplo. “Cidade de Deus, de muitos anos atrás, claro, era uma história local, mas também era global. Dark também é bem local, com um humor bastante alemão, inclusive, mas que conseguiu viajar. A história pode ser local, mas seu approach tem que funcionar em todo lugar. Nenhum criador de histórias quer contar algo apenas para sua pequena cidade, eles querem que sua história seja assistida em todos os lugares. Produzir localmente, para o público local, na minha opinião, é um grande erro”, concluiu.

Nova série

Os dois profissionais estão trabalhando em uma nova série, junto à Netflix, chamada Something is Killing the Children (Algo Está Matando as Crianças), em livre tradução.

Publicidade

Compartilhe