A vanguarda do pensamento – e da tecnologia
Como o avanço fervilhante da tecnologia está mudando as esferas da humanidade e do trabalho
Como o avanço fervilhante da tecnologia está mudando as esferas da humanidade e do trabalho
13 de março de 2025 - 17h53
O SXSW não é para os fracos de coração, tampouco para aqueles que acham que podem chegar lá e só pegar uns slides bonitinhos no final. Não. Este evento exige sua alma, seu corpo e, principalmente, sua capacidade de processar informações como se fosse um supercomputador humano.
Logo cedo, me vi mergulhado em uma palestra sobre inteligência artificial que parecia ter saído diretamente de um episódio de Black Mirror. Os palestrantes, incluindo nomes como do apresentador LeVar Burton e o astrofísico americano Neil deGrasse Tyson, trouxeram reflexões sobre habilidades humanas essenciais para lidar com IA. Sim, estou falando de coisas como curiosidade, pensamento crítico e empatia – aquelas qualidades que a gente acha que tem até perceber que está sendo engolido por preguiça cognitiva. LeVar Burton soltou a seguinte frase: “E se?”. Parece simples, né? Mas quando você começa a aplicar isso a cada interação com IA, percebe que estamos todos tão ocupados buscando respostas prontas que esquecemos de fazer as perguntas certas. Neil deGrasse Tyson, sempre didático, alertou sobre o perigo da confirmação de viés. Ou seja, se a IA te der uma resposta que confirme suas crenças pré-existentes, cuidado, você pode estar caindo em uma armadilha mental: aquela preguiça clássica de pensar um pouco mais. É sempre uma lição de humildade intelectual pensar duas vezes antes de aceitar qualquer sugestão do ChatGPT sem questionar.
Enquanto isso, a economia criativa estava fervilhando em outra sala. Na palestra “Beyond the Buzz: Mastering Creator Economy Trends in 2025”, Jasmine Enberg – voz procurada em tópicos que vão do TikTok ao X, e outros especialistas abordaram o futuro dos criadores de conteúdo. Jasmine chamou 2025 de “o ano da profissionalização”. O marketing de influência, responsável por 60% das receitas dos criadores, está passando por uma transformação séria. Agora, não basta gravar vídeos caseiros; você precisa ser CEO, diretor criativo e estrategista de negócios. E sabe aquele papo de diversificação? Criadores estão saindo das plataformas tradicionais e construindo sua própria base de público. Se você quer sobreviver nesse mercado, prepare-se para trabalhar muito mais do que postar selfies.
Mas nem tudo gira em torno de tecnologia e criadores. Em uma palestra sobre longevidade, David Sinclair, professor de genética da Faculdade de Medicina de Harvard e especialista em estudos de moléculas e biomarcadores de envelhecimento, e Jeffrey Lieberman, neurocientista clínico e psiquiatra, discutiram avanços científicos que prometem mudar radicalmente a forma como envelhecemos. Sinclair comparou o envelhecimento à transição de Newton para a mecânica quântica – ou seja, estamos prestes a reescrever as regras básicas da biologia. Ele citou o exemplo de seu pai, que aos 85 anos mantém uma saúde excepcional graças a hábitos como restrição calórica, exercícios regulares, suplementação e resveratrol – um composto natural encontrado na casca de alguns alimentos que previne o envelhecimento precoce. Já Lieberman trouxe uma frase forte: “O cérebro é o único órgão que pode sofrer doenças existenciais, onde sua operação é interrompida não por lesões físicas, mas por experiências impalpáveis.” Parece poético, mas também assustador. Ainda assim, a visão otimista prevaleceu: embora desafios permaneçam, a ciência está prestes a transformar nossa compreensão do envelhecimento. Peter Attia, fundador da Early Medical, que aplica os princípios da Medicina 3.0 aos pacientes com o objetivo de, simultaneamente, prolongar sua vida útil e aumentar sua saúde, apresentou o conceito de “Decatlo Centenário” – treinar especificamente para atividades que queremos realizar aos 100 anos. Imagine praticar ioga agora pensando em conseguir se levantar da cadeira de balanço sem ajuda décadas depois. Parece bobagem, mas faz sentido. E sim, conexões sociais são tão importantes quanto exercícios físicos. Ninguém vive bem sozinho, e se você acha que comprar seguidores no Instagram conta como rede de apoio, tenho más notícias.
No meio de tantas discussões densas, houve espaço para um pouco de leveza – e publicidade. Renata Gomide, CMO do Grupo Boticário, trouxe insights valiosos sobre como as marcas podem criar conexões emocionais profundas com o público ao integrar humanidade, tecnologia avançada e narrativas poderosas. Ela enfatizou que “ser humano é muito difícil às vezes”, e destacou que as marcas que absorvem essa complexidade formam conexões significativas e inspiram lealdade. Um framework centrado na humanidade foi apresentado como antídoto para os desafios modernos, como a crescente crise de saúde mental e a polarização política. A executiva citou exemplos como o trabalho da comissária Christine Beyer, que transformou o sistema de cuidados infantis de New Jersey ao ouvir comunidades marginalizadas. Outro caso emocionante foi a parceria entre Jeremy Renner e Brooks Running, onde a história de superação do ator após aquele terrível acidente com o carro limpa neve de seis toneladas o atropelou ao evitar que o sobrinho fosse atingido, se tornou o coração da campanha “Let’s Run There”. A NFL também brilhou ao criar encontros impossíveis entre estrelas do futebol americano e um garoto sonhador. A mensagem final? Que tipo de futuro você quer criar? É uma pergunta que fica ecoando na mente muito depois que as luzes do palco se apagam.
E como se isso já não fosse suficiente para encher minha agenda (e secar minhas canecas de café), ainda participei de uma sessão sobre ageísmo e saúde social. Parece que finalmente estamos entendendo que viver mais não significa necessariamente viver melhor, é preciso olhar para esse aspecto. Richard Lui, jornalista premiado com mais de 30 anos de experiência que há dez anos viaja a cada duas semanas, de Nova Iorque a São Francisco, para cuidar de seus pais com Alzheimer, abriu a discussão com a frase: “A detecção precoce é essencial para enfrentar a progressão da doença.” Entre avanços em biomarcadores e terapias modificadoras da doença, senti um misto de esperança e urgência. Joanne Pike, médica e CEO da Alzheimer’s Association, lembrou que precisamos formar mais especialistas para atender à crescente demanda por tratamentos eficazes. Enquanto isso, Anne White, presidente da Lilly Neuroscience, compartilhou resultados promissores relacionados ao beta-amiloide, que mostraram reduzir a deterioração cognitiva. Sandra, esposa de um participante de ensaios clínicos, trouxe uma perspectiva humana tocante: “Essas pesquisas não apenas beneficiam os participantes, mas também impulsionam o avanço científico.” Saí dessa sala impactado com uma sensação de gratidão – por estar vivo, por ter memória intacta e por saber que pessoas incríveis estão trabalhando para mudar o futuro dessa condição devastadora.
Por fim, o impacto cultural da IA foi debatido em uma palestra que sinalizou que “personas devem ser construídas pelas próprias comunidades que as usarão”, sublinhando a importância de inclusão e representatividade. A sessão terminou com uma reflexão inspiradora sobre o futuro: “Estamos apenas começando a entender como a IA pode redefinir nossas vidas diárias e criar novas formas de expressão.” Combinando insights técnicos e criativos (e este é meu cotidiano), a palestra deixou claro que a IA está moldando um futuro mais conectado, personalizado e inovador. Mas, como sempre, cabe a nós decidir como usaremos essas ferramentas. No universo das campanhas, por exemplo, as grandes marcas já entenderam o poder dos insights criativos para gerar maior engajamento e conexão.
Saindo dessas salas, fiquei com aquela mistura familiar de exaustão e inspiração. Meus pés doíam, meu cérebro estava prestes a explodir e eu tinha certeza de que havia perdido pelo menos três refeições importantes nesses últimos cinco dias. Mas também sabia que tinha absorvido informações valiosas, feito conexões genuínas e me atualizado sobre o que importa no mundo de hoje. O FOMO ainda está aqui, claro – afinal, como acompanhar tudo? –, mas eu estou grato por estar presente. Porque, ao fim e ao cabo, o SXSW não é apenas um evento; é um convite para pensar diferente, agir rápido e sonhar alto. E se isso não for vanguarda, não sei o que é.
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