Pyr Marcondes: Amy Webb e o foco num mundo desfocado
Depois de ler o sumário executivo do Tech Trends a maior probabilidade para qualquer um é tipo ... para o mundo que eu quero descer
Depois de ler o sumário executivo do Tech Trends a maior probabilidade para qualquer um é tipo ... para o mundo que eu quero descer
Pyr Marcondes
12 de março de 2023 - 14h47
A versão 2023 do anual estudo Tech Trends que o Future Institute lança todos os anos e que tem anualmente mais de 1 milhão de downloads traz já na abertura a dica da Amy: “This year requires focus”. Para em seguida enunciar as gigantescamente impactantes transformações que estamos na portinha de ver acontecer.
Cara Amy, seu alerta é mais do que necessário, mas acho que não vai rolar. A probabilidade de focarmos como metodologia de vida nunca foi fácil para ninguém em tempo algum. O conselho é sábio, mas temo que improvável.
Depois de ler o sumário executivo do Tech Trends a maior probabilidade para qualquer um é tipo … para o mundo que eu quero descer.
Há é claro um sem-número de avanços que vão transformar profundamente de maneira positiva dezenas e dezenas de áreas do conhecimento e prática humanos. Para cada uma delas, vem em anexo um alerta de que os avanços tech podem também ser mal utilizados, ou utilizados para o mal, por cientistas, instituições, empresas e governos. Como sempre.
Aí é que o foco desfoca. A esperança é que a ciência das máquinas e elas mesmas com sua própria inteligência, revolucionada de vez e para sempre com a Generative AI, possam nos dar uma forcinha. Nós por nós, não vamos conseguir.
Generative AI é, como nos ensina o estudo, a base de todas as demais transformações previstas, uma vez que será com ela, sobre ela e através dela que todos os avanços serão construídos, nos 20 setores/indústrias/áreas de conhecimento e da ciência analisados pelo documento. Todos nós, a sociedade como um todo, nossas empresas e os governos de todos os países seremos inevitavelmente impactados. E, como comentei, sem muito ou nenhum controle sobre tudo isso.
A produção criativa e a própria descoberta dos avanços do conhecimento serão diversificadas e aceleradas por algoritmos, que por sua vez serão cada vez mais criados pelas próprias máquinas. Avanços considerados antes distantes e até impossíveis de serem alcançados pela medicina estarão a nossa disposição em pouco tempo. O mercado financeiro será descentralizado e aberto, assim como toda a internet. Que será uma outra internet. Drones e robôs serão mais acessíveis e estarão mais e mais presentes no nosso dia a dia. As indústrias mais diretamente afetadas serão a automotiva, aviação, farmacêutica e todo setor da produção de conteúdo e mídia. A agricultura idem. Serviços como o varejo e toda a cadeia se supply chain, bem como real state, vão operar de forma bastante diversa do que operam hoje. Enfim, olhe para o lado e ela, a Generative AI, estará lá. Tão presente como um celular em nosso bolso, para usar uma imagem de Greg Brokman, fundador e CEO da OpenAi, que criou o ChatGPT, em sua aparição no SXSW deste ano.
A mágica e o avanço dessa nova AI está no fato dela não só resolver determinados problemas específicos, mas também e principalmente sua capacidade de criar novos conceitos e ter ideias, fundamentos do conhecimento humano.
Amy e seus futuristas acreditam que a Generative AI que temos hoje, aquela que você e eu usamos para brincar de inteligentes hoje, será genérica e comodity. E que estará nas especializações e notadamente nas áreas de infraestrutura que surgirão os verdadeiros grandes negócios.
O estudo supõe ainda que seguirão sendo as grandes corporações tech e grandes instituições empresariais em geral que assumirão a liderança nessa corrida pelo avanço sem fim.
O medo de que governos e empresas sigam se valendo desse tipo de tecnologia para controlarem pedaços importantes da nossa vida continua. Talvez agora ainda mais anabolizado.
Daí me pergunto: focar como?
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