Em Austin, faça uma tatuagem com um estranho
Ou faça qualquer outra coisa, mas tente se conectar de verdade com o festival, a cidade e as pessoas
Ou faça qualquer outra coisa, mas tente se conectar de verdade com o festival, a cidade e as pessoas
19 de março de 2024 - 15h25
Todo mundo já falou sobre tudo, as notícias circulam rápido, as tendências, mais ainda. Mas uma pequena palestra, com poucas pessoas na plateia, me fez refletir muito sobre algo que está por todo lado, e não é IA.
O artista Imran Nuri compartilhou toda a experiência do projeto artístico em que ele passou 84 dias viajando de carro por 48 estados americanos para fotografar 1.000 pessoas e perguntar a cada uma delas:
“Qual conselho o você de hoje daria para o seu eu mais novo?”
Ah, um detalhe, tudo feito com uma câmera fotográfica analógica de mais de 50 anos atrás. Aí me pegou demais.
Algumas coisas fizeram muito sentido para mim nessa palestra. A primeira foi que ele fez tudo isso para simplesmente procurar o sentido da vida? Não. Tudo isso porque ele simplesmente teve essa ideia. E resolveu fazer acontecer.
A segunda foi a maneira como ele abordava esses estranhos por onde passava. É importante não subestimar o poder de um simples “eu adorei os seus sapatos”, seguido de um sorriso e da disposição para ouvir. Importante em todos os sentidos. (É claro, ter uma câmera analógica de 50 anos pendurada no pescoço ajuda.)
A terceira foi que ele começou o projeto pedindo às pessoas um conselho de vida, mas as respostas eram comuns, como “seja feliz” e “cuide da saúde”. Então ele decidiu mudar a pergunta para “Qual conselho o você de hoje daria para o seu eu mais novo?”. Essa mudança de perspectiva resultou em respostas mais genuínas e em uma conexão verdadeira.
Essa mudança de perspectiva desencadeou interações surpreendentes. Desde conversas profundas que começavam na rua e duravam horas, até outras que terminavam com ele na casa desses estranhos. E até o encontro com um homem com câncer incurável, que passava os dias perambulando e fazendo tatuagens idênticas com pessoas que ele não conhecia, mas que cruzavam seu caminho. Ele enfrentava seus últimos dias de vida com coragem, bom humor e uma boa dose de conexão humana.
Especialmente no SXSW, onde tudo converge para o futuro, tecnologia e inovação, essa uma hora ofereceu uma lição valiosa. Mostrou que tudo que ouvimos aqui é fundamental, mas não funciona sem a boa e velha conexão. Seja a conexão com o processo criativo e com as pessoas envolvidas nele, até a conexão com o público de qualquer coisa que colocamos neste mundo.
Existe algo mais relevante do que isso em tudo o que fazemos?
Fim da palestra, aplausos, e enquanto admirava o palestrante, vestido inteiramente de preto, com suas crocs amarelas, percebi que a verdadeira conexão vem em todas as cores e formas. Portanto, da próxima vez que você se encontrar hesitante em iniciar uma conversa com um estranho, lembre-se dessa história. Porque é nos momentos de desconforto que encontramos as oportunidades mais preciosas de conexão verdadeira. E não existe comunicação sem conexão.
É claro que no final fui falar com ele, queria me apresentar e trocar uma ideia rápida. Me deu vontade de ser amigo dele, trocamos contatos.
Não, não cheguei a fazer uma tatuagem com ele, nem com nenhum outro estranho, mas pode ser que eu chegue no Brasil de volta usando uma crocs amarela.
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