Uso de IA cresce no design, mas falta estrutura corporativa
Autonomia acelera o uso da tecnologia, aponta pesquisa, mas falta alinhamento para transformar prática em estratégia

Brasileiros adotam IA no design, mas ainda sem apoio das empresas (Crédito: Lina Chekhovich/Shutterstock)
A inteligência artificial já se tornou parte do trabalho cotidiano dos designers brasileiros, mas ainda de forma pouco estruturada. É o que mostra um estudo conduzido pela Môre em parceria com o Ibpad, apresentado nesta quarta-feira, 19.
Segundo o levantamento, 94% dos designers utilizam IA no trabalho e 66% fazem uso diário das ferramentas. Apesar da alta adoção, 60% recorrem às plataformas a partir de contas pessoais, sem suporte ou diretrizes claras das empresas, um cenário que revela risco, desorganização e baixa maturidade digital.
Para Léo Xavier, sócio-fundador da Môre, os dados evidenciam um descompasso importante entre prática e governança. “A maturidade está mais na mão das pessoas do que das organizações”, diz.
Apenas 7% dos profissionais afirmam trabalhar em empresas com integração avançada de IA. A ausência de políticas e ambientes corporativos, afirma ele, transforma a tecnologia em algo mais experimental do que estratégico, dificultando ganhos consistentes de qualidade e impacto nos produtos.
Uso espontâneo da IA
O estudo também mostra que o movimento de adoção nasceu na ponta. De acordo com o levantamento, 61% dos designers já buscaram capacitação em IA por conta própria, antes de qualquer iniciativa formal das empresas.
As motivações são: ampliar velocidade, reduzir tarefas repetitivas, explorar novas ideias e se manter competitivo.
“Sem diretrizes comuns, o risco é criar padrões visuais desconectados, decisões pouco alinhadas e ausência de rastreabilidade de processos”, afirma Xavier.
Essa fragmentação também se conecta aos riscos pouco discutidos. Para o porta-voz, quando profissionais utilizam contas pessoais para trabalhar com dados sensíveis, há quebra direta de governança, insegurança jurídica e perda de controle sobre fluxos de informação, pontos críticos para a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).
Além disso, decisões importantes tomadas em ambientes não monitorados geram o que ele chama de “shadow design”, dificultando auditorias e processos de explicabilidade.
Como os designers brasileiros usam IA?
A pesquisa ainda detalha o perfil dos profissionais mais engajados no uso de IA: majoritariamente designers de produtos e serviços (UX), plenos e seniores, atuando em empresas privadas de tecnologia, com forte concentração no Sudeste.
Jovens iniciantes e líderes seniores são os mais ativos. Os primeiros por naturalidade digital e os segundos por enxergar impacto direto da IA em produtividade e estratégia.
Entre os usos mais comuns, escrita e revisão (82%) lideram, seguidas de ideação (67%), pesquisa de referências (56%) e análise de dados (55%).
No futuro, porém, Xavier acredita que o potencial mais transformador está na combinação de pesquisa, análise comportamental e automação. “A IA deixa de ser um editor de texto ou imagem e passa a conectar insights, produto e operação em tempo quase real”, afirma.
Os receios dos profissionais também ajudam a dimensionar o momento. Autoria, criatividade e veracidade aparecem como maior preocupação (24%), seguidos por compliance e LGPD (17%). Por outro lado, apenas 7% temem substituição da carreira.
Para o executivo, isso revela que o debate está menos em “se” a IA estará presente e mais em “como” será usada. Ele defende processos mais claros, transparência na documentação e formação contínua para lidar com vieses, alucinações e limites de uso.
Para ele, o primeiro passo é declarar uma tese clara, isso inclui mapear os usos atuais, definir diretrizes formais, garantir ambientes seguros, treinar equipes e criar bibliotecas proprietárias de prompts e agentes que reflitam o contexto do negócio.
“Quando a curiosidade individual encontra uma estratégia organizacional bem definida, o uso difuso deixa de ser risco e vira vantagem competitiva”, conclui.