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SXSW

Mídia: quanto vale uma comunidade fiel?

Intersecção entre conteúdo e comércio atrai investidores. Resgate da confiança da audiência e uso de inteligência artificial estão entre os desafios do jornalismo


16 de março de 2023 - 9h39

palestrantes durante painel sobre mídia, no SXSW 2023

Charles Hudson, sócio-diretor da Precursor Ventures, e Roy Schwartz, presidente e cofundador da Axios

O jornalismo já teve mais status na programação do SXSW, seja em número de sessões, seja na localização e tamanho das salas que abrigam os painéis sobre o tema. Talvez seja o fato de 2023 não ser um ano eleitoral nos Estados Unidos. Talvez o próprio evento esteja menos interessado no assunto, uma apatia que se abate também sobre investidores e parte significativa da audiência, com a ascensão das redes sociais e outros conteúdos – com os quais a imprensa disputa a atenção e o tempo de consumo de mídia.

Esta redução no poder de atração das notícias, justamente enquanto vivemos uma epidemia de desinformação, permeou diversos debates este ano, sob diferentes abordagens.

Em “What´s Driving Digital Media News”, chegou-se a um consenso quanto ao que tem diferenciado os veículos digitais quando o assunto é o valor da empresa: um foco específico em termos de audiência é o que faz brilhar os olhos dos investidores, que estão mais reticentes, em tempos de juros em patamares muito altos, historicamente, especialmente nos Estados Unidos

“Está complicado para quem tem uma audiência geral, ainda que grande. As empresas mais valorizadas estão no segmento B2B, com uma base representativa de assinantes”, apontou Roy Schwartz, presidente e cofundador da Axios, que foi vendida por US$ 525 milhões para a Cox Enterprises, em agosto de 2022.

O preço da aquisição é considerado excelente para o setor, que já não almeja mais quantias bilionárias em suas transações – uma consequência de série de negociações frustrantes para a mídia digital, como a queda espetacular no valor do Buzzfeed, após a abertura de capital.

Brent Weistein, chefe de desenvolvimento da Candle Media, afirmou que um modelo de negócios que combine receita relevante em assinaturas, uma marca forte e um público fiel e influente é o que mais chama a atenção dos fundos interessados em investir no setor de mídia.

“Esta intersecção entre conteúdo, comunidade e comércio tornou-se vital para o sucesso”, garantiu. “Aqueles que prioritariamente vendem anúncios estão competindo com o Google e o Facebook. Não é um território muito lucrativo.”

Todos os caminhos levam às comunidades

Além de valorizados pelos investidores, o serviço e a atenção exclusiva a uma comunidade trazem credibilidade para o jornalismo e a fidelidade da audiência, duas variáveis importantes para fortalecer a imprensa frente à epidemia avassaladora de desinformação.

Nessa seara da confiança, além dos ataques sistemático de políticos populistas e grupos polarizados, há também negligência dos grandes veículos, opina Candice Fortman, diretora executiva da Outlider Media, veículo que atua por meio de mensagens de texto, em Detroit (EUA).

“É uma questão de conquistar a confiança com uma comunidade, algo que muitos veículos abriram mão hoje em dia. Nossa audiência tem todo o acesso à nossa redação, o tempo inteiro”, disse, durante o debate “Redesigning Local News with Product Thinking”.

Inteligência Artificial

Assim como em praticamente todas as trilhas e temas do SXSW, a inteligência artificial também foi assunto nos debates sobre jornalismo, com destaque para três frentes:

1- Fake News – A possibilidade de uso de inteligência artificial para a produção e disseminação de informações falsas, o que resultará na junção de duas grandes forças na cruzada de grupos políticos e polarizados contra o jornalismo. “Isso vai tornando ainda mais difícil saber o que é fato em uma história”, alertou Sarah Fischer, repórter da Axios, durante o painel “The State of Journalism”, no qual se discutiu o financiamento e a confiança no jornalismo, atualmente.

2- Produtividade – Análises de dados e relatórios hoje já são tarefas designadas à inteligência artificial em algumas redações – algo que pode ser feito em escala, desde que seja comunicado com transparência ao público. O maior desafio é como aprofundar o uso da IA para qualificar o conteúdo produzido. “Bons jornalistas usarão como um recurso a mais para aumentar sua capacidade de pesquisa e formular perguntas interessantes”, comparou Aimee Rinehart, gerente de programação de inteligência artificial da Associated Press, no painel “AI in newsroom: what´s the impact on journalism”.

3 – Negócios – Para Charles Hudson, sócio-diretor da Precursor Ventures, uma das questões analisadas pelos investidores é se, no setor de mídia, a inteligência artificial tem mais potencial para beneficiar um veículo que já tem uma audiência ou se abrirá oportunidades para novos empreendimentos, construídos a partir do zero. “Neste momento, as condições para criação de valor a partir da inteligência artificial são limitadas”, ponderou, lembrando que as soluções disponíveis hoje são facilmente replicáveis.

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