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O Ocidente vira relíquia, o Oriente faz tendência

O novo rosto do consumidor do futuro


4 de junho de 2025 - 9h44

No final do primeiro dia do SXSW Londres, fui em busca da resposta para essa pergunta: quem é o consumidor do futuro? Longe dos palcos principais da conferência, num auditório mais afastado, Phil Rowley, Head of Futures da Omnicom Media Group UK, trouxe dados consistentes sobre como a sociedade global está mudando. Ele lidera iniciativas que transformam tendências de longo prazo – inteligência artificial, metaverso, sustentabilidade, bem-estar e gaming — em estratégias práticas para grandes clientes globais, incluindo Porsche, Unilever e HP.

Durante décadas, o Ocidente ditou as tendências de consumo, comportamento e inovação. Mas essa supremacia está ficando para trás. Há tempos observo que o novo “Eldorado” é o Oriente — basta ver o crescimento expressivo da Índia no Festival de Cannes Lions. O declínio demográfico no hemisfério ocidental e o crescimento econômico e populacional no Oriente estão redefinindo as forças de mercado.

A pergunta inevitável é: quem é o consumidor do futuro?

O fim da dominância demográfica ocidental já é uma realidade. Hoje, por exemplo, a taxa de fertilidade no Reino Unido está em 1,44%, muito abaixo dos 2,0% necessários para a reposição populacional. Enquanto a longevidade avança, a população economicamente ativa diminui, criando um paradoxo: mais idosos precisando de serviços e menos jovens para sustentar a economia.

Até 2050, mais de 22% da população mundial terá mais de 65 anos. Um Ocidente envelhecido transformará a dinâmica de consumo, exigindo novos produtos e serviços, desde saúde integrada com inteligência artificial até soluções personalizadas para bem-estar e longevidade.
Em contrapartida, as economias emergentes, especialmente na Ásia, adicionarão 1 bilhão de novos consumidores até 2030. A Geração Alpha, totalmente nativa digital, será protagonista de um mercado global com novas regras e ritmos.

Além das mudanças demográficas, uma revolução silenciosa está em curso: a Geração Alpha, crianças que crescem imersas em tecnologia e aprendizado assistido por IA, promete uma aceleração inédita na capacidade cognitiva e nos padrões de consumo. Ambientes educacionais integrados à inteligência artificial já apresentam ganhos de até 25% na performance acadêmica.

No mundo do trabalho, a “cognificação de tudo” já é realidade. A inteligência artificial organiza dados, otimiza processos e se integra ao corpo humano por meio de sensores biométricos. Para as marcas, isso significa lidar com consumidores mais informados, exigentes e impacientes com ineficiências.
Essa transformação impõe um marketing igualmente inteligente. Mídia, criatividade, branding e relações públicas convergem em um ecossistema integrado, onde velocidade e personalização são essenciais. A inteligência artificial ocupará o coração dos negócios, permitindo que cada consumidor seja compreendido em suas sutilezas e arquétipos.

Uma boa notícia: sustentabilidade não é mais diferencial, é pré-requisito. Mudanças climáticas, migrações forçadas e desastres naturais colocarão empresas sob pressão crescente. O consumidor do futuro, seja o jovem asiático da Geração Alpha ou o idoso europeu conectado por IA, espera mais que produtos, exige propósito, responsabilidade e ação real.

Com a população ocidental em declínio, o Oriente — especialmente China, Índia e Sudeste Asiático — não apenas cresce, mas amadurece em influência. Novas vozes já moldam tendências. O sucesso global dos filmes de Bollywood, do K-pop e dos dramas coreanos é prova disso. Esses países deixaram de ser apenas mercados consumidores, são novos centros de criação de tendências, inovação e lógicas de consumo. Não irão apenas consumir o que o Ocidente produz, definirão o que será consumido, como e por quê.

Essa inversão geopolítica exige que as marcas escutem novas vozes, desenvolvam produtos para novos contextos culturais e reequilibrem sua visão de mundo. O consumidor do futuro será, essencialmente, global e diverso — ignorar isso é um risco estratégico.

O que o mercado precisa entender é que estamos entrando numa nova era, onde demografia, tecnologia e sustentabilidade caminham juntas. A resposta para quem será o consumidor do futuro não é um número ou perfil geracional, é um mosaico global mais inteligente, mais consciente e mais exigente.
As marcas que souberem unir inteligência artificial à autenticidade, localismo a uma visão global e sustentável, serão as que prosperarão nesse novo cenário.

O futuro já começou — e ele não espera.

Enquanto o Ocidente vira relíquia, o Oriente dita tendências e conquista o protagonismo global.

O consumidor do futuro já mudou de endereço. E você?

Já escolheu o seu país? Já marcou pelo menos as próximas férias em algum país do Oriente?

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