SXSW
Reconexão com a humanidade
Em um mundo de discussões sobre o potencial da inteligência artificial, é preciso incluir a reconexão e a humanidade na conversa.
Em um mundo de discussões sobre o potencial da inteligência artificial, é preciso incluir a reconexão e a humanidade na conversa.
13 de março de 2023 - 18h48
A SXSW de 2023 veio permeada por uma alta expectativa do que seria tratado em termos de Inteligência Artificial: suas possibilidades, desafios regulatórios e expectativas para o futuro.
Quem acompanha os grupos de brasileiros que estão por aqui, percebeu que havia uma alta expectativa com a entrevista de Greg Brockman, presidente da OpenAI, empresa que desenvolve aplicações como ChatGPT, Dall-E etc.
A verdade é que a entrevista ficou aquém das expectativas, uma sensação de que não era bem isso o que esperávamos. Com respostas superficiais, Brockman fugiu das perguntas mais importantes e frustrou quem dedicou seu tempo a ouvi-lo.
Por outro lado, o keynote de abertura no salão principal da SXSW foi Simran Jeet, que trouxe uma mensagem muito poderosa sobre buscar a luz mesmo nos momentos mais obscuros de uma forma muito corajosa. Ele compartilhou histórias pessoais de racismos e todos os sentimentos envolvidos nesses momentos.
Simran não foi o único a ter voz, Kathryn Finney, Tessa Filipin, Douglas Knight, Priyanka Chopra e Esther Perel foram algumas das vozes que carregaram mensagens fortes sobre a importância de nos conectarmos de forma mais humana, empática e compassiva.
A própria Amy Webb (futurista e CEO do Future Today Institute) dedicou sua apresentação sobre o Tech Trends Report para abordar os temas relacionados à Inteligência Artificial. Ela destacou muito os impactos dessas tecnologias na forma como nos relacionamos entre si e de que forma o futuro pode promover ainda mais divisão se não tomarmos melhores decisões em relação a essas novas tecnologias.
A psicoterapeuta Esther Perel, que é conhecida por seu trabalho sobre relações humanas, chamou muito atenção de que a tecnologia está nos deixando mais rígidos quando deveríamos ser mais flexíveis e nos colocando em busca de certezas quando o mundo está cada vez mais incerto. Para ela, buscamos de forma incessante experiências sem fricção e esquecemos que fricções fazem parte do que torna as experiências prazerosas.
“Estamos vivendo uma espécie de vida assistida pela tecnologia que tem erodido nossas capacidades humanas.” (Esther Perel)
Assim como Simran abordou sua visão sobre o otimismo, com a clareza de que se propor otimista não quer dizer que vamos afastar, ignorar ou deixar de lidar com as dificuldades da jornada, pois a vida não existe em planos binários, Perel também reforçou que a maior parte das questões humanas não são problemas a serem resolvidos e sim paradoxos que precisam ser gerenciados.
Nesse sentido, temos algo a refletir sobre as inteligências artificiais, pois mesmo aquelas com foco em empatia, como a Replika, ainda não sabem lidar com dilemas sociais.
“Como viver de uma forma que honra as dificuldades da sua vivência, mas que equilibra isso percebendo e valorizando as belezas que coexistem?” (Simran Jeet)
Tudo isso para mim foi mais significativo quando ouvi Douglas Knight (Chief People Officer na Greenhouse) no painel que discutiu sobre como construir um futuro do trabalho mais conectado.
O CPO trouxe muito os desafios que temos em um cenário descentralizado, onde as pessoas podem (e devem) ter flexibilidade e poder de escolha. As empresas precisam ter a intenção em promover conexão e na garantia de ambientes psicologicamente seguros.
“Em algum momento do passado, seu melhor amigo foi um estranho para você.” (Douglas Knight)
A construção dessas conexões e de uma força de trabalho saudável não é algo trivial e vai demandar das lideranças muita proximidade, ferramentas de pesquisa e people analytics, que são fatores super importantes, mas é necessário uma conexão humana.
Ter momentos para conversas pessoais, se mostrar vulnerável e promover momentos para experiências presenciais planejadas para promover entrosamento e aprendizado (mesmo que seja uma vez ao ano) são alguns dos pontos que Douglas trouxe no seu painel.
A partir disso, foi inevitável o questionamento sobre como esses pontos se relacionam com a produtividade e de que forma isso é mensurado na Greenhouse. A resposta? Certamente levarei para a vida.
“Eu não acredito em produtividade, eu me importo com a saúde.”
Se as pessoas e a cultura estão saudáveis, teremos todos os nossos resultados e, para isso, precisamos de lideranças humanas que permitam que as pessoas se sintam valorizadas, vistas e ouvidas.
“Uma árvore saudável sempre dará frutos.”
Portanto, se queremos construir não apenas times e negócios, mas também uma sociedade capaz de extrair todo o valor das novas tecnologias de inteligência artificial, é melhor não olhar tão diretamente para elas, nesse momento em que os usos e potenciais não estão claros aproveite para correr com desenvolvimentos das habilidades humanas.
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