DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

Sejam empáticos, pelo bem da humanidade

Na era da IA, conexões humanas verdadeiras serão raras…e valiosas


14 de março de 2024 - 13h23

Quando se fala sobre inteligência artificial e os rumos para os quais ela vem levando o mercado, a preocupação com os lucros e cargos ganham destaque. Mas é imprescindível refletir se, na busca pelo ponto de chegada, estamos nos esquecendo que o centro da jornada sempre deverá ser os seres humanos.

Colocar as pessoas na base do processo de estabelecimento da IA é muito mais desafiador do que parece. Um dos pontos mais discutidos sobre essa ‘revolução da empatia’ é o quanto as ferramentas de IA tendem a reforçar as chamadas “bias”, ou vieses preconceituosos sobre um grupo de pessoas em comparação a outro.

Para exemplificar a questão das bias, a especialista no assunto Dra. Joy Buolamwini revelou dados alarmantes em sua última palestra em Austin. Segundo a pesquisa da cientista PhD do MIT, a precisão de identificação de faces da IBM reduz de 94,4% para 79,7% quando passamos de homens para mulheres. Numa comparação mais específica, a precisão das datatechs para identificação facial de mulheres pretas apresenta uma disparidade de 34% em relação aos homens brancos.

A falha na identificação não é um defeito da IA, ela retrata padrões de pensamento da sociedade formulados a partir dos dados recolhidos e – essa é a parte mais determinante – reforça tais padrões. Comissões estão sendo formadas ao redor do mundo a fim de buscar estratégias sociais para solucionar esse problema – entre elas a Algorithmic Justice League, da própria Dra. Buolamwini -, mas ainda enfrentam muitas barreiras tecnológicas e humanas.

Essa luta para reintroduzir a humanidade nas narrativas de mercado vai além dos centros de estudo sobre o tema. Os diretores de cena Daniel Kwan e Daniel Scheinert, criadores do premiadíssimo longa metragem Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo fizeram um apelo ao público na última terça-feira para que se lembre diariamente de resgatar as conexões humanas nos próximos anos de mudança social acelerada. Para eles, é o relacionamento além das telas que deve pautar as histórias que contaremos a partir de então.

A dupla ainda discorre sobre o poder que as histórias têm de reconciliar paradoxos e transcender dicotomias entre gêneros, temas e pontos de vista. Produtos de entretenimento como filmes, conteúdos nativos online e até mesmo propagandas terão portanto a capacidade e a responsabilidade de construir perspectivas de mundo mais inclusivas, justas e empáticas.

Boas perspectivas são imprescindíveis numa era de transformações onde a previsão é o aumento da disparidade social em diversos setores da sociedade. O mundo que vamos construir a partir daqui não é apenas tecnológico, ele também é humano e deve ser pensado sem nunca nos esquecermos daquilo que, acima de qualquer coisa, nos torna humanos: a habilidade de se colocar no lugar do outro.

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