A Copa Feminina terminou. E agora, o que fica?

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Opinião

A Copa Feminina terminou. E agora, o que fica?

Essa Copa deixa um legado para as futuras gerações em que vimos começar uma mudança na aceitação do esporte


29 de agosto de 2023 - 9h18

(Crédito: ink-drop-AdobeStock)

No último domingo teve final da Copa Feminina, que a seleção espanhola saiu com seu primeiro título mundial. E que consagrou Alexia Putellas, atualmente a melhor do mundo com um título inédito em sua galeria cada vez mais extensa. 

Além dos feitos em campo, essa Copa foi marcada por diferentes aspectos, mas o que eu acredito ser mais relevante destacar é o legado. 

Foi uma copa de recordes: Recordes de público nos estádios, recordes de audiência, recordes de integrantes da imprensa na cobertura in loco, recordes de feitos em campo, como a seleção australiana que embalou seu país até chegar às semifinais da competição. 

Essa Copa sem dúvida deixará um legado para as futuras gerações em que vimos começar uma mudança na aceitação do esporte. Hoje o futebol feminino ainda enfrenta muitas questões em relação a estrutura, formação de atletas e a calendário de competições. Mas hoje ouvimos mais vozes que falam sobre essa mudança e o que vem acontecendo no universo do esporte feminino. 

Para nós, foi uma Copa decepcionante. Tínhamos a esperança de ver o Brasil chegar mais longe na despedida da nossa principal estrela, mas em uma campanha desastrosa, caímos logo na fase de grupos. Reflexo claro da falta de investimentos e apoio nessa seleção, que se viu diante de um calendário de jogos sem consistência. Para quem acompanha mais de perto, sabíamos que o título em si seria um sonho mais distante, mas uma campanha mais embalada sem dúvida nenhuma era esperado.  

Se por um lado as seleções e o torneio em si conseguiram atrair mais atenção do público, o mesmo aconteceu com as marcas, porém não na mesma escala. O investimento no esporte feminino ainda é muito tímido e limitado aos grandes veículos. Há o desejo das marcas em investir, mas ainda com muito receio em relação ao retorno. E é compreensível, porém é que o que as marcas precisam entender é que o apoio com os investimentos é fundamental e necessário para que esse desenvolvimento continue acontecendo. 

Em sua entrevista emocionada de despedida, Marta falou muito sobre isso. Na falta de visibilidade da modalidade e na criação de referências e ídolos do esporte. E na persistência que as atletas precisam ter para seguir na carreira hoje. E como esse cenário vem mudando aos poucos. Mas ainda é muito lento. O caminho da igualdade no futebol está longe de chegar em patamares consideráveis. 

Para citar um outro exemplo e fazer um paralelo, o tênis é um esporte que vem quebrando essa barreira da desigualdade de forma mais consistente e continua. E sabe o que ajudou muito nessa mudança? – Além é claro da superexposição de tenistas espetaculares como Serena Williams, que levou o tênis feminino a outro patamar –  

A série da Netflix, Break Point. Que mostra a rotina dos jogadores durante a temporada de tênis. Em uma fórmula bem simples, a Netflix mostra os bastidores de jogadores e jogadoras em suas rotinas de treinos, preparação para torneios e em sentimentos antes e depois dos jogos. Parece óbvio né? 

Mas é uma mudança de paradigma tão grande que mostra que de fato há igualdade nos desafios, anseios e busca por vitórias e títulos tanto nos homens quanto nas mulheres. E dá visibilidade a dedicação das atletas femininas, seus anseios, projetos e dedicação.  

Já que o ponto é visibilidade, voltemos ao futebol. Ainda que a Copa tenha acabado, ainda existem torneios bem importantes de futebol feminino que precisam de apoio e investimento, para continuarem crescendo em audiência. Para citar dois, o Brasileirão Feminino, que hoje tem um calendário absolutamente bizarro – com jogos as 15h de uma segunda-feira – e a Libertadores Feminina, que tem o Palmeiras como atual campeã. 

E sabe o que pode ajudar a começar a mudança desse calendário de jogos absurdo? O investimento das marcas. Se houver interesse em patrocínio e procura pelas modalidades femininas, as emissoras irão transmitir. As confederações vão ter mais atenção. 

Até 2021, a Libertadores feminina não era transmitida por ninguém. Ano passado, foi transmitida por SporTV e Pluto TV. Para esse ano, cinco emissoras compraram os diretos. Assim construímos uma cadeia valiosa de apoio ao esporte. 

E para terminar, fica o conselho de sempre. Incentive o esporte. Se tem filhos pequenos, incentive para que eles assistam esporte feminino e masculino. Leve ao estádio. Aproveite o fato de que levar a um jogo feminino é infinitamente mais tranquilo que ir assistir um jogo masculino. A mudança rumo a igualdade começa por nós e passa pela criação que damos as futuras gerações. 

O fato de a Copa ter sido na Austrália, certamente prejudicou a exposição do torneio, mas não ao ponto de torná-lo invisível. 2027 está logo ali, com a possibilidade de o Brasil sediar a competição. Vamos torcer e muito por isso. Pois o esporte, masculino e feminino, nos proporciona sempre um espetáculo emocionante. 

O esporte sempre teve essa capacidade e depende do nosso apoio para ser cada vez mais frequente no esporte feminino. 

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