Opinião

O dia em que minha voz sumiu no palco

Sobre os desafios que nos paralisam e o peso esmagador das expectativas

Patrícia Muratori

Diretora do YouTube para a América Latina 14 de julho de 2025 - 7h18

Crise ao falar em público

(Crédito: Unsplash)

Lembra daquele frio na barriga antes de uma grande apresentação? Aquela sensação que aperta a cada minuto, fazendo suas mãos suarem e sua voz tremer? Conheço essa sensação muito bem. Há doze anos, como um rosto novo no Google, vivi o pior pesadelo de todo palestrante: perder a voz no palco. 

Era uma das minhas primeiras apresentações, a sala estava cheia com algumas centenas de pessoas. Eu estava lá representando uma indústria e de repente, as palavras simplesmente não saíam. Minha garganta secou, apertou, e tudo o que consegui emitir foi um sussurro fraco. 

Estranhamente, lembro das pessoas que estavam lá assistindo lançarem um olhar de ajuda. Sim, eu consegui recuperar a voz, não como antes, mas segui terminando minha apresentação. Bom, não era apenas sobre minha voz; era sobre minha confiança, minha capacidade percebida e o peso esmagador da expectativa. 

Além do nervosismo

Naquele momento de vulnerabilidade crua, iniciei uma jornada de autodescoberta. O que realmente fez minha voz desaparecer? Não foi apenas um esforço físico; foi o acúmulo de um nervosismo imenso e um estresse implacável.  

Eu era nova no Google, ansiosa para provar meu valor, e a pressão que colocava em mim mesma para ser perfeita era imensa. Esse coquetel de emoções se manifestou fisicamente em minha agitação interna. Decidi memorizar a apresentação, mas não a dominei completamente, e comecei a duvidar de mim mesma. Fiquei nervosa até o momento de subir ao palco – e até depois. 

Foi então que percebi que a vulnerabilidade não era uma fraqueza: era um sinal. Meu corpo estava me dizendo para reconhecer meus medos e para encontrar uma maneira mais saudável de abordar esses momentos de alto risco.  

Essa percepção me lembrou o primeiro passo em direção ao que a psicóloga Susan David chama de agilidade emocional. Como ela descreve em seu livro, é a capacidade de navegar em nossa paisagem interna de pensamentos e emoções com flexibilidade e intenção. Em vez de lutar contra meu nervosismo e estresse, como reconhecê-los como informações valiosas, não como limitações, e então a responder estrategicamente às situações? 

O caminho de volta para as inúmeras apresentações que iriam surgir não foi rápido nem fácil; levou anos de aprendizado e esforço dedicado. Aprendi que a verdadeira força não vem de suprimir o medo, mas de reconhecê-lo e, então, se preparar estrategicamente para enfrentá-lo. 

Recentemente, terminei pela segunda vez o livro da psicóloga Carol Dweck que discorre sobre mentalidade de crescimento. Confesso que muito desse livro me ensina como ser mãe, agora de dois adolescentes, que com apenas um ano de diferença são tão diferentes. Mas passei a olhar para isso em mim também. Mudei de acreditar que falar em público era um talento fixo que me faltava para entender que era uma habilidade, como qualquer outra, que poderia ser aprimorada e fortalecida por meio de esforço consistente e um compromisso com o aprendizado. 

Uma das questões essenciais: passei a entender que não há como fazer uma boa palestra, uma apresentação, seja de cinco minutos ou de uma hora, a menos que você tenha algo que valha a pena falar. Conceituar e enquadrar o que você quer dizer é a parte mais vital da preparação.  

Depois de assistir a inúmeras palestras do TED (e até mesmo ter feito uma há três anos, acreditem) e ouvir vários coaches, aprendi que para oradores amadores e inexperientes, o ato físico de estar no palco pode parecer a parte mais difícil de uma apresentação, mas as pessoas tendem a superestimar sua importância.  

Acertar as palavras, a história e a substância é um determinante muito maior de sucesso ou fracasso do que como você se posiciona ou se está visivelmente nervoso. E quando se trata de presença de palco, uma boa dose de treinamento fará uma grande diferença. 

A partir daquele episódio, não apenas pratiquei minhas palestras; treinei para elas. Ensaio inúmeras vezes, não apenas memorizando o conteúdo, mas internalizando-o, entendendo cada parte. Filmar-me foi um divisor de águas; assistir-me de volta foi desconfortável no início, mas me permitiu identificar meus hábitos nervosos, refinar meus gestos e melhorar minha entrega. 

Eu ativamente busquei feedback honesto de colegas e mentores de confiança. Suas críticas construtivas, mesmo quando difíceis de ouvir, foram inestimáveis para me ajudar a crescer. E, claro, sempre que posso, mergulho no assunto. Esse conhecimento profundo se tornou um poderoso antídoto para minha ansiedade. 

Abraçando o nervosismo

Levei anos para entender verdadeiramente que é normal ficar nervosa. Seja uma reunião importante, apresentar-se em um novo grupo ou subir ao palco, esses arrepios são uma experiência humana compartilhada. Eles são um sinal de que algo importa para nós.  

De fato, reconhecer o nervosismo pode realmente criar engajamento. Mostrar que somos humanos (sim, a IA ainda não nos ajudou nesse ponto), seja por meio do nervosismo ou do tom de voz, é uma das maneiras mais poderosas de conquistar uma audiência, desde que seja autêntico.  

Hoje, não vejo mais o nervosismo como um inimigo, mas como um companheiro que está por aqui. Ao longo dos anos, descobri várias práticas que ajudam a acalmar minha mente e permitir que não perca minha voz.  

Assim como na prática das provas de corrida de rua, também encontrei poder na visualização, imaginando-me até o final de uma palestra ou apresentação. Um dos conselhos mais interessantes que recebi é que, antes de começar, tento conectar-me com a audiência fazendo contato visual com alguns rostos amigáveis. Isso ajuda a me centrar e me lembra que estou falando com pessoas reais, e não com uma multidão sem rosto.  

Demorou um tempo para escolher compartilhar minha jornada de uma palestra sussurrada. Minha esperança é que, ao dividir essa experiência, possamos criar uma rede de apoio umas às outras para subir em nossos próprios palcos, quaisquer que sejam, sempre com mais coragem e autenticidade.