Opinião

Por que a sustentabilidade exige mais escuta, rede e coragem

Furar bolhas, promover escuta qualificada e gerar pertencimento é o que faz com que parcerias deixem de ser conceito e se tornem prática

Helen Pedroso

Diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos do Grupo L’Oréal no Brasil 11 de julho de 2025 - 13h03

(Crédito: Shutterstock)

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A sustentabilidade nunca foi simples, mas hoje ela é, mais do que nunca, complexa. E não só pelos temas que a compõem e pela urgência ambiental, mas pelas relações que exige. 

Com cinco anos restantes para alcançarmos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, vivemos uma espécie de corrida contra o tempo. Só que essa corrida não se vence com velocidade, mas com colaboração real. Não há mais espaço para discursos isolados ou soluções de prateleira. É hora de agir em rede, com coragem, escuta e compromisso. 

Recentemente, tive a oportunidade de mediar um painel no Rio2C ao lado de duas mulheres que admiro imensamente: Karla Prado, minha parceira de trajetória no Pacto Global da ONU, e Giu Libar, representante da Unesco-Sost. Foi uma conversa potente sobre alianças globais e o papel transformador da comunicação, da ancestralidade e da educação na agenda 2030. 

Ali ficou ainda mais claro que, num sistema tão interconectado, os desafios da sustentabilidade não podem ser enfrentados sozinhos. Precisamos da potência de cada setor — empresas, governos, organizações da sociedade civil, universidades e juventudes — dialogando, construindo e, principalmente, se escutando. 

É a partir dessa escuta, e da ação conjunta, que conseguimos gerar impacto real. Posso dizer com conhecimento de causa, por exemplo, que dentro do Grupo L’Oréal, onde atuo, nenhuma ação de impacto social ou ambiental acontece de forma isolada. Tudo é feito em rede, com múltiplos parceiros, com base em escuta e cocriação. 

Um estudo recente conduzido pela consultoria francesa Ásterès mostrou que, além de movimentar mais de R$ 19,5 bilhões por meio de vendas diretas e indiretas, o Grupo L’Oréal no Brasil gerou mais de 43 mil empregos em 2023, número que revela o forte efeito multiplicador do setor da beleza. Mas esses resultados econômicos não estão dissociados dos compromissos socioambientais da companhia. Pelo contrário: é justamente essa integração que tem sustentado um progresso sólido e contínuo. 

Com forte compromisso com a agenda de inclusão social produtiva, o grupo se dedica há anos a promover uma beleza que impacta e transforma comunidades. Oferecemos projetos de capacitação ou empregabilidade para gerar renda para pessoas em situação de vulnerabilidade, principalmente mulheres. O Formare, iniciativa em parceria com a Fundação Iochpe, por exemplo, capacita jovens a se tornarem operadores de produção na indústria da beleza. Ao todo, cerca de 14 mil mulheres já foram incluídas ou qualificadas junto a instituições parceiras. 

Esses dados nos lembram que a sustentabilidade também mora nos compromissos de longo prazo e nas redes que se constroem com base em escuta ativa e colaboração. E é justamente no diálogo que reside nossa maior fortaleza, e também nossa maior vulnerabilidade. Em tempos em que defender pautas ambientais ou rever metas climáticas pode gerar resistência, é preciso coragem para sustentar compromissos, mesmo diante de contextos políticos e sociais desafiadores. 

Também é tempo de reconhecer nosso papel como comunicadores. A comunicação precisa estar no centro do ODS 17, como um fio que costura pontes, traduz complexidades e convida à ação. Furar bolhas, promover escuta qualificada e gerar pertencimento é o que faz com que parcerias deixem de ser conceito e se tornem prática. 

É preciso lembrar, no entanto, que parcerias genuínas não se constroem sem reconhecer de onde viemos, sem respeitar os contextos e trajetórias, e sem valorizar os saberes diversos, especialmente aqueles historicamente invisibilizados. Como nos lembrou Giu, falar de ancestralidade é também um ato de futuro: é só sabendo de onde viemos que conseguimos avançar com propósito. 

Deixo aqui um convite: vamos olhar com mais coragem para o sistema como ele é. Imperfeito, sim, mas cheio de potência. Vamos ativar conexões não só entre pessoas e instituições, mas entre propósitos. 

Porque construir um futuro sustentável é, antes de tudo, um exercício de relação. E, como toda boa relação, exige confiança, presença e entrega.