A importância da representatividade das pessoas com deficiências na mídia

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Opinião

A importância da representatividade das pessoas com deficiências na mídia

Produções culturais têm importante papel no anticapacitismo pois ajudam a formar e disseminar padrões de pensamento e de comportamento


17 de agosto de 2023 - 8h28

(Crédito: Amanita Silvicora/shutterstock)

Já se deparou com a frase “você é o que consome”? Pois ela pode ser útil para compreendermos a importância de exercer determinadas escolhas na hora de adotar um posicionamento de vida anticapacitista. Por exemplo, escolher assistir a um programa de humor que utiliza situações capacitistas como forma de entretenimento é ser conivente com esse comportamento. 

O mais sensato é mudar de canal, porém outra atitude – como postar opiniões nas redes sociais, analisando o teor capacitista do programa – pode ser uma boa oportunidade de exercer um papel didático na empreitada de romper barreiras para as pessoas com deficiência.  

Aliás, com relação ao capacitismo na mídia, não têm faltado oportunidades para trocar de canal ou desligar a televisão. Ao longo de décadas, novelas e filmes registraram as deficiências como um tipo de castigo muitas vezes direcionado aos vilões e às vilãs das histórias. Outra prática comum, é a do cripface, que ocorre quando uma atriz ou um ator sem deficiência interpreta uma pessoa com deficiência. Se a personagem é celebridade, acaba por transmitir ao público uma sensação de que a deficiência é uma condição irreal, que deve permanecer apartada no cotidiano verdadeiro, dado que aquele ou aquela artista só tem uma deficiência representada.  

É como se o universo das pessoas com deficiência pudesse ser restrito a um plano específico que só é acessado em ocasiões de exceção ou em contextos bem particulares. Essa percepção reforça o viés de normalização, de afastamento da deficiência da vida comum do dia a dia, tornando-se um desserviço à naturalização, à incorporação da deficiência como um componente legítimo da existência.   

O mesmo efeito surge quando bancos de imagens utilizam modelos sem deficiência para retratar pessoas com deficiência. Cria-se uma artificialidade que é facilmente perceptível para quem tem deficiência e que diminui a nossa representatividade. O cripface contribui ainda para diminuir as oportunidades de trabalho para atrizes, atores, modelos e influencers com deficiência.  

A pesquisa “Global Consumer Pulse”, realizada pela Accenture Strategy em 2019, constatou que 83% das pessoas consumidoras brasileiras preferem comprar de empresas que defendem propósitos alinhados aos seus valores de vida, evitando marcas que se mantêm neutras. Não se posicionar é apoiar a opressão. As empresas precisam cada vez mais retratar (foto e vídeo) as pessoas que representam a diversidade corretamente em suas comunicações como campanhas publicitárias, relatórios anuais, jornais internos, newsletter, redes sociais etc. Essa é uma ação afirmativa que colabora com a cultura de Diversidade e Inclusão e com a agenda ESG. 

A mídia e as produções culturais têm importante papel no anticapacitismo. Elas ajudam a formar e disseminar padrões de pensamento e de comportamento. São fundamentais na estruturação de uma sociedade mais inclusiva. Por isso, quando alguém deixa de prestigiar o entretenimento capacitista, também faz a diferença a nosso favor. Essa contribuição cresce na medida em que a pessoa indica conteúdos inclusivos para seus contatos. 

Atualmente, os influenciadores digitais também exercem essa função de formadores de opinião social. Seguir alguém que adota um posicionamento anticapacitista nas redes sociais é um jeito de se aliar a esse movimento e deixar de prestigiar quem exerce o capacitismo.  

Programas que contam nossas histórias com trilha sonora triste de fundo, sempre associando a nossa imagem a infelicidades, tristezas, doenças: são desserviço! Não vale nem para sensibilizar o público para arrecadar doações. É possível promover ações de voluntariado para instituições que apoiam a pessoa com deficiência, sem fazer disso um ‘mar de lágrimas’. Para isso, conhecer as rotinas de uma pessoa com deficiência nos ajuda a entender que esse clima depressivo e de superação — palavra essa que é a própria materialização do capacitismo — não traduz o cotidiano da pessoa com deficiência.  

Quando seguimos uma pessoa com deficiência nas redes sociais, é interessante considerar que não basta simplesmente inseri-la em uma lista de contatos. É preciso interagir de fato, comentar, compartilhar conteúdo. Essas atitudes fazem dessa conexão um instrumento muito mais efetivo contra o capacitismo. É necessário gerar um fluxo verdadeiro de informação e de debate de boas ideias. Contribuir com o aumento da representatividade da pessoa com deficiência também é o papel das pessoas anticapacitistas. 

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