Opinião

A inovação que nasce da favela e pode salvar o futuro

Em um mundo marcado por desigualdade social e emergências ambientais, apoiar tecnologias sociais não é filantropia, é estratégia

Emilia Rabello

Fundadora e CEO da Nós — Inteligência e Inovação Social 5 de setembro de 2025 - 11h55

(Crédito: Shutterstock)

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Quando pensamos em tecnologia, muitas vezes relacionamos à inteligência artificial, foguetes espaciais, grandes laboratórios de ciência e inovação. Porém, existe uma mais silenciosa, que pode ser ainda mais revolucionária: a tecnologia social.

Ela não nasce em centros de pesquisa bilionários, mas, sim, em territórios onde as urgências da vida — a falta de saneamento, insegurança e ilhas de calor — são mais gritantes. Ela surge como soluções simples, coletivas e profundamente enraizadas, com potencial enorme de impacto, transformando realidades.

O Brasil é um berço de inovação social: o Banco Palmas, que criou uma moeda social para movimentar a economia de um bairro no Ceará; as cisternas no semiárido, que mudaram o destino de famílias ao garantir acesso à água; e o Teto Verde Favela, no Rio de Janeiro, que transforma telhados em jardins vivos para reduzir as altas temperaturas nos territórios populares.

E com esse mesmo propósito surgiu o Outdoor Social, criado dentro da favela para transformar muros e fachadas em veículos de comunicação e geração de renda. Ao longo do tempo, ele deu origem à NÓS, empresa que expandiu a lógica para telas digitais, dados de consumo, redes de criadores e mobilização comunitária. Porém, aqui, o mais importante não é contar a trajetória da NÓS, mas, sim, ressaltar uma lição: a favela não espera, ela cria.

É exatamente isso que deveria interessar, e muito, às marcas. Em um mundo marcado por desigualdade social e emergências ambientais, apoiar tecnologias sociais não é filantropia, é estratégia de futuro. Marcas que investem nesses modelos se conectam com milhões de consumidores de territórios historicamente ignorados, ao mesmo tempo em que constroem soluções reais para problemas que impactam a sociedade.

Porque, se por um lado temos um mercado global ainda pautado pela concentração de riqueza e por um consumo excludente, por outro, temos territórios que, com pouco recurso, criam soluções sustentáveis, replicáveis e de impacto imediato. Essa contradição revela ainda que a inovação que o mundo precisa talvez não esteja no Vale do Silício, mas nos becos de uma favela brasileira ou nos campos do semiárido nordestino.

Esses cases de sucesso devem inspirar novas soluções. E é aqui que entra uma oportunidade única para as marcas: entender que reputação já é um fator definitivo na decisão de compra do consumidor. Não basta apenas anunciar produtos, é preciso investir em ideias que transformam territórios, apoiar serviços que promovem inclusão e apostar em modelos que dialogam com um futuro mais justo e sustentável.

Tecnologia social também é ESG, deve estar presente na agenda das empresas, como compromissos concretos. Narrativas vazias não sustentam negócios. Marcas que não investirem em tecnologias sociais, que não se conectarem a soluções de impacto, estarão fora do jogo.