A trajetória de líderes femininas pela transformação da educação

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A trajetória de líderes femininas pela transformação da educação

Conheça a carreira e as perspectivas de algumas fundadoras de edtechs em busca de um futuro mais tecnológico para o ensino no país


24 de janeiro de 2024 - 16h24

No complexo cenário do mercado educacional, as edtechs apareceram no Brasil para transformar a realidade da educação com flexibilidade e agilidade. No entanto, ao chegarem, independentemente de seu porte e subcategoria, encararam muitos desafios. De acordo com a mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 70 milhões de jovens e adultos não concluíram o ensino tradicional por diferentes motivos: situações de vulnerabilidade, necessidade de trabalhar (39,1%), e para mulheres, além destes pontos, todos os afazeres domésticos (11,5%) e a gravidez precoce (23,8%).

Apesar dos percalços, durante a pandemia, quando trabalhar e estudar remotamente se tornou uma necessidade, esse tipo de startup ganhou força como propulsora da transformação digital do ensino nas escolas e em outras instituições de educação de todo o país. Segundo a ABStartups, houve um crescimento de 44% no número de edtechs ativas no Brasil desde 2020. Hoje, são 813 empresas, o que representa um mercado promissor do ponto de vista de consumo e, também, de atração de investimentos.

De modo geral, essas companhias investem em softwares personalizados, plataformas online, gamificação, aplicativos e outras tecnologias para tornar o ensino e a aprendizagem mais dinâmicos e atraentes para os alunos, buscando, assim, contribuir para reter estudantes e superar as estatísticas deficitárias da educação no Brasil. Outro desafio que as edtechs ajudam a enfrentar é a descentralização da comunicação em instituições de ensino, com soluções para criar um ambiente mais colaborativo entre alunos, professores e responsáveis.

Diante desse cenário, muitas lideranças femininas têm constituído, investido e estado à frente de edtechs. De acordo com a ABStartups, startups lideradas por mulheres representam 15% desse setor, e apenas 12% são fundadoras. Dessa parcela, aproximadamente 12% estão ligadas à educação, ficando atrás apenas de saúde (15%).

Para Marcela Quintella, co-fundadora da Education Journey, edtech que conecta profissionais a soluções inovadoras do mercado de educação, o segmento é favorável a mulheres e ao desenvolvimento de líderes femininas. “Nosso setor é muito associado à inovação, à abertura de novas ideias e à quebra de barreiras tradicionais, e isso pode criar um ambiente propício para a ascensão de lideranças femininas. Mulheres têm mais interesse em empresas de impacto, pois querem trabalhar com propósito.”

Já Janine Rodrigues, fundadora da Piraporiando, edtech que cria experiências e conteúdos antirracistas e de promoção da equidade de gênero, conta que as mulheres são maioria entre seu público externo e interno. “Há um poder imenso em nós, mulheres. Vemos isso quando vamos atuar numa escola ou numa empresa, por exemplo. Em geral, quem mobiliza o início dos nossos projetos nestes espaços são elas. Quem viabiliza a continuidade e o maior alcance dos nossos programas também.”

Conheça a trajetória de algumas lideranças femininas que estão em busca de um futuro mais dinâmico e tecnológico para a educação no país.

Bia Santos, CEO da Barkus 

(Crédito: Divulgação)

Bia Santos é CEO e fundadora da Barkus, edtech de inclusão e educação financeira investida pelo Google for Startups cuja principal solução é a Iara, um chatbot que ensina finanças pelo WhatsApp. A empresa já atendeu mais de 140 mil pessoas em todos os estados brasileiros. A executiva também é Forbes Under 30, Powerlist 100, Tech Entrepreneur Brasil – Women that Build Awards, além de vencedora do prêmio Mulheres que Transformam, da XP Inc. Administradora formada pela UFRJ e Universidade do Porto, é pós-graduada em História e Cultura Africana e Afro-brasileira pelo Instituto Pretos Novos, com pesquisas sobre diversidade organizacional e finanças. 

Para Bia, as edtechs contribuem para a mudança do cenário da educação brasileira à medida em que democratizam mais o conhecimento. Ainda segundo ela, a Barkus contribui para isso ao ir além do ensino tradicional. “A educação brasileira enfrenta desafios, e as edtechs têm se responsabilizado por oferecer soluções inovadoras para esses problemas, aumentando a acessibilidade e a personalização. Ao incorporar tecnologia, dados e métodos pedagógicos inovadores, contribuímos para reduzir as disparidades educacionais, atendendo a necessidades específicas de grupos diversos e impulsionando o desenvolvimento socioeconômico do país, afinal, a educação é a base de tudo.” 

Carine Roos, fundadora e CEO da Newa 

(Crédito: Divulgação)

Mestre em Gênero pela London School of Economics and Political Science (LSE), Carine Roos é pós-graduada na Faculdade Israelita Albert Einstein em Cultivando Equilíbrio Emocional nas organizações. Atua como especialista em Diversidade, Equidade e Inclusão há 10 anos, e lidera a Newa, edtech de impacto social que prepara organizações para um futuro mais inclusivo por meio de sensibilizações, workshops, treinamentos e consultoria de diversidade. 

A startup age em prol da diversidade e do bem-estar genuíno. Desde a sua fundação, a Newa tem como missão o desenvolvimento de lideranças que promovam ambientes mais inclusivos e psicologicamente seguros.  

Gabriela Chaves, CEO da NoFront 

(Crédito: Reprodução)

Economista formada pela PUC-SP, Gabriela também é mestra em Economia Política Mundial pela Universidade Federal do ABC, pesquisadora do NEPAFRO (Núcleo de Estudos Afro-Americanos) nas áreas de gênero, raça e trabalho e membra do South Feminist Futures, associação transnacional de ativistas feministas que atua em prol das agendas femininas.  

É fundadora e CEO da NoFront, edtech de empoderamento financeiro que tem como missão promover o crescimento econômico da população negra e periférica, por meio da educação e planejamento financeiro. Desde a sua fundação, em 2018, a NoFront aposta no rap como elemento educacional financeiro, ao usar o trabalho de artistas como Racionais, Emicida, Jup do Bairro e Djonga. Assim, já formou mais de 5 mil pessoas no Brasil e no exterior. 

Janine Rodrigues, fundadora da Piraporiando 

(Crédito: Divulgação)

Educadora, escritora e psicanalista, a carioca é fundadora da Piraporiando – Educação com afeto para a diversidade, que cria experiências e conteúdos antirracistas e de promoção da equidade de gênero. A empresa é considerada uma das 10 edtechs mais importantes da América Latina pela Liga Edtechs.  

Formada em Gestão Socioambiental com especialização na mesma área pela UFRJ, Janine atua há 20 anos nas temáticas socioambientais, de impacto social, equidade de gênero, cultura afro-brasileira e ESG. Foi eleita pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) uma das maiores lideranças em diversidade e educação da América Latina e Caribe, sendo referência na região principalmente nas áreas de diversidade, letramento racial, relações étnico-raciais, antirracismo e reparação histórica. 

Atuou por 12 anos junto a comunidades tradicionais, principalmente população ribeirinha, quilombolas, indígenas e pequenos agricultores, momento em que teve suas primeiras motivações para criar a edtech.  

“Além de perceber cada vez mais a importância da educação, mexia muito comigo o fato de que existe um mundo plural e diverso que não é valorizado, enquanto um mundo branco, heteronormativo e masculino é colocado como o padrão, a régua, e até mesmo o objetivo de sonho ideal de muitas pessoas. Ser uma mulher negra, que pode estudar, se formar, escolher a área de trabalho e se aperfeiçoar nela já era, por si só revolucionário. Mas não queria e não quero ser a única. E esse desejo fez nascer a Piraporiando. Nosso público é majoritariamente feminino, de meninas de 3 a 50 anos. Há um poder imenso em nós, mulheres”, diz.  

Loredana Sarcinella, sócia e executiva da Zeka  

(Crédito: Divulgação)

Executiva com mais de 30 anos de experiência em empresas multinacionais dos setores de bens de consumo e tecnologia como CMO, Loredana tem passagem na liderança de áreas, projetos e times na América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia. Passou por grandes empresas como Dow, Santista Alimentos, Colgate, Natura e Arcor, além de Motorola e Samsung. Desde fevereiro de 2022, a executiva é sócia, conselheira e responsável pela área comercial da Zeka, que aposta na gamificação para ajudar jovens adultos a conquistarem o diploma do ensino médio por meio de uma plataforma que oferece trilhas de aprendizagem com aulas ao vivo, assíncronas e simulados em tempo real.

O diferencial da empresa, segundo Loredana, está no conteúdo proprietário e nos algoritmos inteligentes, que identificam os gaps de aprendizagem individuais, em uma jornada inteligente e gamificada, com monitoramento e acompanhamento da evolução dos alunos até a conclusão do curso. A executiva diz que a edtech foi criada com foco nos mais de 70 milhões de jovens e adultos que evadiram do ensino tradicional.

Ainda de acordo com ela, não por acaso, a startup de educação é formada por 6 mulheres. “Na Zeka, o empoderamento feminino é destacado e reforçado na necessidade de termos igualdade de gêneros em todas as camadas da sociedade, gerando conhecimento, liberdade financeira e realização de sonhos. Nossa missão é criar oportunidades de crescimento pessoal e profissional por meio de experiências educacionais digitais inovadoras e de qualidade.”

Loredana também é investidora-anjo e mentora da edtech Mulheres no Comando, empresa e plataforma de tecnologia educacional que por meio de materiais, networking e conteúdo ajuda mulheres a darem passos cada vez mais altos em suas carreiras profissionais e chegarem à liderança. 

Marcela Quintella, co-fundadora da Education Journey 

(Crédito: Divulgação)

Marcela Quintella é co-fundadora da Education Journey, edtech que conecta profissionais a soluções inovadoras do mercado de educação, e head de marketing e RI da Invisto, fundo imobiliário americano.  

A executiva diz que foi durante um período sabático, em que deu aulas de inglês para crianças na África do Sul, que encontrou seu propósito: fazer a diferença na vida das pessoas. Essa experiência a levou a entrar para a faculdade de pedagogia e co-fundar a edtech, com a missão de dar a todos o poder de avançar em suas jornadas de vida. Antes, teve a carreira focada em marketing, branding e growth. Foi a primeira funcionária da Loft, startup unicórnio no mercado imobiliário, hoje avaliada em mais de R$15 bilhões.  

Para Marcela, as edtechs podem contribuir para o aumento de lideranças femininas no setor de tecnologia, ainda muito dominado por homens, mas isto pode variar de acordo com diversos fatores, como políticas internas das empresas, cultura organizacional, esforços de inclusão e as características do segmento. “Nosso setor é muito associado à inovação, à abertura de novas ideias e à quebra de barreiras tradicionais, e isso pode criar um ambiente propício para a ascensão de lideranças femininas. Mulheres têm mais interesse em empresas de impacto, pois querem trabalhar com propósito”, diz. 

Mas, apesar do potencial positivo, ela pontua que é importante reconhecer que o segmento de tecnologia, incluindo as edtechs, ainda enfrenta desafios em termos de representação feminina. “O aumento de lideranças femininas nas edtechs é um desafio sistêmico que requer esforços em diversos setores, desde a educação básica até as práticas de recrutamento nas empresas. É crucial que essas companhias adotem práticas e políticas específicas para promover a igualdade de gênero e abordar desafios sistêmicos”, completa. 

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