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Opinião

Dragão do medo

Uma proposição: olharmos para os nossos medos com acolhimento, mas olhar o medo do próximo com atenção também, afinal, não só o nosso medo apavora


18 de novembro de 2022 - 9h24

(Crédito: Tubagus Topan/Unsplash)

O que nos aprisiona? O que nos prende numa terra, numa dimensão que não é um lugar das nossas vestes próprias? Existe um espaço no qual nos sentimos eminentemente pertencentes, em que tudo faça parte de um plano que não nos faz sentir prisioneiros de uma cena?

São tantas as amarras, são tantos os nós que nós mesmos nos damos que não percebemos quando já estamos num ninho de mafuá que desgrenha o cabelo, os pelos, os sonhos.

Será que a poesia nos salva? Freud já dizia que não existe canto da alma que já não tenha sido visitado por um poeta. Então, para o nosso próprio poeta salvador nos salvar, ele tem que ter enfrentado os mares das dores mais profundas? O “salva a dor”?

Quantos sonhos se perdem nesses emaranhados? Quantos desejos sufocados?

Bem, está tudo bem. Entendo que resolver isso é desvendar o segredo do universo. Mas enquanto não desvendamos os segredos mais secretos, devemos nos acovardar atrás das paredes do medo?

Talvez estejamos chegando em algum lugar para falar dessa prisão: as paredes do medo. Como superá-las?

Temos medos individuais e medos coletivos. E todos são correntes de ferro fortes que achamos muito difíceis de quebrar, de romper. De inter-romper, de nos fazer parte ao interferirmos para romper. Somos o interno do rompimento, a força motriz capaz de provocar essa ruptura.

Mas como superar esses medos? Quando olhamos de perto, eles parecem ainda maiores. “Tá. Entendi.” E se olharmos de longe? E se olharmos com um distanciamento para observar se na linha do tempo do universo eles são grandes mesmo?

Como consolo, nada resiste a essa régua. Tudo fica pequeno quando colocamos na proporção cósmica. E, que bom!

Em algum meio do caminho entre a proximidade máxima e a régua galáctica, podemos encontrar um dragão de observação que consegue nos ajudar a incendiar o medo, ou em outra dimensão de luta, de abraçá-lo para ele não ser tão bravo, violento e ameaçador.

Nesses tempos, o que regeu nosso planeta-bolha foi o medo. Dois lados do medo, muitos lados do medo. O Medo recebeu passaporte definitivo e nacionalidade permanente.

O cidadão em destaque, o Medo, se fez presente em todos os cantos, com os cis brancos, os cis negros, os gays, os trans, os indígenas, os religiosos, os ateus, os agnósticos, os concentrados, os assustados, os holísticos, os descrentes, os crentes. Absolutamente todos. Até as crianças receberam sua cota sem nem entender o motivo.

Minhas batalhas não são diferentes das de todos, mas eu quero fazer uma proposição, uma provocação, e por fim uma oração.

Uma proposição: olharmos para os nossos medos com acolhimento, mas olhar o medo do próximo com atenção também, afinal, não só o nosso medo apavora.

Uma provocação: o dragão do medo que nos salva pode salvar outros do medo. Se olharmos bem de perto, com coragem, destrinchando cada pena desse ser que bem próximo, nu, não é tão ameaçador quanto parece.

Uma oração:

Que sejamos coragem

Que sejamos empatia

Que sejamos resistência

Que sejamos amor

Que sejamos poesia

Que sejamos nosso Dragão

Que sejamos Um!

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