Opinião

Entender o Brasil é a real vantagem estratégica do futuro

No país onde as fronteiras culturais se sobrepõem e se reinventam diariamente, a capacidade de leitura de contexto é um diferencial

Tatiana Marinho

Sócia e CEO da Gana 28 de outubro de 2025 - 9h55

(Crédito: Shutterstock)

(Crédito: Shutterstock)

O Brasil é, por natureza, um país que inova a partir do contraste. Entre a escassez e a abundância, o improviso e a excelência, o caos e a potência, sempre encontramos formas de transformar complexidade em criatividade.

Essa característica, que muitas vezes é vista como informalidade ou falta de estrutura, na verdade revela um ativo valioso: a capacidade de criar soluções originais diante da adversidade. Essa é a essência do diferencial competitivo do povo brasileiro enquanto mercado. 

Durante décadas, as decisões estratégicas em comunicação e marketing foram guiadas por modelos importados e olhares concentrados nos grandes centros e que, vez ou outra, ainda acontecem. Hoje, esse paradigma — ou seria paradoxo? — está em revisão. O que antes era percebido como “local” agora é entendido como fonte de inovação e crescimento para muitos mercados ao redor do mundo. As marcas que têm se destacado são aquelas que compreendem a cultura brasileira em sua pluralidade, e traduzem essa compreensão em estratégia, produto e posicionamento. 

Na prática, isso tem significado repensar a forma como lideramos, contratamos e decidimos. Uma estratégia verdadeiramente orientada pela cultura exige diversidade de perspectivas dentro das equipes. Pessoas de diferentes regiões, repertórios e realidades contribuem para decisões mais completas, sensíveis e eficazes.

Essa pluralidade é o que permite às empresas antecipar tendências, reduzir riscos de desconexão e gerar valor sustentável no longo prazo. Cultura não é um tema intangível: é um eixo de gestão. Ela direciona comportamento de consumo, molda percepções de marca e influencia diretamente os resultados de negócio. Entender o que move as pessoas nas ruas, nas redes e nas comunidades é essencial para qualquer liderança que queira tomar decisões informadas e relevantes. E isso exige uma mentalidade que une dados e sensibilidade, tecnologia e intuição. 

No Brasil, onde as fronteiras culturais se sobrepõem e se reinventam diariamente, a capacidade de leitura de contexto é um diferencial estratégico. Não é à toa que marcas estrangeiras e, principalmente suas lideranças criativas, têm se dedicado à beber da fonte da criatividade brasileira. As lideranças que compreenderam esse movimento não apenas estão reagindo ao mercado, mas o antecipando. Em um ambiente de transformações constantes, a escuta ativa e a curiosidade cultural se tornam competências fundamentais de gestão. 

O futuro das marcas será definido por aqueles que conseguem transformar cultura em estratégia e estratégia em impacto, por mais vazia que essa palavra pareça hoje. Isso demanda lideranças capazes de equilibrar o olhar analítico com o sensível, o global com o local, o número com a narrativa.

Principalmente em um país tão diverso e criativo quanto o Brasil, entender a cultura não é apenas inspirador: é, acima de tudo, inteligente.