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Lesbofobia e descuido com a saúde sexual são os principais desafios das lésbicas no Brasil

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Lesbofobia e descuido com a saúde sexual são os principais desafios das lésbicas no Brasil

A pesquisa LesboCenso mapeia as vivências lésbicas e evidencia um apagão de dados sobre o cenário da comunidade


29 de agosto de 2023 - 8h52

(Crédito: nito/Adobe Stock)

No período de 2015 a 2017, no Brasil, foram registradas em média 22 notificações de violências contra a população LGBTQIAPN+ por dia. Destas, 32% eram lésbicas, de acordo com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz. A realidade é que no Brasil vivemos um apagão de dados sobre as experiências da comunidade LGBTQIAPN+, o que resulta numa falta de políticas públicas para endereçar questões importantes de proteção e cuidado dessas populações.

De modo a compreender as questões que atravessam as pessoas lésbicas no Brasil, a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus divulgaram a primeira fase da pesquisa “LesboCenso: Mapeamento de Vivências Lésbicas no Brasil” (2021 – 2022). 

Na amostra de mais de 19 mil entrevistadas, 66% eram assumidas em todos os contextos, enquanto 31% o eram apenas em alguns. Os locais onde menos eram abertas incluíam família (28%), trabalho (21%), instituições religiosas (17%), escola/universidade (16%) e amigas/amigos (15%). Em contrapartida, é na rede de amigos que as lésbicas mais compartilham e se assumem, em 39% das entrevistadas.

A primeira etapa apresenta os achados quantitativos do estudo e destaca dois pontos importantes. O primeiro diz respeito a um apagamento histórico sobre a saúde das lésbicas no Brasil, e o segundo ressalta a prevalência da lesbofobia como a segunda forma mais comum de violência contra a comunidade LGBTQIAPN+, depois da transfobia.

LESBOFOBIA

Quando o assunto é violência, 78% das respondentes disseram que já sofreram lesbofobia e 77% afirmaram que conheciam alguém que também havia sofrido. Destas, 6% contaram que conheciam alguém que havia morrido por ser lésbica. De acordo com o Dossiê do Lesbocídio de 2018, a expectativa de vida de uma lésbica que não performa a feminilidade é de 24 anos. Dentre as formas de violência mais comuns enfrentadas pelo grupo estão o assédio moral (31%), assédio sexual (20%) e violência psicológica (18%). 

Com uma vivência permeada pelo preconceito, violências e assédios, é importante que as vítimas tenham uma rede de apoio a qual procurar. Entretanto, as lésbicas ainda enfrentam barreiras para obterem suporte adequado de suas famílias. A maior parte das entrevistadas afirmaram ter apoio parcial (34%), seguido do apoio completo (30%). Ainda assim, 6,5% não recebem suporte de suas famílias e 4% são totalmente reprovadas. Não à toa, os principais agentes e propagadores das violências são o núcleo familiar, em 29% dos casos. 

Num ambiente hostil como tal, as lésbicas não encontram saídas para lutar contra as formas de violências que sofrem. Não à toa, a maioria acaba não reagindo. Sobre a última agressão que sofreram, 38% das respondentes não fizeram nada, 22% procuraram ajuda de amigas e apenas 6,9% acionaram a polícia, o Judiciário ou órgão oficial. 

Quanto aos impactos da lesbofobia, é notável que 6% das entrevistadas mudaram de residência para viver abertamente sua orientação sexual. Destas, 3,5% o fizeram por rejeição familiar/comunitária e 2% após sofrerem agressões (psicológicas, sexuais ou físicas). 

SAÚDE EM FOCO 

73% das entrevistadas afirmaram que possuíam medo, receio ou constrangimento para falar sobre sua sexualidade e orientação afetivo-sexual em algum atendimento de saúde. A situação piora quando falamos sobre consultas ginecológicas: 25% relataram que já se sentiram discriminadas ou violentadas por serem lésbicas durante um atendimento ginecológico. Isso impacta diretamente na saúde destas pessoas, já que pelo menos 26% realizam consultas com ginecologistas sem regularidade. 

Logo, o estado da saúde sexual das lésbicas não recebe a devida atenção e resulta num apagamento histórico e subnotificações. 14% das entrevistadas afirmaram que já tiveram alguma IST. Já quando olhamos para os casos de HIV/Aids, 37% nunca  realizou  o  teste, muito por conta da falta de consciência sobre a incidência das infecções sexualmente transmissíveis entre lésbicas. 39% nunca fizeram o teste para HIV porque não sabiam onde fazer, enquanto que 34% acreditavam que, por serem lésbicas, seria pouco provável terem sido expostas ao HIV.  

“A saúde se demonstrou como um espaço lesbofóbico, considerando que boa parte das lésbicas e sapatão entrevistadas relataram não se sentir confortável para falar sobre sua orientação sexual, além do desconhecimento em relação às ISTs/HIV/Aids. Situações que demonstram que ainda precisamos atuar fortemente na aproximação entre as usuárias e os equipamentos de saúde, fortalecendo a saúde pública e coletiva”, conclui a pesquisa. 

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