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Mulheres representam 71% dos influenciadores digitais com deficiência no Brasil

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Mulheres representam 71% dos influenciadores digitais com deficiência no Brasil

Dados de pesquisa inédita realizada pela Tambor com apoio do YouPix revelam forte presença feminina na criação de conteúdo e falta de inclusão de PCD no mercado publicitário


20 de setembro de 2022 - 18h43

Ana Clara Moniz durante painel no YouPix Summit 2022 (Crédito: @bergamotafilmes)

A maioria dos influenciadores digitais com deficiência são mulheres, que representam 71% do grupo. A conclusão é da pesquisa “Criadores com deficiência: quem são, onde criam e como monetizam”, realizada pela Tambor.biz com apoio do YouPix, e apresentada durante o YouPix Summit 2022, que aconteceu dia 13 de setembro em São Paulo. Trata-se da primeira análise no país sobre creators com deficiência, que reuniu respostas de 150 pessoas e traçou um perfil destes criadores e sua relação com o mercado publicitário.

Para esses influenciadores, as principais motivações para começar a criar conteúdo na internet são a falta de visibilidade e a vontade de compartilhar as suas vivências. O estudo trouxe à tona uma realidade não apenas dos criadores de conteúdo digital, mas também um retrato da inserção de pessoas com deficiência (PCD) no trabalho. 93% dos entrevistados disseram que o mercado publicitário não é inclusivo com PCD, assim como apenas 1% da população com deficiência está empregada no Brasil, apesar da comunidade representar 24% dos brasileiros.

No YouPix, ao final do painel, após apresentarem os resultados do estudo, alguns influenciadores com deficiência assumiram o palco e leram uma carta aberta escrita por eles. Luciana Viegas (no Instagram, @umamaepretaautistafalando) iniciou a leitura: “A deficiência faz parte da diversidade humana e a inclusão não pode ficar restrita a processos metodológicos e acessibilidade. Precisamos nos sentir pertencentes ao mundo. Ser vistos, ser ouvidos”.

O PERFIL DAS MULHERES CREATORS PCD

Os dados trazidos pelo estudo destacam que a grande maioria dos criadores de conteúdo PCD são mulheres cisgênero, sendo representadas por 71%, ou 107 respondentes, enquanto 20% da amostra é composta por homens também cis. Além de predominantemente feminino, o grupo é, em sua maioria, representado por pessoas brancas (64%), do sudeste brasileiro (66%) e entre 25 e 44 anos (71%).

Em relação ao perfil racial destes criadores, a população parda é representada por 18%, e os negros por 15%, recorte que denota uma camada adicional de invisibilidade para a comunidade PCD negra e parda. Amarelos e indígenas foram representados por 1,3% cada.

Luciana Viegas, uma das representantes das criadoras negras com deficiência, é idealizadora do movimento “Vidas negras com deficiência importam”, e trata sobre diferentes assuntos no seu Instagram, como diversidade, autismo e capacitismo.

A falta de representatividade é o grande motivador para essas pessoas virarem criadores de conteúdo na internet. 29% das entrevistadas responderam que esta é sua principal razão. “Compartilhar a minha trajetória/experiência” também é outro motivo, empatado com a mesma porcentagem.

“O capacitismo nos tira constantemente a possibilidade de nos sentir pertencentes. Entretanto, nós, pessoas com deficiência, continuamos a mover e inspirar a nossa comunidade”, continuou a ler Dudu (no Instagram como @oeduardovictor).

A luta pela visibilidade é constante para este grupo, uma vez que poucos criadores com deficiência têm grandes números de seguidores nas redes sociais. O estudo mostra que 61% dessas influenciadoras têm até 10 mil seguidores na sua principal rede social, enquanto 30% contam com 10.001 a 50 mil seguidores. Quanto às plataformas onde atuam, o Instagram é o meio principal de 85% das entrevistadas. O TikTok, por sua vez, é a principal rede entre 5% das criadoras, seguido pelo YouTube e Twitter, ambos correspondendo a 2%.

Ana Clara Moniz (no Instagram como @_anaclarabm) é uma das poucas influenciadoras PCD que faz parte do pequeno grupo (5%) com 50 mil a 100 mil seguidores. A influenciadora, com 62,2 mil pessoas que a seguem no Instagram, compartilha suas experiências e interesses, como eventos que participa, leituras, viagens e rotina. Além de ser um espaço sobre a sua vida, a plataforma também é usada por ela para educar sua comunidade sobre capacitismo, acessibilidade e pautas LGBTQIAP+.

 

PCD NO MERCADO PUBLICITÁRIO

Além da percepção de mais de 90% dos entrevistados, outros dados trazidos pela pesquisa refletem a falta de inclusão vivida pela comunidade PCD no meio publicitário: 60% dos respondentes nunca participaram de uma campanha paga por uma marca.

Essa exclusão, na verdade, começa pelas empresas de influenciadores, já que apenas 17% das criadoras PCD são representadas por uma agência, enquanto 74% se auto-representam e fazem contato com as marcas diretamente pelas suas redes sociais.

O resultado disso é que mais da metade, 58%, ainda não ganham dinheiro com a criação de conteúdo, e apenas 2% vivem integralmente da carreira. Dos 39% que já participaram de alguma campanha publicitária, só 37% realizaram um trabalho pago nos últimos seis meses. A exclusão da comunidade com deficiência não se restringe apenas à falta de contratos com as marcas, mas também é uma realidade devido às dificuldades de acessibilidade enfrentadas por 74% durante as atividades laborais.

“Quando uma marca se dispõe em contratar e falar sobre inclusão de forma profunda e representativa, sabemos que nossa ação, apesar de parecer isolada, é coletiva. E, por isso, é importante que estejamos em todos os espaços sendo representados: falando sobre deficiência, música, beleza, esporte, afeto, ativismo, autoconhecimento, universo geek. Tudo que dá conta da complexidade e da diversidade humana”, relata Ste (@tephmarques, no Instagram) durante a leitura da carta aberta no evento.

Da minoria que consegue algum trabalho com criação de conteúdo, 81% realizam contratações pontuais, e 50% são procuradas pelas marcas em datas alusivas às pessoas com deficiência. Uma dessas datas é justamente o mês de setembro, que além de amarelo, referente à prevenção do suicídio, também é verde, ao representar o mês da pessoa com deficiência.

“Mas, que não seja só em setembro. Nós existimos. E convidamos vocês a tornar a influência mais acessível e inclusiva. O futuro é anticapacitista e é para lá que estamos indo. Vamos juntos?”, finaliza a leitura Maria Paula (no Instagram como @maaria_vieira).

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