Opinião

O futuro não chega – é construído

A inovação é uma construção que se inicia agora, com os profissionais certos fazendo as perguntas certas

Lucia Bittar

Diretora de Marketing de Mobile Experience da Samsung Brasil 23 de julho de 2025 - 10h27

Tecnologia (Crédito: Unsplash)

(Crédito: Unsplash)

No universo da tecnologia, ser pioneiro não é gesto de vaidade. É decisão estratégica. E como toda aposta, contém riscos. Liderar um caminho desconhecido exige mais do que coragem. É enfrentar o novo quando ainda não há sinalização alguma, nada no horizonte que lembre um porto seguro. É decidir antes de haver consenso. E tem tudo a ver com sustentar uma visão antes que ela se torne evidente. 

Essa escolha, que envolve intuição, dados e ousadia, precisa vir acompanhada de estrutura. De um alicerce técnico robusto, que permita transformar boas ideias em soluções reais. E é aí que a área de pesquisa e desenvolvimento, ou P&D, como costumamos chamar, entra como protagonista silenciosa, mas fundamental. 

Manter centros de P&D ativos em território nacional é decisão incontornável de uma empresa que lidera seu setor no Brasil. Quando se é fabricante de tecnologia, o protagonismo consistente vem da base, formada por equipes de engenheiros, programadores, designers, cientistas de dados e pesquisadores das mais diversas especialidades. Tal estrutura não apenas viabiliza a criação de novas tecnologias, mas ajuda a definir o futuro da inovação no país e ampliar olhares. 

Esta decisão tem impacto direto na vida de milhares de profissionais altamente qualificados que vivem e trabalham aqui. São talentos multidisciplinares formados em universidades públicas e privadas de excelência, muitos com mestrado, doutorado, pós-doutorado e tantas outras qualificações acadêmicas, que encontram nesses centros um ambiente fértil para aplicar seu conhecimento e crescer continuamente.  

E mais do que desenvolver produtos ou serviços, esses profissionais contribuem com algo ainda maior: ajudam a moldar soluções com a cara, a voz e a sensibilidade do Brasil. Porque inovação de verdade é enraizada na escuta, no contexto, na realidade de quem vai usá-la. 

Este movimento também transforma o imaginário coletivo. Quando a inovação nasce aqui, o país deixa de ser visto apenas como mercado consumidor e passa a ser reconhecido como espaço de criação, excelência e liderança. É assim que os nossos laboratórios brasileiros são percebidos hoje. Estamos na vanguarda da inovação.

Vale lembrar que o investimento em pesquisa – e este volume de recursos é uma soma bastante expressiva no nosso caso – está longe de ter uma expectativa imediatista. Não é algo que gera retorno imediato. É uma ação que exige paciência. Visão. Resiliência.

Mas os frutos são consistentes. Porque, uma vez criado o ciclo virtuoso entre formação acadêmica, centros de P&D e desenvolvimento de soluções, os ganhos são múltiplos: para os profissionais, que evoluem e se consolidam; para a sociedade, que se beneficia de tecnologia relevante e inclusiva; e para o país, que se posiciona como parte ativa e estratégica no mapa global da inovação.  

Precisamos de mais empresas no nosso país que criem espaço para que tantos brasileiros brilhantes que temos por aqui possam produzir. Precisamos também que as famílias e escolas valorizem a ciência e todo seu potencial, porque é aí que começa o círculo virtuoso. Não tenho dúvidas de que a base de tudo está na educação. 

Nos últimos anos, o avanço tecnológico que protagonizamos tem nos levado a lugares com os quais jamais sonhamos. Basta pensar no sensor de saúde que detecta apneia do sono em nossos relógios inteligentes, a partir do movimento da respiração durante a noite. O desenvolvimento desta tecnologia contou com coleta de dados em larga escala, realizada em parceria com instituições especializadas do Brasil, Coreia do Sul e Estados Unidos. A partir desses dados, algoritmos de inteligência artificial foram desenvolvidos para identificar padrões associados à apneia do sono, e a solução foi incorporada em nossos dispositivos em todo o mundo. 

Em breve, aqui no Brasil, teremos novos relógios inteligentes com capacidade de medir nossa ingestão de antioxidante por meio dos níveis de carotenoides no corpo, presentes em alimentos como verduras e cenouras. Assim, teremos mais uma ferramenta que vai facilitar o monitoramento da saúde relacionada ao envelhecimento, além de oferecer percepções intuitivas sobre hábitos alimentares e de estilo de vida. Não preciso dizer qual a marca que traz esta inovação… e nem quantos braços e mentes trabalharam incansavelmente por anos.

Entre as ideias que nasceram parecendo inatingíveis e hoje já estão no nosso cotidiano, talvez nenhuma seja um exemplo tão eloquente quanto os celulares dobráveis. Pensa comigo: um dispositivo que se abre como um livro, sem comprometer a tela? Que dobra e desdobra sem perder desempenho? Que reinventa a experiência de uso e desafia o próprio conceito de forma? E, te garanto, é mega resistente. 

Por trás dessa inovação está uma engenharia complexa, resultado de anos de testes, protótipos, recomeços e refinamentos. São centenas de patentes envolvidas. Pesquisas avançadas em materiais, design e durabilidade. Tudo isso para que, ao abrir o aparelho com um simples gesto, a tecnologia pareça mágica quando, na verdade, é puro trabalho. Muito trabalho. 

Há também um componente simbólico nesse processo. Toda vez que uma tecnologia é lançada a partir de um centro de pesquisa instalado aqui, ela carrega algo de intangível: a memória do trabalho coletivo. A dedicação de quem testou milhares de vezes até funcionar. A escuta atenta de quem traduziu necessidades em funcionalidades. A visão de quem olhou para a frente e enxergou uma solução antes mesmo de ela ser uma demanda.  

Por isso, ser pioneiro é muito mais do que lançar algo antes dos outros. É ter coragem de desafiar o que parece impossível, de enxergar enquanto os holofotes ainda não estão acesos. Tenho muito orgulho por trabalhar em uma empresa que não apenas é pioneira, mas que tem o claro compromisso com o talento nacional, com a formação de quadros técnicos e criativos, com a diversidade de saberes e de trajetórias. 

Para mim, o futuro não é um lugar para onde a gente vai. É uma realidade que a gente constrói. E a construção começa agora, com os profissionais certos, nos lugares certos, fazendo as perguntas certas. Porque a verdadeira inovação começa antes. E vai mais longe.