Opinião

O amor cabe na vida de uma mulher ambiciosa?

Para uma mulher que não teme trilhar sua jornada, amar não deveria significar abrir mão de sua trajetória

Bárbara Brito

Presidente do Jantar Preto 18 de julho de 2025 - 15h05

Casal (Crédito: Unsplash)

(Crédito: Unsplash)

Chega um momento em que você entende: não dá para abraçar tudo sem sentir o peso. 

Você ama. Quer dividir a vida com alguém. Mas também tem ambição. Quer manter ou conquistar o espaço que construiu com esforço, sem precisar diminuir sua voz ou apagar seu brilho. Seja você uma mulher que já lidera ou uma que está abrindo caminhos, a pergunta persiste: é possível viver um relacionamento saudável sem abrir mão de si mesma? 

A resposta mais honesta é: depende. Porque não basta amar. É preciso que o outro compreenda e respeite o que você carrega: sua rotina intensa, suas metas, sua energia. Muitas vezes, você tenta equilibrar tudo. Em um dia, entrega tudo no trabalho e se sente distante na relação. No outro, tenta compensar no afeto e sente culpa por ter deixado algo escapar. 

E então começa a ceder. Abre mão de oportunidades, silencia conquistas, ajusta seu ritmo para manter a harmonia. Mas a conta chega, sempre chega. No corpo. Na autoestima. Na frustração de se diminuir para sustentar o que deveria somar. 

Os dados mostram que essa “tensão” não é individual. Em 2023, o Brasil registrou mais de 440 mil divórcios, o maior número da história. Quase metade desses casamentos terminou antes dos dez anos. Ao mesmo tempo, menos de 941 mil uniões civis foram formalizadas. Os casamentos diminuem, os términos aumentam. E muitas mulheres estão dizendo “não” a relações que exigem sua renúncia como prova de amor. 

Mas é importante lembrar que nem todas têm o mesmo ponto de partida. Mulheres pretas, por exemplo, enfrentam barreiras históricas ao casamento formal. Muitas vezes, suas relações nem são reconhecidas pelas estruturas que validam afetos e proteções legais. Elas não aparecem nas estatísticas não porque amam menos, mas porque o sistema as invisibiliza. Para nós, o desafio vai além de conciliar amor e carreira. É também ser vista como sujeito de afeto, de direito e de escolha. Mas isso já é uma outra longa conversa. 

Amar, para qualquer mulher que não teme ser ambiciosa, não deveria significar abrir mão de sua trajetória. O amor cabe, sim. Mas só se ele não pedir que você se encolha para caber nele. Que, em parcerias reais, seus silêncios e suas conquistas sejam respeitados. 

Eu sei que você já sabe, mas é sempre bom lembrar: você não precisa ser metade. Nem no amor. Nem na carreira. Muito menos em você.