O amor cabe na vida de uma mulher ambiciosa?
Para uma mulher que não teme trilhar sua jornada, amar não deveria significar abrir mão de sua trajetória

(Crédito: Unsplash)
Chega um momento em que você entende: não dá para abraçar tudo sem sentir o peso.
Você ama. Quer dividir a vida com alguém. Mas também tem ambição. Quer manter ou conquistar o espaço que construiu com esforço, sem precisar diminuir sua voz ou apagar seu brilho. Seja você uma mulher que já lidera ou uma que está abrindo caminhos, a pergunta persiste: é possível viver um relacionamento saudável sem abrir mão de si mesma?
A resposta mais honesta é: depende. Porque não basta amar. É preciso que o outro compreenda e respeite o que você carrega: sua rotina intensa, suas metas, sua energia. Muitas vezes, você tenta equilibrar tudo. Em um dia, entrega tudo no trabalho e se sente distante na relação. No outro, tenta compensar no afeto e sente culpa por ter deixado algo escapar.
E então começa a ceder. Abre mão de oportunidades, silencia conquistas, ajusta seu ritmo para manter a harmonia. Mas a conta chega, sempre chega. No corpo. Na autoestima. Na frustração de se diminuir para sustentar o que deveria somar.
Os dados mostram que essa “tensão” não é individual. Em 2023, o Brasil registrou mais de 440 mil divórcios, o maior número da história. Quase metade desses casamentos terminou antes dos dez anos. Ao mesmo tempo, menos de 941 mil uniões civis foram formalizadas. Os casamentos diminuem, os términos aumentam. E muitas mulheres estão dizendo “não” a relações que exigem sua renúncia como prova de amor.
Mas é importante lembrar que nem todas têm o mesmo ponto de partida. Mulheres pretas, por exemplo, enfrentam barreiras históricas ao casamento formal. Muitas vezes, suas relações nem são reconhecidas pelas estruturas que validam afetos e proteções legais. Elas não aparecem nas estatísticas não porque amam menos, mas porque o sistema as invisibiliza. Para nós, o desafio vai além de conciliar amor e carreira. É também ser vista como sujeito de afeto, de direito e de escolha. Mas isso já é uma outra longa conversa.
Amar, para qualquer mulher que não teme ser ambiciosa, não deveria significar abrir mão de sua trajetória. O amor cabe, sim. Mas só se ele não pedir que você se encolha para caber nele. Que, em parcerias reais, seus silêncios e suas conquistas sejam respeitados.
Eu sei que você já sabe, mas é sempre bom lembrar: você não precisa ser metade. Nem no amor. Nem na carreira. Muito menos em você.