Opinião

Empreendedorismo feminino cresce, mas qual o contexto real?

Essa escolha das mulheres vem da oportunidade de inovar ou é uma resposta à exclusão do mercado de trabalho?

Tatyane Luncah

CEO da Escola Brasileira de Empreendedorismo (EBEM) 22 de julho de 2025 - 11h00

O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2023 revela que 10% das mulheres no mundo começaram um negócio, o que é uma evolução significativa, porém ainda menor do que a taxa dos homens, que é de cerca de 12,5%. Isso mostra que, apesar do crescimento, ainda existe uma diferença importante no acesso e na possibilidade de empreender.

Mais do que números, esse dado convida a uma reflexão sobre o que leva tantas mulheres a optar pelo empreendedorismo: será que é uma escolha pela oportunidade de inovar, criar e liderar? Ou é, muitas vezes, uma resposta à exclusão do mercado formal de trabalho, à busca por autonomia diante de jornadas exaustivas e à dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal?

Estudos como o relatório do Banco Mundial “Women Entrepreneurs Finance Initiative” apontam que muitas mulheres empreendem por necessidade, especialmente em países com menor acesso a emprego formal e redes de suporte. Essa distinção é fundamental para entendermos o que realmente significa crescer como empresária e não apenas abrir um negócio, mas construir algo sustentável e com propósito. 

Brasil e América Latina: intenções altas, desafios maiores

Na América Latina, a taxa de intenções empreendedoras femininas é ainda mais expressiva, chegando a superar a média global em alguns países, segundo o GEM. No Brasil, por exemplo, pesquisa do Sebrae aponta que mais da metade das micro e pequenas empresas são lideradas por mulheres (um número que cresce a cada ano).

Porém, a realidade do empreendedorismo feminino por aqui é marcada por um cenário desafiador: falta de acesso a crédito, baixa participação em setores tecnológicos, dificuldades para conciliar o trabalho com responsabilidades domésticas e familiares, além de barreiras culturais e sociais que ainda limitam o alcance e a escala dos negócios.

Muitas empresárias começam suas trajetórias pressionadas pela necessidade econômica, em negócios de baixa margem e pouco potencial de crescimento, o que exige ainda mais preparo para sair do ciclo da sobrevivência e chegar à prosperidade. É aqui que a educação empreendedora, o desenvolvimento da inteligência emocional e o fortalecimento de redes de apoio se tornam pilares fundamentais para transformar intenção em resultado.  

Crescimento com consciência

Dados do GEM também apontam que cerca de 33% dos negócios de alto crescimento global são liderados por mulheres, o que é um indicador muito positivo de que, com acesso ao conhecimento certo e a uma rede estratégica, o empreendedorismo feminino pode gerar impacto real e escalável.

A diferença está na consciência empreendedora: ter clareza sobre o propósito, gestão financeira alinhada a metas reais, visão de mercado atualizada e a capacidade de liderar equipes com empatia e foco. Segundo pesquisas da Harvard Business Review, mulheres líderes tendem a valorizar mais a colaboração e o desenvolvimento humano, características que contribuem para um crescimento sustentável.

Além disso, a inteligência emocional é apontada por diversos estudos, como os da Daniel Goleman, como um diferencial para enfrentar os desafios diários, desde a tomada de decisão até a resiliência em momentos difíceis. Aqui na EBEM, por exemplo, trabalhamos esses pilares para que a empresária não apenas sobrevive, mas prospere com autonomia e equilíbrio. 

O papel da empresária consciente

Empreender com consciência significa alinhar o negócio a valores pessoais e à busca por impacto social e ambiental, além de resultados financeiros. A empresária consciente compreende que seu papel vai além da operação diária; envolve inspirar equipes, impactar comunidades e criar um legado que fortaleça outras mulheres.

Segundo o Fórum Econômico Mundial, empresas lideradas por mulheres tendem a investir mais em práticas sustentáveis e em responsabilidade social. O autoconhecimento é a base desse processo, pois permite à empresária identificar seus limites e potencialidades, gerir melhor o estresse e manter a saúde física e mental.

Quando a gestão estratégica se alia à visão consciente, o negócio se torna um agente de transformação, capaz de gerar riqueza de forma ética e duradoura. 

Transformando estatísticas em protagonismo

Os números já mostram que as mulheres estão ocupando espaços de liderança e crescendo em seus negócios, mas ainda há um longo caminho para que esse protagonismo seja universal e consistente. A chave está em buscar educação continuada, fortalecer conexões estratégicas e investir no próprio desenvolvimento como pessoa e profissional.

Plataformas como o GEM e o Sebrae reforçam a importância de programas estruturados que apoiem a capacitação da empresária, fortalecendo sua autonomia financeira e emocional. A EBEM surge exatamente nesse ponto: como um espaço que promove a educação empreendedora focada na mulher, oferecendo ferramentas para que cada empresária possa sair do ciclo da sobrevivência, liderar com consciência e transformar sua empresa em um legado de sucesso, impacto e inspiração.