14 de abril de 2023 - 9h00
Crédito: Black Salmon/Shutterstock
Passamos muito tempo pensando sobre o melhor, o melhor das coisas mais banais e das mais complexas. Queremos o melhor parceiro/a/x, queremos o melhor bolo de chocolate, o melhor beijo, a melhor transa, o melhor orgasmo, a melhor viagem, o melhor trabalho, a melhor terapia, o melhor filho/a/x, o melhor treino, o melhor que houver nessa vida.
E o que é o melhor? Veja, isso é parte de um imenso leque de cobranças e exigências que nos fazemos e acreditamos que se seguirmos essa pista, a pista do melhor, estamos no caminho certo, estamos na direção do Santo Graal, da Pedra Filosofal, estamos na trilha do Melhor, assim maiúsculo, masculino, opressor mesmo. A essa altura já tem personalidade esse Melhor, o Sr. Melhor.
Bem, isso certamente nos faz sentir que somos melhores, é como se esse universo de molho de melhor à nossa volta nos lambuzasse de sucesso, se estivermos cobertos pelos marshmallows do melhor seremos automaticamente melhores, molhos melados e apetitosos nos fazendo saborosos. Mas será que faz isso mesmo? Será que é esse o efeito? Ou será que tanto melhor, tanto mais melhor, tanto marshmellow não nos ajuda a nos perdemos em tanta calda, em tanta camada de nada.
O que é esse melhor? O que é esse tal Sr.? Quem é esse tal Sr.? Que intimidade precisamos ter com ele para simplesmente dispensá-lo? Será que conseguimos?
Cada um tem uma opinião sobre o que seria melhor, quem seria o tal Melhor, o que quer o Melhor, para onde vai esse cara. Vou contar uma história que ilustra a complexidade disso.
A pessoa me relatava uma situação em que seu professor, em sala de aula, começou uma discussão de qual seria a melhor terapia para o ser humano. Olha que difícil, eleger uma terapia que seria a melhor para as pessoas, e o caminho que o interlocutor dela achou foi descartar as que ele não acha serem eficientes, coaching foi a mais xingada, reduzida a pó na opinião dele.
E ai eu lembrei quando comecei a beber vinho, era um mundo novo, um mundo de sabores e paladares para uma jovem empolgada e cheia de vontade de conhecer o melhor desse mundo. Bem, montei um castelo de certezas, uma estrutura de absolutas verdades que entendia a cada taça. Nessa época, bem no começo dessa trajetória, Graças a Deus no começo, fiz um curso de vinho. O professor super renomado falando, e eu estava ali ávida para aprender tudo. Para minha sorte eu fiz uma pergunta definitiva para os vinhos e para a minha vida: – “Professor, como reconhecemos o melhor vinho, como escolhemos um bom vinho”. Ele me olhou e calmamente me respondeu: “O melhor vinho, o bom vinho, é o que você gosta”. Virou as costas e me deixou lá com meu castelo se desmontando rapidamente.
Então as melhores coisas são as que são boas, são as que funcionam, são as que gostamos, são as que nos fazem bem, senão, a outra alternativa, é sermos escravos do Sr. Melhor, que vamos combinar, é impossível de agradar completamente.