“Olhar só pra dentro é o maior desperdício”
Nada mais libertador do que sermos quem realmente somos. Mas também somos todos atores de uma mesma peça de teatro
Nada mais libertador do que sermos quem realmente somos. Mas também somos todos atores de uma mesma peça de teatro
6 de maio de 2025 - 8h44
(Crédito: Shutterstock)
A frase que dá título a este artigo vem de uma música de Nando Reis. Ela poderia ser título para os mais variados textos. Mas, hoje, quero falar sobre nosso querido mercado de trabalho, do qual fazemos parte e queremos fazer.
Pra início de conversa, quem é este “ser”, o “mercado”? Pessoas. Pessoas que mandam. Pessoas que decidem coisas. Pessoas que estabelecem práticas e regras. Pessoas que contratam pessoas.
Pois bem, recentemente, O Boticário pôs no ar uma linda iniciativa para os talentos 45+. Parabéns ao Boticário, à liderança da Renata Gomide e a todo seu time. A iniciativa é algo efetivo para dar uma virada nas vidas destas mulheres, através de capacitação. As empresas têm poder financeiro e alcance. Grandes chances deste projeto ser um sucesso. Pode dar uma virada na vida de muita gente. E que maravilha quando isso acontecer!
Gosto sempre de ir do mais amplo para o mais específico. Assim, queria abordar outros aspectos no cenário do mercado de trabalho, antes de afunilar nas mulheres 45+
Primeiro, afirmo que sim, continua sendo mais difícil para as mulheres conseguirem uma colocação do que para os homens. Sabe quando você tem comprovadamente mais competências que aqueles homens que estavam concorrendo com você, mas um deles fica com a vaga? Isso aconteceu comigo. E não foi só uma vez.
Segundo, chega uma época da vida que uma mulher experiente, torna-se uma espécie de vítima do seu CV. A frase “você é muito grande pra essa cadeira” também foi uma frase que ouvi muito. Ora, deixe que a pessoa decida se pode ir pra uma cadeira menor. Olha que baita oportunidade pra empresa. Pior é ter alguém menor que a cadeira no lugar.
Tenho talentos, graças a Deus, e muito preparo, graças a mim mesma. Sempre posso empreender, e o fiz, mas isso é outra história. Quero falar do mercado empregador.
No LinkedIn, leio recorrentemente posts de profissionais indignados porque haviam sido desligados dos seus empregos, tendo sido pegos de surpresa. Muitas vezes, é uma demissão por custos. Pode ver que, na maioria das vezes, estes textos surpresos tratam de um desligamento sem transparência. As pessoas se perguntam o que deixaram de entregar, o que mais poderiam ter feito se se dedicavam e recebiam elogios, se haviam ajudado a conquistar negócios, enfim, se lhes parecia ter feito tudo certo. O que havia de errado, então? Por que justamente ela estava sendo dispensada? Terá sido por idade, gênero, comportamento? Alguém na empresa sabia, mas não estava claro para o desligado.
O que isso tem a ver com a iniciativa do Boticário? É que muitas destas pessoas são 45+. Aí elas partem para a busca de uma nova colocação e vem uma outra queixa comum, que considero péssima. É o seguinte: sabemos que o tempo de quem procura uma coisa é totalmente diferente do tempo de quem tem aquela coisa a oferecer.
Quem procura trabalho tem pressa. Isso é normal. O que não é normal é, mesmo demorando, pessoas com quem você já trabalhou, que você considera sua amiga ou conhecida, jamais responderem mensagens, não mandarem sequer um “cara, sinto muito, mas não vai rolar nada aqui agora” ou “seu curriculum tá estacionado, faz um curso de tal coisa” ou então “meu, tô num período muito difícil da minha vida. Não estou podendo te dar atenção agora”.
Leitor ou leitora, se você já deixou alguém num vácuo de silêncio um dia, reflita. O mundo dá voltas, um dia “por cima” pode virar um dia “por baixo” amanhã e vice-versa. E se um dia você precisar ligar pra esta pessoa que você não atendeu hoje? Nem que seja por mera educação, não é melhor responder? Responda mesmo que a resposta seja negativa. Responda mesmo que já tenha passado semanas que alguém te procurou. Responda mesmo que você já esteja com a vida ganha e ache que nunca mais precisará de ninguém.
A não-resposta provoca ansiedade e insegurança e mina a autoconfiança de ótimos profissionais. Não me refiro só à autoconfiança profissional, mas como pessoa. “Por que não dão a mínima para o meu desespero?”. Coloque-se no lugar desta pessoa que tem família, despesas, dívidas talvez, que precisa trabalhar.
Fico muito feliz quando recebo o contato de alguém, mesmo semanas depois, explicando por que razão não pôde me retornar em determinada época. Isso é educado. Agradeço.
Também agradeço à pessoa que me procurou na dificuldade, que eu tentei ajudar, e depois me mandou mensagem pra dizer “agora está tudo bem”. Educação em dobro 🙂
Como já mencionei, vejo estas situações ocorrerem no LinkedIn em várias faixas etárias, mas sobretudo entre os 45+.
Assim como muitas destas pessoas, me considero uma pessoa do tempo presente, embora formalmente eu seja da Geração X. Não pretendo deixar o mercado de trabalho, não vislumbro um fim para a minha jornada profissional, porque sou uma estudante compulsiva e estou sempre perseguindo a “atualização do meu software”.
Mas tenho várias amigas ou conhecidas das Gen X ou Y, excelentes profissionais, em situação de isolamento, buscando colocação no mercado, que pensam em desistir, porque passam por tudo isso que descrevi acima. Desistir como? Não há como desistir, a não ser que esta pessoa seja herdeira de alguma coisa ou pretenda fazer uma mudança muito radical nas suas vidas, virando a página de uma história de sucessos.
Toda vez que uma amiga ou amigo 45+ empreende com sucesso ou alcança uma posição neste nosso mercado de trabalho, fico genuinamente feliz.
Mas, olha, minha gente, não sou perfeita (graças a Deus). Eu mesma não respondo 100% das mensagens que recebo, mas tenho os meus porquês. Porque quem procura também precisa ter educação. Só defendo as regras da boa educação executiva. Fazer uma indicação é coisa séria. Coisas do tipo: gente que me aborda como se fosse pessoa íntima minha, sem ser; gente que mal conheço e me manda um WhatsApp — considero esse espaço muito invasivo.
Só respondo se houver o aval de alguém que prezo; erros imperdoáveis de português? Não consigo passar pra linha seguinte… como vou poder responder, se não li a mensagem inteira? 🙂 E por aí vai… Por outro lado, dou espaço para textos bem escritos e interessantes no LinkedIn, que é a praça central do encontro profissional. E quem teve algum contato comigo, atende aos requisitos da boa educação, pode esperar que se eu não conseguir ajudar, pelo menos lhe darei alguma resposta. Por fim, amigos e amigas sempre contarão comigo, e eles sabem.
Sabe quem me ensinou isso? Em primeiro lugar, meus pais. Em segundo, a vida.
Este é um espaço opinativo. Estou dando minha opinião. Não estou aqui querendo “cagar regras”. Cada um é cada um. Nada mais libertador do que sermos quem realmente somos. Mas, também somos todos atores de uma mesma peça num mesmo teatro. Este é um convite à reflexão.
Compartilhe
Veja também
LinkedIn convida mulheres a mostrar habilidades maternas
#NãoÉSóPausa é a hashtag da campanha que busca mostrar que a licença não representa apenas uma pausa na carreira, mas um período de aprendizado e amadurecimento
Alaine Charchat: o que é ser CIO em 2025?
A liderança de tecnologia da Reckitt para América Latina enfrentou barreiras corporativas e hoje comanda a transformação digital da companhia