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Paula Barbosa: “Entendi que existem muitas mulheres como a Zefa”

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Paula Barbosa: “Entendi que existem muitas mulheres como a Zefa”

Mesmos diferentes, a atriz Paula Barbosa e a personagem que atuou no remake da novela "Pantanal" são mulheres brasileiras que lidam com o trabalho, a família e o papel que ocupam


12 de janeiro de 2023 - 15h41

Paula Barbosa é atriz e interpretou Zefa na readaptação de Pantanal

Paula Barbosa é atriz e interpretou Zefa na readaptação de Pantanal (Crédito: Priscila Prade)

Parece que está no nosso sangue gostar de novela. Não à toa, vez ou outra uma novela toma os holofotes das discussões nas redes sociais, nos jantares de família ou nas rodas de conversa de bar. Mais recentemente, a que esteve na boca do povo foi o remake de Pantanal, de Benedito Ruy Barbosa, originalmente exibida em 1990 na rede Manchete. Anos depois, a neta do autor estaria atuando na readaptação como Zefa.

Mesmo sendo totalmente diferente da sua personagem, Paula Barbosa encarou o desafio com entusiasmo. Ela queria honrar o legado da sua família e mergulhou de cabeça no universo das mulheres devotas à religião. Vinda da cidade grande, Paula não poderia ser mais diferente: uma artista apaixonada pela carreira de atriz.

Na novela, Zefa é uma jovem que perdeu os pais e encontrou na religião a força que precisava. Ela acredita que deve se guardar até o casamento para enfim ter relações sexuais com o marido. Na trama, ela trabalha como empregada doméstica para Maria Bruaca (Isabel Teixeira) e conhece Tadeu (José Loreto), um peão que coloca em xeque suas crenças sobre sexo e casamento.

Ao abraçar o papel, ela sabia que teria desafios. Fazer uma personagem importante escrita pelo seu avô, que requer estudo e pesquisa, mas o que ela não sabia é que o mais difícil disso tudo seria deixar seu marido e seu filho pequeno em São Paulo e mudar-se para o Pantanal.

Nesta entrevista, Paula Barbosa nos conta como foi a preparação para interpretar a Zefa, sua emoção ao poder participar de Pantanal e a dificuldade de conciliar a carreira com a maternidade. Além do lado artístico, Paula e o marido também são donos de lojas de duas franquias. O investimento, que surgiu como oportunidade, virou gosto e deu a ela a segurança de que precisava para seguir com a atuação.

Apesar de honrar o avô, a atriz revela que, na verdade, sua maior inspiração era a mulher por trás do grande autor: Marilene Leonor, sua esposa. Nesta conversa, conhecemos todos os lados de Paula Barbosa: a artista, a empresária, a neta e a mãe.

A FAMÍLIA BARBOSA

Você já nasceu numa família muito envolvida com a arte. Você é neta do Benedito Ruy Barbosa e filha de Edilene Barbosa, ambos autores de novelas. Você sempre quis ser atriz?

Desde muito nova, eu fazia teatro na escola. Aquela coisa bem amadora, mas eu gostava. Então, cresci, chegou minha fase de vestibular e, naquele momento, comecei a pensar: “será que é isso que quero para minha vida profissional ou estou muito acostumada porque já estou envolvida nesse meio?”. Foi aí que acabei desviando um pouco da área.

Tive que prestar vestibular aos 17 anos e houve uma cobrança na minha família sobre o que eu iria prestar. Eu falei: “Ah, artes cênicas, né? Eu amo atuar, então, quero ser atriz”. E a resposta foi “não, você faz isso desde pequena, isso é um hobby. Você tem que ter alguma profissão”.

Hoje, com 36 anos, entendo que era um receio do meu avô, porque ele passou por muitas situações difíceis nessa área. Eu, como neta dele, cheguei a prestar vestibular para outras coisas, mas depois passei a entender que eu queria ser atriz mesmo. Daí eu entrei na faculdade, me formei e entendi que era aquilo que eu gostava.

“PANTANAL” E ZEFA

A novela “Pantanal” foi um fenômeno cultural muito fora da curva. Como foi participar dessa produção e como você se preparou para interpretar a Zefa?

Meu avô tem diversas obras incríveis de sucesso, mas “Pantanal” é muito importante para a nossa família. Porque existe a carreira do meu avô antes e depois de Pantanal. É um projeto que ele tinha um amor imenso, porém, na Globo, ele escrevia novelas das seis, que fizeram sucesso na época, mas não eram para o horário nobre.

Ele queria tentar [o horário nobre], com um projeto maior, um desafio maior. Ele apresentou “Pantanal”, mas a Globo não comprou a ideia, então ela ficou engavetada por oito anos até que ele decidiu sair da emissora e seguir esse sonho. Então, por esse motivo, é uma novela que a minha família tem um carinho muito especial, porque quando ele tomou essa decisão, ele arriscou tudo, e graças a Deus foi o sucesso que foi.

Depois disso, ele voltou para a Globo, e aí vieram os grandes sucessos dele do horário nobre, como as novelas “Renascer”, “Rei do Gado” e “Terra Nostra”. E, quando falaram em refazer “Pantanal”… poxa, né? Ninguém poderia entender a emoção que é refazer essa novela como eu e o meu primo, o Bruno, que foi o escolhido para reescrevê-la. Apesar de eu ser muito nova na época, tenho lembranças muito fortes da minha família, de todo mundo junto assistindo. Depois que eu cresci, entendi realmente o tamanho da importância e o quanto isso foi significativo na carreira do meu avô. Então, eu queria muito participar e aconteceu de vir a personagem da Zefa.

A Zefa é super distante de mim, da Paula. Eu gosto desse tipo de desafio de personagens distantes. Então, foi uma preparação em que precisei mergulhar muito na parte de pesquisa para entender sobre as mulheres que se apegam à religião. Dessas que acreditam que devem se entregar para o homem com quem elas vão casar e constituir uma família.

Eu, sendo de cidade grande, tinha tudo isso como muito distante. Então, quando comecei a fazer essa pesquisa, passei a entender esse universo. Entendi que existem muitas mulheres como a Zefa, e usei meu estudo para tentar compreender essa realidade um pouquinho e trazer essa Zefa para a história.

Para você, o que essa novela tem de especial para atrair um público tão jovem?

Acho que é o formato e a fórmula. Novela é uma coisa que pertence à nossa cultura, não tem jeito. Por mais que hoje haja diversas opções, o brasileiro é noveleiro e isso é uma tradição. E acho que tem uma coisa da novela tradicional, e mais ainda daquela que retrata o nosso universo, o Brasil, de alguma forma.

Também tem a questão das relações familiares, que o meu avô trabalhou muito bem, e é algo que me instiga muito como atriz. E acho que é uma fórmula difícil de não afetar as pessoas, porque todo mundo tem questões familiares. Quando a gente retrata um pouco do Brasil, a gente traz essas histórias para mais perto de nós, mesmo quando somos de outra região.

Acho que essa fórmula se perdeu ao longo do tempo, então, quando foi resgatada, houve uma expectativa. A gente imagina que o jovem de hoje não quer saber desse tipo de coisa, mas nos surpreendeu como falta isso nas novelas. As pessoas sentem necessidade dessas histórias mais clássicas, dos conflitos mais tradicionais. Então, quando uma novela de 30 anos atrás funciona tão bem, isso nos faz pensar, né? O que está errado? O que temos que mudar ou o que temos que resgatar?

MATERNIDADE, CARREIRA E ESTABILIDADE

Você também é mãe de um filho pequeno. Como foi para você conciliar a carreira de atriz com a maternidade?

Foi bem difícil fazer essa novela. Porque, apesar de ser a minha quinta, foi a primeira que eu fiz depois de ter meu filho, e eu tinha a mesma idade dele quando passou “Pantanal” pela primeira vez. Então, quando veio a oportunidade, eu abracei e nem pensei muito nisso, que eu teria de estar distante, que eu teria de ir para o Pantanal, sendo que toda a minha família vive em São Paulo.

Só que aquilo era tão importante para mim que eu tentei conciliar de uma forma que não afetasse tanto o meu filho, mas claro que afetou. Ao mesmo tempo, foi uma coisa boa, porque ele amadureceu bastante e teve uma vivência com o pai muito intensa. Acho que eu sofri muito mais que ele, com a família toda em São Paulo. Montei uma estrutura para o pai conseguir também trabalhar e cuidar dele sozinho.

Mas, quando eu voltei, vi o quanto o meu filho tinha amadurecido e o quanto ele se orgulhou de mim, porque a mamãe estava fazendo um trabalho importante. Ele vê as pessoas me reconhecendo na rua, pedindo para tirar foto, e fica tudo orgulhoso. Acho que foi um momento de amadurecimento, tanto para ele como para mim. Mas, eu acabei sofrendo mais que ele com a saudade.

Em que momento você decidiu investir em franquias? Como está sendo para você atuar nesse meio?

Eu sou atriz e o meu marido é produtor musical. Quando a gente se conheceu, eu estava fazendo “Amor, Eterno Amor”, uma novela das seis, minha segunda. Ele tinha o estúdio dele, onde trabalhava tanto com publicidade, quanto com bandas independentes, que é a paixão dele. Então, eu engravidei, tivemos nosso filho, e a gente pensou “caramba, são muitos altos e baixos nas nossas profissões, né?”, e começamos a refletir em como poderíamos ter um pouco mais de estabilidade financeira.

Então, surgiu a oportunidade de abrir uma franquia. Primeiro, foi da marca Companhia Marítima. Começamos a estudar bastante sobre isso porque não tínhamos o menor conhecimento sobre varejo. Tínhamos um dinheiro que havíamos juntado, investimos e falamos “vamos ver no que dá”. Abrimos nossa primeira loja num shopping que estava inaugurando, e apesar de ser novo, era num bairro muito interessante que tinha bastante perspectiva de sucesso. Logo depois disso, como eu estava com meu filhinho pequeno, também queria ficar mais em casa com ele, curtindo a maternidade.

Fomos nos entregando a isso, sentindo na pele como funcionava, começamos a gostar da coisa e resolvemos abrir uma segunda marca. E a gente começou a entender, a estudar bastante, e as coisas foram acontecendo: os negócios foram crescendo, abrimos outras lojas, e foi tudo muito rápido. No final, acabou dando super certo e se tornou uma coisa estável financeiramente, que a gente aprendeu a gostar.

Hoje, são treze lojas de uma marca, quatro da outra, e estamos bem inseridos nesse universo do varejo. Além de gostar, é o que me dá segurança para poder seguir com a minha carreira de atriz.

Fazendo uma avaliação da sua carreira até agora, como você olha para tudo o que já fez e quais são seus próximos passos?

Eu acho que sou muito abençoada em relação a isso. Comecei com uma base forte, que é o teatro, me formei, e quando entrei pra televisão, eu estava bem segura. As coisas foram acontecendo aos poucos para mim, e as lojas trouxeram segurança.

Tenho o privilégio de ter escolhido uma profissão que posso ser tudo. Posso experimentar um pouquinho de cada coisa, porque pego uma personagem que é médica, outra que é administradora. E eu sinto essa necessidade de experimentar. Então, quando resolvi abrir as franquias, não me culpei nem um pouco ao querer ser empresária, porque isso me trouxe a estabilidade necessária para eu seguir meu sonho de continuar a ser atriz.

Já faz bastante tempo que eu comecei, mas tenho projetos e ideias minhas que antes eu ficava insegura de tocar, e, hoje, com a experiência e oportunidade, posso trabalhar nisso. Em 2023, aproveitando que a Zefa foi um trabalho tão bacana, que me abriu tantas portas, quero tocar isso, para fazer teatro, que eu amo, e os roteiros de curta-metragens que tenho. Também tem o meu trabalho com a música, um disco que gravei em 2015, mas que ainda não trabalhei.

Para mim, o artista tem que ser completo. Gosto de cantar, de escrever, de atuar, e estou no momento de começar as minhas obras autorais. Dá um pouco de insegurança, mas vou investir nisso, principalmente no ano que vem.

INSEGURANÇAS E INSPIRAÇÕES

Você já teve algum tipo de sentimento de autossabotagem? Como lida com essa situação e quais dicas dá para as mulheres que se sentem assim nos projetos, áreas e lugares em que atuam?

Existe essa coisa entre as mulheres, e eu sinto ainda mais por ser de uma família de artistas, e de um artista que deu tão certo. Imagina como é para mim escrever algo quando se tem meu avô, o Benedito, como referência? Então, a insegurança fica maior ainda, mas acho que devemos acreditar.

A arte, para nós, que somos artistas, não é só atuar por aparecer ou por ser famoso. A maioria dos artistas têm suas questões, têm assuntos e temas que sentem necessidade de gritar para o mundo, e, como mulher, mais ainda.

Então, acho que temos que acreditar nisso e ter foco, porque se vamos fazer algo, é porque acreditamos, porque gostamos do que estamos fazendo. Quando fazemos alguma coisa por fazer, sem ter sentido, sem amor, a coisa não funciona. Precisamos acreditar na gente acima de tudo e acreditar na potência da nossa sensibilidade. É isso que eu tenho colocado na minha cabeça, sabe?

Quais mulheres inspiradoras você segue, lê e observa? Como elas te inspiram?

São tantas mulheres que me inspiram, desde grandes artistas até pessoas do dia a dia, da família. A minha avó faleceu, mas eu tive uma avó, mulher do meu avô Benedito, que passou a vida inteira sonhando em ser atriz. Mas, para a carreira do meu avô acontecer, ela teve que cuidar dos quatro filhos e da casa. Por trás do meu avô, que é o gênio, vamos dizer assim, tinha a minha avó. Ela batalhou muito pelo sonho de ser atriz, e, depois de anos, meu avô escreveu uma peça em que ela pôde atuar e produzir.

Acho que sinto necessidade de falar da minha avó porque pouca gente conhece essa história. Todo mundo conhece o Benedito, o autor, mas não sabe que ao lado dele tinha uma grande mulher segurando as pontas e fazendo de tudo para o meu meu avô poder acontecer. O nome dela era Marilene Leonor Barbosa.

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