“Publicis nunca será uma empresa de IA”, diz Sadoun
CEO do Publicis Groupe comenta o crescimento de 5,9% da holding francesa no trimestre em entrevista ao Ad Age

Arthur Sadoun, CEO do Publicis Groupe (Crédito: Getty Images)
Do Ad Age
O Publicis Groupe manteve a boa fase com um primeiro semestre forte, impulsionado em grande parte por 15 importantes conquistas de novos negócios, como Coca-Cola, Mars e Nespresso.
A holding francesa de agências registrou um crescimento orgânico da receita líquida de 5,9% no segundo trimestre, superando as expectativas.
O Publicis Groupe também adotou um tom mais otimista para o restante do ano, apesar dos desafios macroeconômicos, prevendo um crescimento de receita orgânica de quase 5%. Anteriormente, a projeção era de 4% a 5%.
Em uma entrevista ao Ad Age, Arthur Sadoun, presidente e CEO do Publicis, abordou as principais tendências da indústria, os últimos resultados da empresa e suas perspectivas.
“Negócio de serviços”
Sadoun afirmou estar combatendo o que considera uma percepção equivocada de analistas financeiros e da imprensa de que a indústria da publicidade está em declínio e ameaçada pela inteligência artificial (IA).
Ele descartou a ideia de que ferramentas de tecnologia, como o Veo 3 do Google – capaz de gerar vídeos realistas com IA –, ameacem tornar certos aspectos do negócio das agências obsoletos.
“Ouço a cada trimestre, há nove anos, que as plataformas vão nos engolir”, disse Sadoun. “Nove anos depois, o [Publicis] dobrou de tamanho e mais que dobrou seu valor de mercado.”
Enquanto muitas agências e holdings têm repensado suas estratégias de posicionamento após a adoção em massa da IA na indústria, Sadoun declarou que o Publicis “nunca será uma empresa de IA.”
“Somos um negócio de serviços”, reiterou Sadoun. “Isso significa que temos duas áreas onde podemos sempre melhorar: nossa equipe… e investir em nossa plataforma para garantir que continuamos a oferecer o tipo de produto e serviço que nossos clientes precisam para crescer.”
Sadoun admitiu que a IA levou a uma desaceleração nas contratações em certas áreas e a um aumento em outras, mas refutou a ideia de que a inteligência artificial impedirá o crescimento do quadro de funcionários das holdings.
“Em 2017, tínhamos 70 mil pessoas”, disse. “Desde então, chegamos a 110 mil pessoas. Então, não há um destino fatal para crescer com IA e contratar pessoas.”
“Precisamos de um WPP Forte”
Embora grande parte do bom desempenho das principais holdings este ano tenha sido da Omnicom e do Publicis, especialmente com a iminente fusão Omnicom-IPG, Sadoun afirmou que a indústria ainda precisa de um WPP saudável.
Na semana passada, a holding britânica nomeou uma nova CEO, Cindy Rose, executiva de longa data da Microsoft e Disney, que substituirá Mark Read em setembro.
“Acho que precisamos de um WPP forte e desejo tudo de bom para Cindy Rose, porque definitivamente há espaço para três grandes players, e precisamos garantir que nossos clientes tenham opções”, disse Sadoun.
Clientes continuam investindo em publicidade
Na semana passada, o WPP cortou sua projeção para 2025 por vários motivos, incluindo a redução dos investimentos dos clientes com publicidade.
No entanto, no início desta semana, o presidente e CEO da Omnicom, John Wren, afirmou que não havia experimentado essa situação. Sadoun reiterou um sentimento semelhante.
“Não vimos uma mudança de comportamento do primeiro para o segundo trimestre, e nossos resultados falam por si”, disse ele. “[Os clientes] estão gastando em gerenciamento de dados. Estão gastando em um novo tipo de mídia. Estão investindo em conteúdo que é verdadeiramente personalizado… vemos o dinheiro mudando da mídia tradicional para mídias mais inovadoras, como influenciadores, mas, no geral, não vemos os anunciantes investindo menos.”
Publicis acredita que seguirá superando as expectativas
O Publicis afirmou que seu mix de negócios permanece fortemente concentrado em Connected Media (que define como dados, mídia, comércio, social e CRM), que representa cerca de 60% da receita e cresceu a uma taxa de um dígito.
Intelligent Creativity, que inclui criatividade, relações públicas e produção, representa aproximadamente 25% da receita e também cresceu a uma taxa de um dígito, enquanto Technology, cerca de 15% do negócio, teve um desempenho ligeiramente positivo – com exceção da Publicis Sapient, que deve ter desempenho negativo para o ano completo.
“Como toda empresa de consultoria de TI, ela está atualmente impactada pela atitude de ‘esperar para ver’ dos clientes em um contexto macroeconômico incerto, levando a um crescimento negativo para todo o setor”, disse Sadoun sobre a Sapient.
“Estamos confiantes de que a Sapient voltará a ser fortemente aditiva ao desempenho do Publicis, assim que os clientes retomarem os investimentos. Ter 25 mil engenheiros treinados para impulsionar a transformação por meio da IA é uma das nossas mais importantes vantagens competitivas para os próximos anos.”
O crescimento da receita orgânica de 5,9% do Publicis no segundo trimestre superou o crescimento de 3% da rival Omnicom. O WPP, por sua vez, projetou que sua receita para o segundo trimestre cairia de 5,5% a 6,0%.
Sadoun creditou o recorde de novos negócios do Publicis pela sua taxa de crescimento na indústria entre as holdings concorrentes. “Estamos muito confiantes de que continuaremos a superar o mercado”, disse Sadoun.
Ele também observou que o Publicis tem investido cerca de €1 bilhão (US$ 1,16 bilhão) anualmente em aquisições estratégicas.
Publicis em Cannes
A edição de 2025 do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions ficou marcada por várias controvérsias desde o seu encerramento, principalmente devido a questionamentos sobre o processo de julgamento dos prêmios.
Segundo Sadoun, o festival tornou-se mais um “evento de clientes” do que qualquer outra coisa, e a holding o trata dessa forma.
“Mudamos nossa abordagem para Cannes há algum tempo. Primeiro, estamos realmente limitando nosso número de inscrições a trabalhos que acreditamos que realmente merecem ir a Cannes, e não estamos jogando o jogo do volume. Isso não é algo que nos interessa, então reduzimos drasticamente o número de inscrições.”
“Em segundo lugar, já temos uma infraestrutura muito leve”, disse ele. “Não estamos na praia. Temos salas escuras longe da praia. Limitamos o número de participantes. É a criatividade em primeiro lugar, e então temos o número necessário de pessoas para atender aos nossos clientes.”