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Simran: como fomentar esperança em tempos sombrios
Diretor executivo do The Aspen Institute, Simran Jeet Singh divide processos para fomentar esperança e humanidade diante da violência social sistemática
Simran: como fomentar esperança em tempos sombrios
BuscarDiretor executivo do The Aspen Institute, Simran Jeet Singh divide processos para fomentar esperança e humanidade diante da violência social sistemática
Thaís Monteiro
5 de junho de 2024 - 17h58
De imediato, é comum pensar que a esperança não é algo que se cria, mas que se tem. O educador, ativista e diretor executivo do The Aspen Institute, Simran Jeet Singh, propõe o contrário. Diante de uma sociedade polarizada, em guerras, em que a violência e o distanciamento crescem, fomentar a esperança é um exercício para não viver em reação ao mundo que oprime as diferenças.
Presente no ProXXIma 2024, Simran iniciou sua apresentação exemplificando como, frequentemente, os indivíduos podem se ver tomados por narrativas de outros ao invés de se deixarem surpreender com experiências pessoais próprias.
Ao avisar que viria ao Brasil pela primeira vez, ouviu alertas de colegas brasileiros e da equipe do hotel para tomar cuidado, pois é um País perigoso. Ao perder sua carteira no primeiro dia no País, se perguntou se havia sido descuidado, se haviam o roubado. No dia seguinte, ao percorrer locais que frequentou, achar a carteira protegida em uma cafeteria e ver a alegria da gerente contente por poder devolvê-la ao dono, percebeu o quão tomado estava pela narrativa contada sobre o Brasil.
Essa parábola serviu para exemplificar que a esperança é difícil de achar, mas que ela existe. “Não é um bom lugar, me contaram. Há, sim, dificuldade, mas há bondade em todo lugar”, afirmou.
Essa lição, disse, ele aprende desde a infância ao enfrentar diversas situações de racismo no Texas e em Nova York, onde cresceu e vive agora, respectivamente. “Eu ficava irritado, minha pressão subia, mas eu não queria ter raiva toda a minha vida”, contou.
Segundo Simran, seus pais lhe ensinaram a enxergar a bondade nessas diversas situações, como, quando criança, ele, sua mãe e os irmãos foram expulsos de um restaurante em que ocorria uma celebração na qual eram convidados e os convidados decidiram deixar o restaurante para os acompanhar.
Outro exemplo ocorreu quando a família começou a vivenciar diversos atos de racismo após o atentado às Torres Gêmeas, e o pai afirmou que eles eram abençoados por terem vizinhos e amigos ligando para ver como estavam e enviando comida para que eles não tivessem que se expor à violência do período.
“Eu estava tão focado no lado negativo das coisas – o que é justo – que eu não via as coisas boas ao redor”, disse. “Aprendemos a ignorar as coisas difíceis. ‘Só sorria, vá embora, não engaje’. Há valor nisso, mas não é a única forma”, colocou. Esperança é criada a partir de paixão, sentir que temos controle e agência na vida. A vida não acontece para reagirmos ao que acontece conosco. Nós podemos criar nossas histórias”, argumentou.
Para ele, é necessário escolher ver o lado bom. Embora difícil e, por vezes, não fazer sentido, ele acredita que essa perspectiva é possível a partir de lembretes e exercícios para tal.
“Há beleza em todos, mas é difícil ver. Ainda mais em tempos difíceis. Nesses momentos em que vemos o que acontece no mundo, podemos olhar para todos os países e olhar para a escuridão e ver a escuridão. Humanos têm viés negativo. Parte disso é evolucionário, para proteção pessoal, mas parte é cultural. Somos constantemente bombardeados com coisas negativas: violência, guerra, racismo. Temos que fazer esforço. Temos que ser ativos em criar esperança para nós”, afirmou.
O educador sugeriu duas práticas que o auxiliam a ter uma visão mais positiva do mundo: um diário de gratidão, em que o indivíduo deve anotar ao menos três coisas pelas quais foi grato diariamente, e tentar enxergar a humanidade em uma pessoa diferente por dia.
Para o primeiro, ele confessou que há dificuldade no início, mas logo se torna natural observar os pontos positivos de cada dia. “Gratitude é uma prática de esperança e pode se tornar uma atitude se você praticar suficientemente”, colocou.
Já para o segundo, ele dividiu que há desafios políticos e sistêmicos ao lidar com pessoas diferentes no dia a dia, mas que há disponibilidade para aprendizado, reconhecimento e perdão nas trocas quando há a possibilidade de enxergar a humanidade uns nos outros e dialogar a partir disso.
“É tão fácil recuar, apontar dedos e dizer que está errado não quer nada com outro. O que é poderoso é criar confiança uns nos outros. É o tipo de história que muda o mundo. Conhecer, conectar e ver que há escopo para construir esperança”, concluiu.
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