A arte mundial perde Sebastião Salgado
Fotógrafo faleceu em Paris, aos 81 anos, deixando legado artístico e ambiental, além de um relacionamento discreto com a publicidade e o marketing
Fotógrafo faleceu em Paris, aos 81 anos, deixando legado artístico e ambiental, além de um relacionamento discreto com a publicidade e o marketing
Roseani Rocha
23 de maio de 2025 - 13h39
Sebastião Salgado em novembro de 2024, na Espanha. (Crédito: Lorena Sopena/Europa Press via Getty Images)
O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado era um artista que em vez de tintas e telas trabalhava a luz em seus inconfundíveis retratos em branco-e-preto, tidos por muitos como verdadeiras obras-primas. Sua morte, aos 81 anos, foi anunciada nesta sexta-feira, 23, no perfil de Instagram do Instituto Terra, que ele e sua mulher, Lélia Deluiz Wanick Salgado, fundaram em 1998.
“Com imenso pesar, comunicamos o falecimento de Sebastião Salgado, nosso fundador, mestre e eterno inspirador”, inicia a mensagem, que destaca, em seguida, que ao lado de Lélia, Salgado “semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”.
Além de solidariedade à família – o fotógrafo tinha dois filhos (Juliano e Rodrigo) e dois netos (Flávio e Nara) – o Instituto diz que seguirá “honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar.”
Nascido em Aimorés, Minas Gerais, em 1944, Sebastião Ribeiro Salgado Júnior vivia em Paris há muitos anos, mas para desenvolver seu trabalho circulou por alguns dos lugares mais remotos do mundo (alguns veículos de mídia atribuíram sua morte, inclusive, a complicações de uma malária que ele teria contraído ainda nos anos 1990, em suas viagens).
Alguns dos lugares por onde ele esteve incluem Sibéria e o Norte da Rússia; o Planalto Tibetano, além de China, Nepal e Índia; Ilhas Galápagos e Equador; Antárctica e Etiópia. E, mais próximos, a Serra Pelada e a Amazônia, tanto no Brasil quanto na Venezuela.
Exposição Amazônia em Madrid, 2023. (Crédito: CC/Javier Perez Montes)
Entre os fotógrafos mais renomados do mundo, Salgado foi parcimonioso em ações que envolviam a publicidade. Ainda assim, fez algumas iniciativas, elogiadas e, em alguns aspectos, até criticadas.
Entrou para este último grupo, o projeto “Amazônia”. Isso porque a mineradora Vale, em 2009, patrocinou exposição e livro fotográfico de Sebastião Salgado sobre a floresta amazônica e seus povos. Embora o trabalho do fotógrafo tivesse foco cultural e ambiental, foi utilizado como marketing institucional da Vale, daí as críticas de ambientalistas, que apontaram conflitos entre a missão ambiental de Salgado e as práticas da companhia.
Em 2019, Salgado participou de uma campanha publicitária da Mitsubishi Motors do Brasil intitulada “A Lenda das Lendas”, para promover o então novo Pajero Sport. Essa campanha marcou a estreia de Salgado no universo publicitário e contou também com a participação do cineasta Fernando Meirelles e do maestro João Carlos Martins.
A campanha foi criada pela Ampfy sob o conceito “The car, the legend”, que associava o modelo a figuras icônicas da arte brasileira. Como parte da campanha, houve uma exposição de fotos de Sebastião Salgado no MIT Point, flagship store da Mitsubishi Motors no shopping JK Iguatemi, em São Paulo.
Mais indiretamente, porque não se tratou de uma campanha nos moldes tradicionais, Salgado participou do “Shot on iPhone”, da Apple, em 2021. O fotógrafo foi destaque entre os conteúdos da série, quando foi lançado documentário sobre o projeto “Amazônia”, o que reforçou o posicionamento da Apple como marca voltada à criatividade e sustentabilidade.
O próprio Instituto Terra, ONG dedicada à restauração ambiental do Vale do Rio Doce (entre Minas Gerais e Espírito Santo) foi apoiado por várias marcas e instituições com campanhas institucionais em que imagens de Salgado eram utilizadas como instrumento de sensibilização. São exemplos: Petrobras, Natura e Fundação Banco do Brasil, entre outras.
Também em 2021, o Instituto veiculou a campanha “Refloresta”, da Ampfy, que enfatizava a importância da recuperação das florestas. A ação contou com música criada por Gilberto Gil, que incluiu “Refloresta” à trilogia: Refazenda, Refavela e Realce. O vídeo clipe, produzido pela Piloto Filmes e dirigido por Ivi Roberg, foi lançado no Fantástico, da Globo.
Por fim, o fotógrafo tinha uma parceria contínua com a Fondation Cartier pour l’art contemporain, que apoiou diversas exposições e publicações (o que também se refletia no branding institucional da Cartier no campo da arte e da fotografia). A fundação foi uma das instituições que patrocinou, por exemplo, as exposições do projeto “Amazônia”, entre 2021 e 2023.
Tanto quanto a temática ambiental, o social mobilizava o fotógrafo – haja vista projetos como “Trabalhadores” – e ele eventualmente participou de iniciativas que tocavam diretamente em aspectos sociais. São exemplos a publicação, ainda em 2003, de um livro de sua autoria “O fim da pólio: a campanha mundial para a erradicação da doença”, publicado pela Companhia das Letras, e sua participação, em 2020, numa campanha que buscava prevenir a Covid-19 na Amazônia. Ele foi protagonista do vídeo dirigido por Fernando Meirelles que alertava sobre a vulnerabilidade dos povos indígenas à doença.
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