Fake news e uso de dados: entre o bem e o mal

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Opinião

Fake news e uso de dados: entre o bem e o mal

Entender o funcionamento do mundo digital é decisivo para que cada um veja como quer se inserir neste contexto, o que está disposto a dar e a receber sem custo ou o quanto está disposto a pagar pelo uso das plataformas, e também qual é seu papel dentro delas


2 de junho de 2018 - 12h21

Créditos: Matjazslanic/iStock

A proximidade das eleições brasileiras, em um contexto político já bastante conturbado, vai fomentar a polêmica quanto ao impacto que as fake news poderão ter sobre o processo eleitoral, considerando o episódio recente das notícias falsas distribuídas sobre a vereadora assassinada Marielle Franco e o caso das eleições norte-americanas, em função do vazamento de dados do Facebook pela consultoria política Cambridge Analytica e de como eles podem ter sido usados para induzir os eleitores.

Esses episódios mostraram o quanto as redes podem influenciar a sociedade, para o bem ou para o mal, principalmente quando as ações combinam dados assertivos sobre o perfil dos usuários com temas de grande repercussão e suscetíveis às fake news. E isto pode ser tanto mais explosivo quanto a conjuntura — caso das próximas eleições brasileiras, cujo risco de interferências das fake news levou inclusive o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, a reiterar, em depoimento ao senado americano, o compromisso da rede em não influenciar as opiniões dos eleitores em países como o Brasil, entre outros que vão eleger seus governantes este ano.

A pressão e o bombardeio de críticas e reações ao Facebook, em relação ao uso indevido de dados nas eleições americanas, mostraram a importância de práticas e controles adequados no uso dos dados dos usuários, e inclusive a necessidade de que eles estejam cientes e bem esclarecidos quanto aos termos dos contratos de adesão às redes das quais fazem parte. Em um mundo novo, como o digital, muitas coisas ainda devem ser ajustadas e reguladas, mas o fato é que o mundo digital não tem mais volta. E todos terão que se ajustar, para que nem os usuários sejam prejudicados pelas fake news e por problemas relativos à privacidade, e nem as grandes empresas de tecnologia sejam obrigadas a reinventar o seu modelo de negócios, baseado atualmente na oferta gratuita de conteúdo e de uso de suas plataformas, em troca do uso desses dados para promover uma propaganda mais assertiva.

Entender o funcionamento desse mundo digital, seja no que se refere às regras que regem as diversas plataformas, seja quanto ao limite do uso de dados ou às características das fake news, é decisivo para que cada um veja como quer se inserir neste contexto, o que está disposto a dar e a receber sem custo ou o quanto está disposto a pagar pelo uso das plataformas, e também qual é seu papel dentro delas.

A polêmica das fake news teve seu lado positivo: o de expor amplamente ao debate público que nem toda informação que circula pelas redes é verdadeira, e o de alertar as pessoas sobre a necessidade de pensar e averiguar a veracidade sobre o que estão lendo e distribuindo nas redes.

É preciso ficar claro também que nem toda informação incorreta que circula pela rede é fake news. Muitas pessoas editam e interpretam as informações segundo suas convicções, crenças e o conhecimento que possuem. Não necessariamente isto se traduz em fake news. A fofoca existe desde sempre. E a fofoca é a interpretação que as pessoas têm da realidade, mesmo que muitas vezes venha temperada com uma dose extra de veneno. Muitas vezes ela expressa a compulsão em expor negativamente o que o fofoqueiro considera como algo repreensível, crítico ou abominável. Já as fake news têm caráter manipulador e atendem a um interesse privado. Elas são construídas com o propósito específico de desinformar e distorcer a informação, para atender interesses políticos ou econômicos, prejudicando não só pessoas, mas também empresas.

Recentemente, uma grande companhia do setor de bens de consumo, cujo controle pertence a uma empresa envolvida na Lava-Jato, foi alvo de milhões de comentários negativos nas redes sociais, por conta de uma notícia inverídica sobre supostas irregularidades na área ambiental, veiculada intencionalmente com o objetivo de abalar sua reputação, no vácuo da crise do seu maior acionista. Mesmo atuando em um setor que nenhuma relação teve com a Lava-Jato, e contando com uma administração independente, pautada no compliance, na boa governança e, como companhia aberta, na divulgação transparente de seus dados ao mercado, ela foi impactada por causa da ação de pessoas interessadas em prejudicar sua imagem. Este tipo de notícia, assim como aquela do suposto envolvimento da vereadora Marielle Franco com o crime organizado, é, efetivamente, fake news. E isto é diferente, por exemplo, de manifestações espontâneas de indignação atribuindo a prisão do ex-presidente Lula à manipulação política.

Estamos vivendo conflitos de ideias e crenças a toda hora, e as redes sociais são o palco que seguirá expondo esses conflitos, o que não significa que tudo é ou será fake news, sob o risco de eliminarmos o caráter democrático do debate nas redes, naquele que é um dos seus principais benefícios.

Por outro lado, cada um terá que ser mais responsável antes de distribuir a informação, antes de disseminá-la como se fosse verdade, fazendo alarde sobre temas tão díspares como uma epidemia de gripe ou os vínculos ilegítimos e ilegais de uma empresa ou de políticos. Assim como terá que avaliar, com atenção, os termos dos contratos que assina na internet, também para cobrar dos fornecedores, com pertinência, qualquer desvio desses termos. Cabe a todos, portanto, praticar e cobrar atitudes mais responsáveis, para que possamos discernir e combater, efetivamente, as fake news em sua origem criminosa, e para que as relações na internet amadureçam, a partir de parâmetros transparentes para todos.

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