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Cingapura 7 x Brasil 1 

Ao lado do mercado chinês, onde testam e expandem suas invenções, Cingapura propicia ricos aprendizados sobre inovação


20 de setembro de 2018 - 11h30

Crédito: maksime/iStock

Cidade-Estado. 53 anos. O tamanho de uma maratona de leste a oeste, meia maratona de norte a sul (42 x 21 km). Nenhuma residência está a mais de 10 minutos de algum transporte ou 400 m de algum parque. A população crescerá 50% até 2030 e, mesmo com pouco espaço, já sabem exatamente onde casas e prédios serão construídos. Ocupa o 1º lugar no ranking de países de maior potencial para business. O 2º lugar em facilidade para negócios. E 3º no ranking global de inovação. O governo prevê as profissões do futuro e já as insere no programa das escolas de Ensino Médio. Universidades causam inveja a Real Madrid e Barcelona na contratação de jovens talentos do mundo todo. E com as patentes, essas mesmas universidades se tornam sócias de empresas. OK, um governo pouco democrático, mas pelo menos, comprometido a ser pioneiro em Inovação já na próxima geração.

Ao lado do mercado chinês, onde testam e expandem suas invenções, Cingapura propicia aprendizados muito ricos como vimos num tour de Inovação coordenado pelo KES. Visitamos vários órgãos governamentais, empresas, start-ups, aceleradoras, pontos de venda totalmente automatizados e centros de inovação.

O dinheiro mudou de mãos. A impressionante plataforma do WeChat na China seria uma rede social como o WhatsApp. #SQN. Oferecem tudo o que você pode imaginar para que seus 1 bilhão (sim, 1 bilhão) de usuários não deixem o ambiente. Por ele, além de conversar com os amigos, pode-se agendar médico, chamar Uber, pedir comida, comprar em e-commerce, pagar contas, transferir dinheiro, fazer pagamentos gamificados com rewards (raspadinha digital) financeiros e de entretenimento, adquirir ingressos, e vou parar por aqui. Imaginem a zona de desconforto dos bancos, meios de pagamento e cartões de crédito.

Smart City não precisa parecer Blade Runner. Começando pela Smart Police, que já testa óculos bem mais amigáveis, com experiência mais agradável que a daqueles que o Google trouxe há alguns anos, e reconhecimento facial de pessoas fornecendo dados e eventual registro de atividades não lícitas. Câmera em carros, que desliga o motor se o rosto do motorista demonstrar sono ou sinais de alcoolismo. Decidiram que em 2030 só haverá carros elétricos na cidade, com os quais, aliás, a China já apresenta marcas que deixam Tesla para trás. Apps que consolidam vários serviços como pedágio, estacionamento, aluguel de bicicletas e patinetes, combustível, seguro de carro (cobrado por hora de uso), entre outros. Drones a serviço da prefeitura. E ainda, a cidade estará pronta para carros autônomos.

A logística foi literalmente para o espaço. Uma startup, criada por dois brasileiros, lançou um e-commerce de tênis de passeio, sem nenhum espaço físico ou funcionários. A China produz, o estoque é de terceiros, a DHL cuida da entrega, o pós-venda é feito por bots, a empresa não tem nem ERP. A cada 3 meses, tem reunião (gratuita) com agência governamental e especialistas do setor, para contribuir no seu business. Lançaram-no simultaneamente nas capitais mais badaladas do mundo, somente com comunicação digital e loja física pop up temática, por um ou dois dias. Tudo isso, apenas fazendo a gestão do modelo.

Produção barata deixou de ser problema. Imagine uma região onde, há uma geração, a economia local dependia da criação de porcos. Hoje, são 211 vilas no interior do país, com 70 mil comerciantes de produção local de jeans, móveis, motores elétricos, todos contratados pela gigante Alibaba.

Inteligência Artificial dominando os investimentos. São robots que regem orquestra melhor que um especialista humano. Detectam suspeitos em grandes concentrações de multidão. São companheiros de pessoas idosas tanto para o funcional (horário de remédios), como o psicológico (conversa, música, ligar TV). A Inteligência Artificial já entrou no dia a dia da população: análise de concessão de crédito, contratação de planos médicos, veredictos jurídicos, seleção de embriões, pagamento virtual por reconhecimento de sorriso, identificação imediata do histórico de motorista e carro, e por aí afora. E não vai parar por aí.

Temos visto uma migração de polos inovadores para além do Vale do Silício e, nesse sentido, Cingapura se destaca. Todas as empresas que visitamos, cada uma à sua maneira, aplicam modelos de gestão semelhantes aos das empresas ocidentais mais arrojadas, porém, com uma diferença: obstinação pela execução perfeita, como poucas vezes vi. Modelos mentais de humildade em desaprender o tempo todo, esquecer os sucessos que o levaram até ali, incentivar o fracasso no mais legítimo Fail Fast, em vez de punir o erro. Planejamento de longo prazo com total obstinação na implementação impecável. Criação de grupo de questionadores com a missão de destruir sua empresa, pré-esvaziando possíveis caminhos de novos entrantes. Remuneração variável para os inovadores, com direito a participação no negócio. Hackatons para oportunidades detectadas. E velocidade, velocidade, velocidade.

Enfim, fica claro que a única constante é a mudança.

 

*Crédito da imagem no topo: Pixabay/Pexels

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