Liderança em tempos de disrupção

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Opinião

Liderança em tempos de disrupção

Antes, liderar significava conduzir pessoas para a repetição do que foi benfeito no passado, agora envolve desafios como a despersonalização, cultura organizacional pulsante e sucessão planejada


16 de abril de 2019 - 12h34

 

(crédito: Matjazslanic/iStock)

As agências enfrentaram, nos últimos 50 anos, transformações que poderiam ter saído de um filme de ficção científica. Da máquina de escrever ao computador, do telefone com disco ao Skype, da pesquisa boca a boca às plataformas de ciência de dados, das mídias tradicionais às sociais, da inteligência natural à artificial — a revolução começou e não parou mais. Em meio a tanto movimento, cabe a pergunta: o que significa liderar quando tudo muda o tempo todo?

Há cinco décadas, lideranças ultrapremiadas e célebres eram o ímã que atraía e mantinha clientes. Mais do que equipe, importava quem estava à frente do processo criativo. Clientes permaneciam por longa data em uma agência, que, por sinal, pouco mudava. Raramente viam-se aquisições, fusões ou cisões, movimentações atualmente rotineiras e com o poder de afetar milhares de pessoas.

O consumidor era um ponto silencioso e passivo dentro das estatísticas demográficas. O sucesso acontecia em um contexto de previsibilidade e estabilidade. A ambição de conservar o que é bom (equipe, clientes, serviços, vantagens competitivas etc) soava natural. Liderar significava conduzir as pessoas para a repetição do que foi benfeito no passado, evitando-se riscos. Disrupção? Tratava- se de um termo técnico da engenharia elétrica.

O que era doce acabou-se com a nova economia nascida em berço digital. Modelos de gestão, remuneração, atendimento, planejamento e criação vêm sendo revistos, exigindo agilidade, flexibilidade e sensibilidade. Profissões, disciplinas, tecnologias e técnicas nascem, crescem e morrem ao sabor da inovação. O portfólio de serviços de uma agência tornou-se uma obra aberta, interagindo com a realidade dos clientes que é cada vez mais complexa. A força disruptiva, agora tão famosa, deixa uma única certeza: tudo é e será impermanente.

Liderar em tempos de disrupção envolve pelo menos cinco desafios. Um deles é a despersonalização da agência. Caducou a ideia de um comando estelar, que sobrepuja a importância da empresa como um todo. Mentes brilhantes são essenciais, fazem toda a diferença, mas os pilares de um negócio são seus valores e seus processos. Além disso, o populismo corporativo (que exalta um nome e estilo profissional) restringe o leque de ideias e soluções.

Outro compromisso de um bom líder é forjar uma cultura organizacional pulsante, capaz de incorporar erros e acertos, visando o aprendizado contínuo de todos. Os avanços tecnológicos e os impactos dos grandes temas globais (diversidade, sustentabilidade e equidade) sobre a sociedade nos convocam a aprimorar a visão crítica, o senso ético e a atitude empática. Incentivar o aprimoramento profissional e seus resultados concretos é o caminho. A premiação por desempenho deve acontecer em todos os níveis da agência, e não apenas no topo.

Estratégia e execução, hoje, são instâncias que se misturam e modificam uma à outra, para responder às demandas da comunicação contemporânea. Em muitas situações, a execução remodela a estratégia

Um terceiro desafio é o envolvimento ativo das lideranças na operação da agência. Estratégia e execução costumam ser vivenciadas como duas etapas em sequência, sendo a primeira da alçada de líderes e a segunda, do time. Muitos gestores olham a implementação de uma ideia a partir do cume da montanha. O ambiente digital, por sua velocidade e capilaridade, não permite mais esse esquema rígido e vertical.

Estratégia e execução, hoje, são instâncias que se misturam e modificam uma à outra, para responder às demandas da comunicação contemporânea. Em muitas situações, a execução remodela a estratégia. O manejo eficiente de oportunidades e crises exige alto engajamento das lideranças em todo o percurso.

O quarto desafio é o estímulo ao intraempreendedorismo. Nunca houve tanto espaço para empreender. Com criatividade, persistência e ousadia, um designer ou redator consegue trabalhar e prosperar de modo independente. Manter essa chama acesa dentro da corporação é o que caracteriza o intraempreendedorismo. Graças a ele, é possível atrair talentos qualificados e ambiciosos e apoiá-los no crescimento dentro ou fora da agência.

Por último e não menos importante há o desafio da sucessão. Ninguém é eterno na vida corporativa, e também assim não deve se fazer parecer. A sucessão planejada de lideranças é um exercício saudável que torna as agências mais imunes às frenéticas mudanças do mercado e as obriga a construir uma atmosfera cultural própria indispensável para sua sustentação enquanto negócio.

*Crédito da foto no topo: Reprodução

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