10 dicas (comentadas) do The New York Times para 2020

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Opinião

10 dicas (comentadas) do The New York Times para 2020

Um bom ponto de partida para as empresas que acreditam no digital


2 de janeiro de 2020 - 6h00

(Crédito: Orbon Alija/istock)

O jornal The New York Times é tão contemporâneo (mesmo que o chamem de The Old Lady — A Velha Senhora) que mantém um laboratório de inovações formado por gente de várias áreas de atuação. Importante é ser ousado, diferente, aceitar que o mundo pode ser maior do que aquele globo terrestre das escolas. Jornalistas, pesquisadores, desenvolvedores e designers saíram em busca de 10 tendências para 2020, mantendo o foco na audiência, no ser humano que precisa de informações. É um bom ponto de partida para as empresas que acreditam no digital.

As 10 dicas estão aqui, com rápidos comentários para que os exemplos americanos sejam entendidos no Brasil.

1. O boca a boca segue sendo o motor da recomendação final: Nos Estados Unidos, estão caindo em descrédito as recomendações que os algoritmos fazem a partir dos hábitos de navegação do usuário. A grande maioria dos acessos ocorre porque um amigo ou familiar recomendou.

No Brasil: Não é bem assim. As recomendações pessoais são, sim, mais confiáveis. Mas o avanço de redes sociais populares como WhatsApp e Twitter fizeram com que a origem da recomendação não seja um familiar, amigo ou um algoritmo, mas robôs e personagens políticos que se utilizam de critérios pouco éticos para criar um inconsciente coletivo.

2. Criar conexões com os leitores através do conteúdo: Quando um conteúdo é forte, interessante, com aderência, as pessoas costumam viver o fato e precisam entendê-lo para interagir na sua bolha.

No Brasil: Exatamente igual. É preciso conhecer a última bobagem do ministro tal, saber as melhores ofertas do Black Friday e comentar as jogadas do ataque do Flamengo. Ou haverá uma distância de seu grupo.

3. A audiência quer histórias com um começo claro, um desenvolvimento e, o mais importante, um final: Isso explica a paixão que o povo tem por notícias policiais, por exemplo. Uma notícia em polícia costuma ter um final esperado (prisão de bandidos ou perseguição policial). Esse mesmo sentimento existe para as notícias em geral: é preciso saber contar histórias.

No Brasil: Alguns meios souberam apostar em grandes histórias. A revista Piauí, por exemplo. O problema das grandes histórias nos meios nacionais não é a história em si, mas o talento de quem a conta. Recentemente, o jornalista Chico Felitti escreveu a história do Fofão da Augusta no BuzzFeed. A repercussão foi tamanha que virou um belo livro. História bem contada, com início, meio e fim.

4. As pessoas cansaram das notificações automáticas: Os americanos estão trocando o “push” pelo assistente de voz “on demand”. Assim, conseguem descansar, uma vez que nenhum meio de comunicação no mundo pode personalizar ao extremo a necessidade informativa de cada cidadão.

No Brasil: A lógica ainda não foi virada. Os veículos seguem exagerando nas notificações, acreditando que isso é bom para o usuário. A queda acentuada é esperada para 2020.

5. Desconectar-se de redes sociais não significa sair por completo: Nos Estados Unidos, acontece o fenômeno da redução do uso de Facebook em celulares, por exemplo, bem como conexão no Instagram apenas aos fins de semana. É uma maneira de regular a utilização das redes sociais, permitindo que a vida real ganhe mais espaço do que a virtual.

No Brasil: Segue o crescimento da comunicação via redes sociais em todas as idades. Quem sabe essa tendência chegue à terra brasilis. Seria superbem-vinda.

6. A hora do dia influencia a seleção de conteúdo: Como na lógica da televisão, o hábito de consumo de informação varia de acordo com o horário, só que com outra regra. Notícias mais duras pela manhã, conteúdo mais relaxante à noite.

No Brasil: Grandes veículos como O Globo ensaiam a adoção dos “prime times”, embora a velocidade dos fatos, principalmente vindos de Brasília, tumultue a prática. Os breaking news ainda dominam as grades e quebram qualquer planejamento.

7. Os leitores querem transparência: A onda de fake news, que chegou a influenciar no resultado das eleições americanas, gerou uma audiência mais exigente. Já se discute muito a origem da informação e a veracidade dela, antes do compartilhamento.

No Brasil: Alguns movimentos de checagem de notícias estão ganhando adeptos. Mas ainda são poucos os que se preocupam em checar os fatos antes de sair passando adiante como se fosse verdade.

8. As pessoas querem espaços sociais mais dinâmicos: Menos informação para todos (que, em regra, não é exatamente a verdade em redes), mais conversas privadas. Os americanos preferem um comentário privado no Instagram do que um “like” no Facebook.

No Brasil: A tendência é universal. A febre de Facebook passou, as pessoas cansaram de ver travessuras dos filhos dos outros, animais domésticos em poses no mínimo estranhas e fotos de família em que parece que tudo funciona na base da harmonia intocável. Menos quantidade e maior profundidade. É a tendência.

9. Cada espaço é entendido como um espaço político: A audiência exige um posicionamento político de todos. Não assumir uma posição, por si só, já significa um ato político. Mas também é verdade que quem assume uma posição, em regra, é apoiado por alguns e escrachado por outros.

No Brasil: Exatamente igual. Os que defendem posições políticas perdem amigos de toda uma vida e ainda enfrentam dificuldades em família. No mundo polarizado, é preciso ter um posicionamento. Mas há um preço para isso.

10. A informação mais recente nem sempre é a mais relevante: O critério mais importante, para a audiência é a relevância, e não a ordem cronológica. Isso significa editar, editar e editar. Tomar a decisão de valorizar mais o que é realmente importante para o público.

No Brasil: Essa dicotomia existe também nos meios brasileiros, mas os grandes veículos sabem destacar o mais relevante, oferecendo ordem cronológica em listas paralelas.

Enfim, 2020 deverá ser de quem souber entender os fenômenos digitais, a mudança da comunicação de massa para a massa de comunicações, como costuma dizer o professor Rosenthal Calmon Alves. Mas há quem ainda não entendeu o digital como uma realidade (costumam dizer “é o futuro”). Esses estão perdendo tempo. E audiência. Ou seja, dinheiro.

**Crédito da imagem no topo: Bablab/istock

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