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Nossas convicções talvez não estejam assim tão firmes ou talvez estejam mais fortes que nunca, quem sabe, mas talvez elas durem apenas alguns segundos


20 de janeiro de 2020 - 8h04

(Crédito: Eoneren/istock)

Um sujeito qualquer anda solto na cidade. Ao virar a esquina, nota as latas de tinta organizadas num canto desocupado. As cores não são as suas, os bicos são diferentes, o espaço é desconhecido. Ainda assim, são irresistíveis e, sem pedir licença, vai tirando o que tem na mente e colocando no concreto. Sem pressa, sem atropelo. A dona do material, desafiada pela visita, interrompe o que está fazendo, traz um estêncil para perto e acaba dividindo a mesma quina de parede. Trocam algumas ideias e entram no jogo por alguns longos minutos. As imagens se misturam, se confundem, as narrativas se entrelaçam. Mundos diferentes, estilos diferentes, em choque momentâneo. Sem querer, sem planejar, inventam uma coisa nova. Ele segue em frente, ela continua o trabalho. O ano começa ali.

Neste exato momento, milhares de jovens ingressam na faculdade, conscientes (ou não) de que, em grande parte, vão exercer trabalhos que não existem hoje. Desde já, usam o talento para adaptar currículos defasados, inventar profissões, construir novos sistemas onde novas identidades possam fluir.

O Fórum Econômico Mundial afirmava, já em 2016, no relatório The Future of Jobs, que “em muitas indústrias e países, as profissões ou especialidades em maior demanda não existiam dez ou mesmo cinco anos atrás, e o ritmo da mudança vai acelerar.” O padrão não está restrito às profissões tradicionalmente criativas, mas espalhado praticamente em todas as áreas profissionais. Um reflexo da nossa cultura, do nosso momento. Educados na prática e na marra para o exercício da criatividade plena, constante, inegociável, esses jovens são a conexão possível entre os vários mundos emergentes.

Neste mesmo instante, para todo lado que se olhe, empreendedores visionários desenvolvem companhias potencialmente gigantes sobre premissas praticamente desconhecidas. Onde tudo é uma novidade disruptiva, a velocidade e a proporção de crescimento também são novos: o ciclo de vida de uma empresa no índice S&P 500, hoje perto de 20 anos, é um terço da expectativa de 50 anos atrás. De acordo com o relatório “2018 Corporate Longevity Forecast: Creative Destruction is Accelerating”, da Innosight, metade das companhias ali listadas estariam sendo substituídas neste exato momento.

As chances de um profissional, em qualquer fase da carreira, acabar trabalhando para uma grande empresa que ainda está para nascer, são consideráveis. Cada uma dessas empresas recém-nascidas está construindo experiências, histórias, relações e marcas inéditas. Com tanto espaço para criatividade, o mercado de ideias vive um momento de alto impacto. Da campanha brilhante à experiência perfeita, as oportunidades criativas dentro do ecossistema vão muito além da comunicação.

Exatamente agora, criamos modelos que respondem a demandas de negócio praticamente desconhecidas. Exatamente agora, criamos ambientes e culturas que acolhem novas formas de criatividade brotando em escala. Dezenas de novos empreendimentos e negócios reinventados prosperam no ambiente da desconstrução da propaganda e do marketing. Muitos deles crescendo, no valor e no impacto cultural, em proporções desiguais a muitas empresas maduras e de grande legado. Uma indústria inteira usando sua melhor chance de expandir escopos, suavizar relações, incluir culturas, diversificar pontos de vista.

Neste exato momento, as nossas convicções talvez não estejam assim tão firmes. Ou talvez estejam mais fortes que nunca, quem sabe, mas talvez elas durem apenas alguns segundos. Se, nos anos passados, a transformação nos tirou a segurança, por outro lado nos trouxe perspectivas renovadas. Mundos diferentes nascendo neste momento, em choques sistemáticos. As imagens se misturam, as narrativas se entrelaçam. Momento perfeito para quem não vê problemas em desaprender e aprender tudo de novo.

**Crédito da imagem no topo: Eoneren/iStock

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