Um mundo sem esportes

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Opinião

Um mundo sem esportes

Recuperação será mais rápida porque a demanda reprimida será compensada por uma abundância como nunca vimos


4 de maio de 2020 - 14h10

(Crédito: Obayada PH/Unsplash)

Nas últimas semanas, assistimos todos os eventos esportivos serem cancelados ou adiados. Alguns resistiram mais do que outros para decidir, mas, no final, todos sucumbiram ao vírus. Não havia como manter os planos originais de organizar eventos sem expor atletas e fãs a um risco desnecessário de contaminação.

Em um momento onde a sociedade tenta resolver um problema comum e muito mais sério que a ausência do esporte, discutir as implicações da crise para um campeonato de futebol, para os Jogos Olímpicos ou a temporada de Fórmula 1 parece algo fútil.

Parece, mas não é.

O ecossistema do esporte é amplo. Inclui emissoras de televisão, patrocinadores, ligas, clubes e atletas, só para citar alguns dos mais diretamente envolvidos. Um mundo sem esportes, mesmo que só por alguns meses, tem consequências negativas bastante reais para todos eles. Alguns sofrerão mais do que outros, mas nenhum passará ileso por 2020.

A indústria da mídia sofrerá.

A maioria das receitas do esporte vem dos contratos de mídia. Essas empresas investem muito na aquisição dos direitos exclusivos para a transmissão de eventos ao vivo. As audiências geradas pelo esporte, maiores do que qualquer outro tipo de programação, são uma ferramenta importante para aumentar suas receitas publicitárias. Sem esporte, não há audiência. Sem audiência, não há o mesmo faturamento.

Os patrocinadores sofrerão.

Quem assinou contratos de patrocínio contando com a exposição de sua marca, acesso aos eventos e a possibilidade de fazer promoções para seus consumidores e clientes acaba de ficar sem assunto. Muitos já haviam produzido suas campanhas e se comprometido a investir em projetos que não acontecerão mais. Uma boa parte dos investimentos globais em patrocínios, estimados em mais de US$ 65 bilhões em 2018, que não gerarão os resultados esperados este ano.

As ligas e os clubes sofrerão.

Com jogos suspensos, não há receitas de bilheteria, televisão, restaurantes e lojas de produtos licenciados. Todas as fontes que sustentam o futebol foram atingidas de uma só vez deixando os clubes sem muitas opções. A maioria renegocia os seus contratos com jogadores e suas dívidas com os bancos nesse momento.

Os atletas sofrerão.

Com seus patrocinadores e empregadores em dificuldades financeiras, muitos atletas viram seus contratos de patrocínio e de trabalho cancelados. Além de não ter as condições normais para treinar, muitos ainda vivem a incerteza de quando virá seu próximo pagamento. O caminho para a Olimpíada de Tóquio não será fácil para muitos deles. Ainda há uma infinidade de consequências nas indústrias beneficiadas indiretamente pelo esporte como a hoteleira, aviação, de prestadores de serviço como as agências de eventos, de transporte etc.

Apesar de tudo parecer ir de mal a pior nesse momento, acredito que a recuperação do esporte será mais rápida que a maioria dos setores da economia e que a indústria sairá fortalecida dessa crise. A demanda reprimida nestes meses de abstinência de esportes ao vivo será compensada por uma abundância como nunca vimos.

Nos últimos meses deste ano e durante 2021 e 2022, teremos alguns dos mais importantes e aguardados eventos esportivos do mundo. Serão dois Jogos Olímpicos, de verão em Tóquio e de inverno em Pequim, a Copa do Mundo da Fifa no Catar, finais da Liga dos Campeões da Europa, Copa América e mundiais da maioria dos esportes olímpicos. Isso sem contar a volta dos campeonatos nacionais e internacionais de futebol.

As empresas de mídia sairão mais fortes da crise porque, na falta de eventos ao vivo, descobriram o valor dos conteúdos históricos, como o excelente trabalho que a Rede Globo tem feito com as Copas do Mundo. Além disso, perceberam que podem produzir e transmitir eventos de forma mais ágil, remota e barata.

Atletas de todos os esportes, forçados pelo confinamento, sairão mais fortes da crise porque investiram na comunicação com seus fãs por meio das mídias sociais tornando-se verdadeiras plataformas de comunicação com grande potencial para marcas patrocinadoras.

Patrocinadores sairão mais fortes da crise porque terão acesso a muitas oportunidades e de um interesse dos fãs ainda maior do que no período pré-Covid-19. Muitos ainda se beneficiarão das plataformas e eventos digitais que criaram durante estes meses. Podcasts e lives não acabarão com a crise. Ao contrário; crescerão e criarão oportunidades de receitas para patrocinadores e geradores de conteúdo.

A maioria dos problemas que a indústria do esporte está enfrentando são de curto prazo. Não há vírus que acabe com a paixão dos torcedores pelo seu esporte favorito e dos consumidores pelas marcas envolvidas com ele.

*Crédito da foto no topo: Lesly Juarez/ Unsplash

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