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Opinião

Data, performance, borboletas & pandemias

Tudo tem que ser bem planejado, mesmo sabendo que, num momento como esse, a chance de um plano dar certo é quase nula


20 de maio de 2020 - 12h25

(Crédito: Hakinmhan/ iStock)

Muita coisa mudou em três décadas. Era mais fácil naquela época você criar uma agência, do nada. Poucas alternativas.

Os clientes trabalhavam com o estômago e não com informação. As agências também. Sabíamos que estávamos no caminho certo porque a gente se arrepiava com uma puta ideia. Os clientes também.

A gente andava pelos corredores dos clientes ouvindo anseios e medos e voltava dias depois com ideias que arrancavam sorriso e emoção, antes mesmo de elas irem para a rua. Naquela época, tínhamos talentos que sabiam que seriam remunerados se viessem com uma ideia pra lá de inovadora. E, na época do pré-Google, inovação dava em árvore. O tempo foi passando. Informação começou substituir o frio na barriga. Afinal, era mais fácil culpar a informação mal interpretada do que um feeling mal compreendido. Acontece que o mercado foi mudando e as agências, não.

Alguém achou um jeito de planilhar o subjetivo e criaram pontuação para avaliar a sacada. Muitas opções surgiram, especializaram as especializadas e, para organizar a bagunça, foi necessário trazer para sala a mesa de compras.

O modelo mudou de um lado, mas não mudou do outro. Gente contratada, trabalhando para projetos não aprovados. Riscos aumentando. Margens diminuindo. E agências passaram a ficar mais preocupadas em fechar a conta do que criar a ideia. Daí, inventaram o fee. Esticaram a corda e a data do purgatório. O fim desta história era certo e trágico.

Até que veio a pandemia. Quase que uma ajuda divina nos dando licença para matar o sistema. Voltamos para década de 1980, com as ferramentas de 2020.

Todo mundo voltou às origens e trouxemos de volta as borboletas no estômago. Muitas ideias surgindo e sendo implementadas num único hangout. Ferramentas foram deixadas de lado e o “think about it” deu lugar ao “just do it”. Ideias muito parecidas, criadas ao mesmo tempo, mas, em terra de data & performance, quem lança primeiro é rei. Todo mundo está fazendo live, mas sabemos quem fez primeiro. Todo mundo ajudando o varejo, mas todo mundo lembra quem deu o primeiro passo.

E, já que o mundo mudou, peço licença para mudar também. Não é fácil, mas não é impossível. Derrubar padrões, vícios, paredes e modelos. Às vezes, é mais fácil construir do zero do que fazer uma reforma.

A forma de pensar, criar, trabalhar, cobrar, contratar. Os cargos, nomes, perfis, talentos. O tipo de entrega. Sai o keynote e entra o paper. Qualquer ideia é ideia. E a sua forma pouco importa, desde que mexa o ponteiro. Os heróis dão espaço para a colaboração. Dividem-se as tarefas, o mérito e a grana.

Já sei o que eu não quero. Não quero trabalhar de graça. Não quero vibrar quando sou convidado para participar de uma concorrência com quatro agências. Não quero trabalhar agora e receber no ano que vem. Não quero me preocupar com o custo da agência, e sim com o valor de uma bela ideia. Não quero rotular as entregas. Não quero ser avaliado pelo meu preço, e sim pelo meu valor. Não quero seguir os modelos que me guiaram nos últimos 33 anos. Funcionou , mas não quer dizer que vai funcionar.

E, de volta ao Brasil, quero provar para mim mesmo que dá para fazer aqui o que eu vi acontecendo ali.

Isso me dá certa ideia do que eu quero. E onde quero chegar. Mas saber o momento certo de fazer a carroça ultrapassar os bois é o grande desafio. Tudo tem que ser bem planejado, mesmo sabendo que, num momento inédito como esse, a chance de um plano dar certo é quase nula. Por isso, melhor me inspirar nas borboletas e deixá-las me guiar, pelo estômago.

*Crédito da foto no topo: Josh Rose/ Unsplash

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