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Opinião

O sommelier de vacina e outros sintomas

Crise sanitária gerou uma crise de comunicação e todos que puderem colaborar para minimizar o estrago causado pela desinformação são bem-vindos


13 de julho de 2021 - 13h08

(Crédito: Nordroden/istock)

De uma hora para outra, o brasileiro, que sempre teve um técnico de futebol dentro de si, colocou para fora também a sua “persona” médico. Na verdade, ela sempre esteve ali, indicando um remedinho ou outro para amigos, parentes ou quem quer que parecesse doente. De comprimidos para dor de cabeça e gases a dietas revolucionárias e tratamentos alternativos para câncer, são indicados um pouco de tudo. E agora, com a pandemia da Covid-19, o que já era grave se tornou ainda pior, escancarando, além da crise sanitária, uma crise de comunicação.

Seja por falta de conhecimento ou qualquer outra motivação, as orientações sobre o uso de medicamentos nesse momento têm quebrado todos os protocolos de cuidado com a saúde. Enfrentando um cenário que, apesar de parecer novo, sempre foi o movimento em tudo sobre saúde – no qual estudos, pesquisas, medicamentos e vacinas estão sendo desenvolvidos, avaliados e ajustados –, as pessoas vão se deixando tomar pela ansiedade, pela necessidade de passar adiante informações que elas acham que podem ser milagrosas e, assim, desrespeitam cuidados básicos que podem comprometer não só a saúde de quem elas indicam esses medicamentos, como de uma coletividade.

Recentemente, um dos problemas que mais tem chamado a atenção é o denominado sommelier de vacinas. Com mais de meio milhão de mortes no país provocadas pelo vírus da Covid-19, o alto risco de infecção e, muitas vezes, até uma condição de saúde que requer imunização imediata, há quem queira escolher qual vacina tomar, porque ouviu ou recebeu uma mensagem de alguém dizendo que uma vacina funciona melhor do que a outra, que uma permite realizar viagens para o exterior, que a outra causa mais reação, e assim por diante.

Comparando ao exemplo do técnico de futebol que vive dentro de muitos de nós, ao contrário de opiniões que interferem basicamente em um bolão de apostas e discussões entre torcedores, esse achismo tem levado pessoas e mais pessoas à morte. A necessidade de se falar de saúde de forma apropriada, com conhecimento dessa cadeia, baseada em ciência e nos protocolos que sempre nortearam as melhores práticas médicas, precisa urgentemente ser reforçada entre todos, sejam profissionais da área ou não. Não se trata apenas da comunicação de medicamentos. Todas as marcas interessadas em atuar em um ambiente mais saudável necessitam se manter alertas sobre como podem contribuir para isso.

Então, todos que puderem colaborar para minimizar o estrago causado pela desinformação são bem-vindos. Para isso é preciso entender sobre a “jornada da doença” que está causando esses sintomas. Claramente as fake news são o principal “vírus” e já sabemos que teremos de conviver com esse problema crônico. As demais “cepas” seguem aparecendo e são perigosas: tratamento sem comprovação científica, uso de informações truncadas para ganhar cliques, comunicação sem conhecimento dos protocolos de divulgação de informações médicas, e por aí vai. Lembrem-se que estamos falando de um segmento de grande regulamentação.

Mas, assim como asma, diabetes ou outras doenças que podem ser muito bem controladas, tanto as fake news quanto outras mensagens equivocadas que geram comportamento de risco podem ser combatidas. Para isso, precisam de doses contínuas de informação correta, consistente, com base científica, e trabalhadas massivamente por formadores de opinião, marcas e veículos de comunicação.

O importante é que todos estejam atentos sobre como podem colaborar para ajudar a conter essa epidemia de desinformação tão danosa. Nesse contexto, do mesmo jeito que usamos o futebol para tantas referências de comunicação e publicidade, também podemos trazer o assunto saúde mais para perto. A diferença é que para falar com o sommelier de vacina e outros fanáticos por consumo de conteúdo médico, independentemente de qualquer coisa, é preciso manter no briefing o próprio tema como o objetivo final. E aí entra a nossa grande obrigação: democratizar a informação de saúde.

*Crédito da foto no topo: pexels-francesco-ungaro-281260

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