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Opinião

Eu e tu

Entre o "você e eu" e o "tu e eu", existe uma diferença de dois palmos mais perto para o lado do "tu"


5 de agosto de 2022 - 11h27

(Crédito: nunbun/Shutterstock)

Há coisas que para serem ditas precisam ser pronunciadas na tua língua-mãe, naquilo que te conecta com o mais profundo da tua existência. A minha língua-mãe tem cheiro, tem cor, tem sotaque. É do lugar em que a língua é origem-raiz, o lugar da língua do tu: o Pará.

Sim, eu sou do Pará, do Norte desse nosso Brasil. Essa forma de falar “diferente” já te chama para um papo mais próximo, já te conecta para mais perto. Entre o “você e eu” e o “tu e eu”, existe uma diferença de dois palmos mais perto para o lado do tu.

A conjugação é na segunda pessoa do singular, é um papo reto. Não é você, não somos nós, não são vós, és tu. Eu e tu numa prosa.

São tantas as coisas que te distanciam. De dois em dois palmos, tu ficas cada vez mais longe das pessoas.

Toda vez que falo em português paraense, sinto uma estranheza em quem ouve, e acabo me ajustando à língua do português do “você”. É como ser estrangeiro no seu próprio país. Um momento de adequação que se ajusta à maioria. Mas como falar com a alma numa língua que não é a tua língua-mãe? Quantas vezes tu trocas de identidade para pseudo te aproximar? Que falsa proximidade é essa que na verdade te joga para longe de ti?

Tu fazes isso mais vezes que tu pensas.

Tu fazes isso sem nem perceber. Quando tu te vestes para te adaptar, quanto tu repetes o que as pessoas dizem. Quando tu te calas quando tinhas uma opinião, em qualquer uma dessas e em outras circunstâncias, tu abres mão da tua identidade.

E o que te apazigua? O que te dá paz?

Primeiro, uma pausa para apreciar o encantamento de algumas palavras do teu vocabulário: “apaziguar” é uma palavra que vem trazendo a paz como água. Que beleza de palavra. Já traz mais dois palmos para perto. Esquenta.

E o que te apazigua? O que te trás paz para falar com a alma?

O que precisa esquentar dentro de ti para te trazer para uma vontade imensa de te revelar? Quando tu te revelas, quando tu estás falando com essa energia central, única e tua, vens para tão perto que não tem nem dois palmos entre a minha alma e a tua.

E aí, senhor e senhora Tu, eu convido Tu e Tu para chegarem mais perto sempre. É desse lugar, o da alma, que a língua da verdade nos aproxima.

E ai, senhora Tu, vou fazer um recorte especial para falar contigo. Tantas vezes nos revestimos, nos encapamos, nos escondemos e por todos os porquês que nos justificam, vamos ficando mais longe de nós mesmas.

Então o meu convite, senhora Tu, é que possamos encontrar a nossa língua. Qual é a tua língua, qual é a tua verdade? O que te faz ser Tu, a Sra. Tu — única, real, bela, forte e conectada com todos que se aproximam a menos de dois palmos da tua alma?

A força da beleza de ser quem és, que sentes sendo Tu.

E, para fechar mais uma vez, uma oração de desejo:

Que Tu sejas bela,

Que Tu sejas real,

Que Tu sejas única,

Que tu sejas Tu.

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