Taís Farias
1 de julho de 2025 - 6h00
A segunda edição do estudo “O Futuro da Gestão da Inovação” da consultoria Inventta em parceria com a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, Cubo Itaú, Fundação Dom Cabral, Ecossistema Inova e CPQD, aponta que o momento atual seria um ponto de virada na inovação corporativa e aberta brasileira.

No ano passado, Nestlé lançou o programa de intraempreendedorismo Panela Transforma, em que os colaboradores podem propor ideias de crescimento, eficiência, novos produtos e serviços e ESG (Crédito: Divulgação/ Nestlé)
Ao todo, o levantamento entrevistou 222 pessoas que são, em sua maioria, gestores e líderes com alto envolvimento com o tema da inovação em suas respectivas companhias. O estudo cita empresas descontinuando áreas de inovação e fundos de corporate venture capital perdendo espaço nas agendas estratégicas.
Nos resultados da pesquisa, a principal mudança está no objetivo da inovação. Quando precisaram apontar os principais objetivos estratégicos da inovação em suas companhias, a eficiência foi citada por 64% dos respondentes. Ela é seguida pelo crescimento (45%) e a diversificação (42%), na terceira posição.
Aqui, o levantamento aponta uma inversão na comparação com a edição anterior, realizada em 2023. Na época, o crescimento era o objetivo mais citado e a eficiência operacional aparecia na segunda posição.
Já os principais desafios da inovação se mantiveram os mesmos entre a primeira e a segunda edição do estudo e ajudam a explicar o foco na eficiência.
Entre os 16 desafios identificados, a pressão por resultados no curto prazo é mais citada, sendo elencada por 46% dos respondentes. Depois, aparecem o orçamento (41%), o tempo (40%), a aversão ao risco (37%) e o engajamento (37%).
Expansão versus otimização
Para Andrea Dietrich, consultora em transformação digital e cultura, sócia fundadora da Didietricha, o momento é de uma recalibragem das agendas de inovação. “Após uma década de entusiasmo com laboratórios de inovação, hubs em ecossistemas e programas de inovação aberta, estamos vendo um movimento claro de revisão crítica da efetividade dessas iniciativas, com um redirecionamento mais para dentro do que para fora”, aponta a executiva.
O contexto ajuda a explicar. De um lado, há uma volatilidade macroeconômica com alta na inflação global, conflitos geopolíticos e cadeias de suprimentos fragilizadas. De outro, a dinâmica organizacional é marcada por pressão nos conselhos e investidores por rentabilidade e o avanço da inteligência artificial que questiona os modelos mentais e de inovação.
Os executivos concordam que há um movimento do mercado em direção à otimização e eficiência. “O destaque do estudo de que a eficiência operacional é um dos objetivos principais de inovação reflete uma tendência de buscar sustentabilidade e resiliência em um ambiente empresarial desafiador”, aponta Fábio Criniti, diretor de TI no Grupo Heineken.
De acordo com o executivo, essa observação se alinha com o posicionamento da companhia por meio de iniciativas de automação de processos e simplificação que pretendem reduzir custos e aumentar a produtividade.
O diretor de tecnologia e inovação do GPA, Emerson Facunte, por sua vez, encara o destaque da eficiência operacional como um indicativo de maturidade do mercado. “Não se trata mais apenas de ‘inovar por inovar’, mas de inovar para gerar impacto tangível nos resultados. Esse movimento reflete um cenário de negócios que busca otimização em larga escala, onde cada real investido em inovação precisa ter um retorno claro”, define Facunte.
Para a cofundadora da consultoria Ambidestra, a priorização da eficiência como principal objetivo da inovação indica que as companhias estão operando sob uma mentalidade de proteção e racionalização e não de expansão que, de acordo com a executiva, seria essencial para a sobrevivência dos negócios.
“Isso é reflexo direto do ambiente econômico global instável e do cansaço com projetos de inovação que não entregaram valor tangível”, explica Dietrich. Em contrapartida, a head de inovação da Nestlé Brasil, Priscila Freitas, argumenta que eficiência e expansão não são, obrigatoriamente, forças contrárias.
“Quando falamos em um objetivo principal para a inovação, penso que esse precisa ser o compromisso incansável em atendermos melhor os consumidores, clientes e sociedade, o que inclui antecipar necessidades, e aprimorar processos continuamente. Nesse sentido, o pilar de eficiência não é uma contradição ao foco em crescimento ou a exploração de novas oportunidades, pois sermos eficientes viabiliza investimento nas nossas iniciativas estratégicas”, aponta Freitas.