Women’s Music Event quer criar festival com line up feminino
Monique Dardenne, co-fundadora da plataforma, avalia evolução das mulheres na indústria fonográfica e anuncia planos de expansão da marca
Women’s Music Event quer criar festival com line up feminino
BuscarWomen’s Music Event quer criar festival com line up feminino
BuscarMonique Dardenne, co-fundadora da plataforma, avalia evolução das mulheres na indústria fonográfica e anuncia planos de expansão da marca
Thaís Monteiro
21 de março de 2019 - 6h39
Em 1967, quando reinterpretou a letra de Respect, de Otis Redding, exigindo respeito às mulheres,Aretha Franklin fez história lançando uma das primeiras canções populares com teor feminista. Não por acaso, a artista, falecidaa em agosto de 2018, foi homenageada no Grammy 2019 por Fantasia, Andra Day e Yolanda Adams. Ela foi uma das primeiras a abrir as portas para que diversas artistas usassem sua voz para defender os direitos e liberdades das mulheres na sociedade. Mas na indústria fonográfica, a história é outra.
Um estudo realizado pela Universidade do Sul da Califórnia divulgado em 2018 apontou que 22,4% dos 1.239 artistas no top 100 da Billboard, de 2012 a 2017, eram mulheres. Fora dos palcos, o buraco é mais embaixo. Dos 2.767 compositores, 12,3% são do gênero e, na produção, elas representam apenas 2% das 300 músicas em que há mulheres na produção.
O destaque feminino no mercado da música
É por conta de números como esses que, em 2017, a jornalista Claudia Assef e a produtora Monique Dardenne se uniram para criar a plataforma Women’s Music Event, cujo intuito é “abrir espaço para mostrar todo esse esforço das mulheres dentro da cadeia da indústria musical, desde as compositoras até as técnicas de som, desde as empresárias até as artistas em si”, disse Cláudia em entrevista ao Meio & Mensagem. Além da conferência homônima que já vai para sua terceira edição, Claudia e Monique já estudam a realização de um festival com line up composto 100% por mulheres em 2020.
Por ora, a conferência ocorre dias 22 e 23 de março, em São Paulo, contando com 17 shows, 15 painéis, oito workshops, shows nas ruas e projetos como o Pitch dos Estados, atividade em que produtoras culturais de seis estados brasileiros proporcionam uma imersão pela cena musical de suas regiões. Há também o Discografia WME, painel apresentado pelo Spotify em que Karol Conka, Julia Branco, Luiza Lian e Maria Rita Stumpf desvendam os processos construtivo de seus mais recentes álbuns, incluindo produção, parcerias e ações de marketing.
Mas a ambição é ir além. Monique diz que o festival em projeção seria pioneiro: “Ainda estamos no planejamento. É nossa ambição e maior desafio. Ainda não existe um festival no mundo com grande relevância com esse recorte”. No momento, a dupla está em busca de parceiros comerciais para viabilizar o evento. O WME já tem uma premiação Women’s Music Event Awards, realizada pela Music 2! desde 2017, que homenageia mulheres da indústria, inclusive dos bastidores.
Para este ano, a plataforma planeja lançar um aplicativo com seu banco de profissionais da área para facilitar o cadastro das mulheres interessadas em ter seus currículos na coletânea e auxiliar empresas interessadas. O lançamento contará com apoio de uma marca ainda não divulgada.
Ao Meio & Mensagem, Monique avaliou a evolução da representatividade de gênero na indústria da música.
Meio & Mensagem – Você trabalha com música há mais de dez anos. A presença de mulheres na indústria musical mudou nesse período?
Monique Dardenne – Estou no mercado há 15 anos. Quando comecei, as mulheres na música trabalhavam no escritório cuidando de contratos e das logísticas. Como DJs elas não tinham muito espaço. Quem negociava os artistas ou estavam na frente das agências eram homens. Nos últimos cinco anos, com a nova era do feminismo — que chamam de Era de ouro do feminismo –, , as coisas começaram a de fato acontecer, mudar. Não foi exatamente por conta disso, mas quando movimentos que denunciavam assédios como o #MeuAmigoSecreto surgiu, as mulheres começaram a se abrir mais, pegar confiança umas com as outras e em várias áreas começaram a acontecer movimentos. Não só o da música, mas o de publicidade e outros.
Quando eu trabalhei no Boiler Room (webtv inglesa voltada à música), eu lancei 60 artistas e duas mulheres. Era muito difícil encontrar mulheres na indústria musical. Aí tive esse clique e criei um grupo no Facebook chamado “Mulheres na Música” para conhecer quem são elas e abrir conexões. Hoje tem 2 mil mulheres nesse grupo. Mas, de forma geral, já vemos mudanças. Os line-up de festivais já têm mais mulheres. Hoje não é cabível um festival de música sem artistas mulheres. Ainda assim, a representatividade em cima do palco é muito boa, então não lutamos só para a mulher artistas e sim a técnica, quem está nos bastidores, nas gravadoras.
Quais fatores têm motivado essa mudança?
A conscientização da mulher. Esse movimento de realizar que, se não estamos juntas, não vamos para frente. O vencer de uma é o vencer de todos. Se temos mulheres na liderança, temos mulheres para puxar outras mulheres. Eram pouquíssimas mulheres como referência na área. Agora temos um boom de referências. A minha filha vai colher muito mais frutos do que eu e assim por diante. Quem sabe daqui um tempo o WME não precise mais ter apenas mulheres e possamos incluir os homens também? Quem sabe vire People’s Music Event? Mas para isso acontecer precisamos ainda caminhar muito. A equiparação entre homens e mulheres precisa estar bem equilibrada, o que ainda vai demorar muito.
Estima-se que 5% dos profissionais de áudio são mulheres. Há profissões com maior representatividade feminina?
Acredito que em cima do palco temos uma representatividade muito boa, assim como na produção dos eventos. Faltam mulheres na parte executiva do negócio. Gravadoras são controladas por homens, assim como a parte técnica dos eventos, na mesa de som. A Mahmundi (nome artístico da carioca Marcela Vala) era técnica de som do Circo Voador. Também temos que valorizar mulheres compositoras.
Quais mercados no mundo são mais diversos nessa indústria?
A indústria ainda é muito masculina. Mas eu acredito que estamos muito avançados no Brasil. Empresas e outras conferências estão se mobilizando. Temos um braço em Portugal, por exemplo, onde ainda nem se fala sobre o assunto.
O que ainda precisa mudar?
Temos que continuar o movimento: mulheres buscando respeito com o trabalho do jeito como estamos fazendo. Temos que ocupar o espaço com nossa potência. A ideia não é tornar o quadro de funcionários 100% feminino, mas sim equalizar. É um trabalho de formiguinha. Você abre a cabeça de um e de outro. O evento está crescendo todo ano porque as mulheres se sentem representadas. Nós falamos das mulheres da periferia, das negras, da terceira idade, das trans. Queremos tornar cada vez mais inclusivo.
É o terceiro ano da conferência. Qual é sua avaliação do projeto?
O WME é nosso sonho de mudança e estamos sentindo essas mudanças. Mas o projeto não é uma coisa só minha e da Cláudia. Há um interesse maior das mulheres de se profissionalizar e se sentir à vontade nos ambientes. Temos feito campanhas para festivais colocarem mulheres na parte técnica. A conferência já está sendo considerada um evento de negócios. Você não vai para lá só para falar com a mulher do lado, mas para se profissionalizar.
**Crédito da imagem no topo: Spencer Imbrock/Unsplash
Compartilhe
Veja também
Prefeitura de São Paulo interrompe projeto do “Largo da Batata Ruffles”
Administração Municipal avaliou que a Comissão de Proteção à Paisagem Urbana precisa dar um parecer sobre o projeto; PepsiCo, dona da marca, diz que parceria é de cooperação e doação e não um acordo de naming rights
Natal e panetones: como as marcas buscam diferenciação?
Em meio a um mercado amplo, marcas como Cacau Show, Bauducco e Dengo investem no equilíbrio entre tradição e inovação, criação de novos momentos de consumo, conexão com novas gerações, entre outros